Luís Rocha escreve no DN/Madeira de hoje:
Jacinto Lucas Pires já visitou várias vezes a Madeira, mas esta é a primeira vez que participa na Feira do Livro do Funchal. Ontem, em entrevista ao DIÁRIO, dava conta das suas experiências positivas em certames deste tipo, pela oportunidade de interacção entre o autor e o leitor.
Estas 'festas literárias' são uma oportunidade rara para um escritor "esclarecer as dúvidas do público, espiá-lo, perceber as reacções - um pouco como um actor pode fazer em tempo real, apercebendo-se das gargalhadas, dos silêncios..." Ontem, deu autógrafos no 'stand' da FNAC, na Feira: hoje, pelas 17 horas, mantém uma conversa com o público interessado, no Pavilhão dos Autores.
Lucas Pires admite que escrever, tal como ler, é sempre um exercício solitário. "Mas eu preciso destes momentos, de perceber que não estou a escrever no vazio", confessa. Compreender as diferentes perspectivas dos leitores sobre as suas obras é importante. "Eu não consigo escrever para a expectativa das pessoas, mas também sem esse diálogo, sentir-me-ia demasiado perdido". O autor portuense, nascido em 1974, intervém criativamente numa multiplicidade de áreas: tem uma dezena de livros publicados, escreveu textos de teatro, crónica, argumentos de curtas metragens... Fez residências literárias em Nova Iorque e, também na 'Big Apple', frequentou a New York Film Academy, tendo realizado obras cinematográficas. Não se ficando por aí, fez incursões na música. Essa multidisciplinaridade reflecte-se na sua visão do mundo e na universalidade, e num certo carácter fragmentário da vida e das pessoas que reflecte na sua criação, conforme aceita. Mas diz: "Não me sinto um artista multifuncional... De uma maneira ou de outra, é sempre o ofício da palavra e da escrita que prevalece, embora obedecendo a convenções, a regras e mesmo a linguagens muito diferentes", consoante a área em questão.
Para o escritor, o conto é um género que cultiva, de predilecção: mas o romance é também "um lugar de máxima possibilidade, em que se podem usar todas essas regras, esses ensinamentos das diferentes áreas, e em que se pode misturar o discurso interior, o monólogo do tipo teatral, os diálogos mais cinematográficos, se quisermos, e as passagens descritivas externas. Mas isso acontece-me naturalmente".
Jacinto Lucas Pires estranha a existência de autores "separados do mundo em vivem", escrevendo romances numa espécie de redoma isoladora da contemporaneidade... E que, ao contrário dos artistas plásticos, conscientes do lastro histórico que arrastam atrás de si, certos escritores escrevam por vezes como se nunca tivéssemos já passado pelo romantismo ou pelo neo-realismo.
"A literatura tem de acompanhar o tempo. A TV, a Internet, os telemóveis, as mensagens SMS fazem parte das nossas vidas. Não se pode fingir que nada disso existe, só porque isso é, supostamente, pouco literário".
Jacinto Lucas Pires já visitou várias vezes a Madeira, mas esta é a primeira vez que participa na Feira do Livro do Funchal. Ontem, em entrevista ao DIÁRIO, dava conta das suas experiências positivas em certames deste tipo, pela oportunidade de interacção entre o autor e o leitor.
Estas 'festas literárias' são uma oportunidade rara para um escritor "esclarecer as dúvidas do público, espiá-lo, perceber as reacções - um pouco como um actor pode fazer em tempo real, apercebendo-se das gargalhadas, dos silêncios..." Ontem, deu autógrafos no 'stand' da FNAC, na Feira: hoje, pelas 17 horas, mantém uma conversa com o público interessado, no Pavilhão dos Autores.
Lucas Pires admite que escrever, tal como ler, é sempre um exercício solitário. "Mas eu preciso destes momentos, de perceber que não estou a escrever no vazio", confessa. Compreender as diferentes perspectivas dos leitores sobre as suas obras é importante. "Eu não consigo escrever para a expectativa das pessoas, mas também sem esse diálogo, sentir-me-ia demasiado perdido". O autor portuense, nascido em 1974, intervém criativamente numa multiplicidade de áreas: tem uma dezena de livros publicados, escreveu textos de teatro, crónica, argumentos de curtas metragens... Fez residências literárias em Nova Iorque e, também na 'Big Apple', frequentou a New York Film Academy, tendo realizado obras cinematográficas. Não se ficando por aí, fez incursões na música. Essa multidisciplinaridade reflecte-se na sua visão do mundo e na universalidade, e num certo carácter fragmentário da vida e das pessoas que reflecte na sua criação, conforme aceita. Mas diz: "Não me sinto um artista multifuncional... De uma maneira ou de outra, é sempre o ofício da palavra e da escrita que prevalece, embora obedecendo a convenções, a regras e mesmo a linguagens muito diferentes", consoante a área em questão.
Para o escritor, o conto é um género que cultiva, de predilecção: mas o romance é também "um lugar de máxima possibilidade, em que se podem usar todas essas regras, esses ensinamentos das diferentes áreas, e em que se pode misturar o discurso interior, o monólogo do tipo teatral, os diálogos mais cinematográficos, se quisermos, e as passagens descritivas externas. Mas isso acontece-me naturalmente".
Jacinto Lucas Pires estranha a existência de autores "separados do mundo em vivem", escrevendo romances numa espécie de redoma isoladora da contemporaneidade... E que, ao contrário dos artistas plásticos, conscientes do lastro histórico que arrastam atrás de si, certos escritores escrevam por vezes como se nunca tivéssemos já passado pelo romantismo ou pelo neo-realismo.
"A literatura tem de acompanhar o tempo. A TV, a Internet, os telemóveis, as mensagens SMS fazem parte das nossas vidas. Não se pode fingir que nada disso existe, só porque isso é, supostamente, pouco literário".