domingo, 30 de dezembro de 2007

Cinema (IV) - Eu Sou a Lenda



Título original: I Am Legend
Produtor: Warner Bros Pictures
Realizador: Francis Lawrence
Com: Will Smith, Salli Richardson, Alice Braga, Thomas J. Pilutik
Género: Acção Drama Ficção Científica
Classificacao: M/12
Origem: EUA
Ano: 2007
Duração: 95 min.
Site Oficial: http://www.iamlegend.com

Robert Neville (Will Smith) é um brilhante cientista, mas nem mesmo ele foi capaz de conter o terrível vírus que era imparável, incurável e criado pelo homem. Por algum motivo imune ao vírus, Neville é agora o último ser humano sobrevivente do que resta da cidade de Nova Iorque e, talvez, do mundo. Durante três anos, Neville enviou incessantemente mensagens diárias via rádio, desesperadamente à procura de outros sobreviventes que pudessem ter resistido. Mas ele não está sozinho. Mutantes vítimas da praga – Os Infectados – espreitam na sombra... observando cada movimento de Neville, à espera que ele cometa um erro fatal. Sendo talvez a derradeira e melhor esperança da humanidade, Neville é apenas impelido por uma derradeira missão: descobrir um modo de inverter os efeitos do vírus, utilizando o seu próprio sangue imune. Mas ele sabe que está em inferioridade numérica... e o seu tempo está rapidamente a esgotar-se.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Instalação Quartos Vagos (II)


Hoje prevê-se que os "Quartos Vagos" se encham de público. Não só para ver a instalação que está montada numa casa da Rua 5 de Outubro (nº 87 e 88), mas também porque a música e a dança vão gritar presente. "Dançando Sobre Cordas" funde as sonoridades da citara indiana com o violoncelo e são o mote para a dança. Por lá vão ainda passar Luís e Rebeca Jardim. A partir das 22horas.


Música - Destakes 2007 Portugal

Por cá também me ficaram no ouvido muita e boa música.

Aproveitem e deixem também aqui as vossa sugestões nos comentários.

Amélia Muge - Não Sou Daqui

Rodrigo Leão - Um Retrato Social

JP Simões - 1970

Vários - Tributo aos Mão Morta - E Se Depois

Silverdrop - Kraka-Boom!

Jorge Palma - Voo Nocturno

Clã - Cintura

Júlio Pereira - Geografias

Janita Salomé - Vinho dos Amantes

Buraka Som Sistema - From Buraka to the World
(embora de 2006 só o conheci em 2007)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Música - Destakes 2007

Na modesta opinião deste escriba. Sem qualquer ordem nem estilo são 25 dos discos que mais gostei de ouvir este ano.
Aproveitem e deixem também aqui as vossa sugestões nos comentários.

Of Montreal - Missing Fauna, Are You the Destroyer?

Bassekou Kouyate & Ngoni Ba - Segu Blue

Tinariwen - Aman Iman

Manu Chao - La Radiolina

Lau - Lightweights & Gentlemen

Robert Plant & Alison Krauss - Raising Sand

Chaka Khan - Funk This

Shantel - Disko Partisani

Vieux Farka Touré - Vieux Farka Touré

Transglobal Underground - Moonshout

Rahsaan Patterson - Wines and Spirits

Arcade Fire - Neon Bible

LCD Soundsystem - Sound Of Silver

Nick Cave - Grinderman

Wynton Marsalis - From the Plantation to the Penitentiary

Amy Winehouse - Back to Black

Gaudi & Nusrat Fateh Ali Khan - Dub Qawwali

M.I.A. - Kala

Beirut - Flying Club Cup

Herbie Hancock - River: The Joni Letters

New Young Pony Club - Fantastic Playroom

The Fratellis - Costello Music

Radiohead - In Rainbows

Kenny Chesney - Just Who I Am: Poets and Pirates

Dee Dee Bridgewater - Red Earth: A Malian Journey

Ano Novo

Sorrateiramente hei-lo que chega.

Como quem não quer a coisa.

De novo, decerto, só nos traz o nome.

Percebes óh 2008? De ti já não espero nada de novo, como não tenho esperado dos teus irmãos mais recentes.

E até que não pediria muito. Um pouco de dignidade e respeito para todos nós agentes culturais que temos sobre as costas o pesado fardo de manter a nossa cultura viva e actuante. Pedia também que deixassem de olhar para nós como uns carolas que fazem as coisas acontecer por gosto. Gostava que o nosso profissionalismo tivesse a sua devida compensação, como são compensados os que trabalham noutras áreas e com outras responsabilidades.

Bem sei que muitas vezes a culpa é nossa porque a vontade de fazer acontecer é tanta que tudo suportamos. A grande maioria de nós tem outras profissões onde recebemos salários que alegremente aplicamos nas "nossas coisas". Se assim não fosse creiam que a cultura da nossa terra era inexistente.

Muito francamente alguém me diga um número.

Um número que traduza a quantidade de agentes culturais com preparação e formação que vivem exclusivamente da actividade cultural que desenvolvem.

Um número. Dez? Vinte?

Nem me atrevo a aqui mostrar, comparativamente, o que se passa noutros sítios. Seria por demais humilhante.

Este post é para todos vós, os que vivem a cultura madeirense com a paixão de quem rejeita o imobilismo.

Este post é para os públicos que se vão formando nas mais diversas áreas numa postura de exigência de qualidade.

Este post vai dedicado à cultura madeirense como um todo de diversificados ramos, que cresce com problemas, lentamente, mas cresce e um dia será adulta e autónoma.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Do Talher - Pato com Laranja

Depois de ter emigrado para dentro de mim mesmo nestes últimos dias cá estou de volta. Acreditem que até aqui foi Festa e festa da rija. Sabores e mais sabores com algumas ressacas etílicas e alimentares pelo caminho. Mas já faltam poucos dias para acabar o ano e entrarmos naquele mês em que o contar tostões é uma constante.
Para apaladar este final de ano aqui fica a receita de um Pato com Laranja para a ceia do dia 31.
Um dos segredos de um bom pato é a limpeza. Remover todos os miúdos é extremamente importante, bem como chamuscar muito bem o bicho para que lhe saia toda a penugem. Cortá-lo em 8 bocados e mariná-los durante umas horas num bom moscatel e sumo de 3 laranjas, um pouco de sal e noz moscada.
Fazer um refogado com manteiga, um pouco de azeite, 2 cebolas picadas e alho q.b.. Quando o refogado estiver "au point", juntar os pedaços de pato, pimenta, um pouco do líquido da marinada, 2dl de caldo de carne e deixar apaladar em lume brando por cerca de 20m.
Quando estiver quase cozido juntar o resto da marinada e meio cálice de cointreau.
A casca das laranjas, que deve ter sido cortada muito fininha, corta-se em pequenas e finas tiras e junta-se ao preparado.
Acompanhe-se o Pato com um arroz de passas e pinhões.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A Minha Festa

Ainda me lembro de começar a comemorar a Festa com as primeiras Missas do Parto. Conforme a idade me vai aumentando o currículo, cada vez o Natal me sabe a menos, cada vez começo a senti-lo mais tarde. A minha Festa, hoje em dia, começa cada vez mais tarde e acaba cada vez mais cedo.
Mas tenho saudades, muitas saudades de um tempo irrepetível em que o consumismo não existia e não se contabilizava o sucesso desta época em termos de deve e haver. A felicidade tinha a ver com o facto de estarmos todos juntos e juntos celebrarmos uma época de solidariedade e de partilha.
Na época era pouco comum fazerem-se jantares disto e daquilo. Não precisávamos pois estávamos juntos o ano inteiro. Hoje participo em muitas jantaradas onde reencontro alguns velhos conhecidos que acabo por só ver uma vez por ano. Sintomático é o incontornável "então até pró ano" da despedida.
Como era bom que tivéssemos a capacidade de parar, olhar para trás e escolher o Natal de outrora, de um tempo que não volta. O Natal do "Tin-Tan-Tun", dos cheiros ao licor de tangerina a macerar desde Novembro, das camisolas de lá grossa que usávamos porque o frio que fazia a isso obrigava. Da vinha-e-alhos preparada em família e tornada para dentro do grande pote de barro onde ficava semanas a ganhar o gosto e o cheiro que inundava a casa no almoço do dia da Festa. O amassar dos bolos de mel e o fazer dos biscoitos, o visitar as casas dos vizinhos que eram pessoas que conhecíamos e não desconhecidos, o provar o licorzinho e a aguardente com mel ou anis. O acordar às quatro e picos da manhã para as preparações libatórias da Missa do Parto. O descer a Rua de Santa Luzia aos magotes e em grande algazarra até à Igreja onde cantávamos a "Virgem do Parto" em altos berros como mandava a tradição. A Missa do Galo, a canja, os poucos mas merecidos presentes onde havia sempre livros que me fascinavam nos meses seguintes.
Tenho saudades e muitas...

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Música - Black Dog Blues Band

Para quem se lembra de ter começado a ouvir música a sério ao som dos Led Zeppelin, é claro que tem que se tornar um apreciador de Blues. Depois deles passaram-me pelos ouvidos John Mayal, Muddy Waters, Eric Clapton, John Lee Hooker e tantos, tantos outros nomes.

Pela minha paixão pelas músicas do mundo acabei por descobrir que os Blues nasceram no Mali, em África como não podia deixar de ser. Ali Farka Touré foi rei até à sua morte recente. Vieux Farka Touré, seu filho, sucede-lhe como mestre da guitarra maliana. Foi isto que Corey Harris descobriu aqui há alguns anos gravando com músicos deste país dois discos fabulosos.

Vem tudo isto a propósito da actuação que vai hoje ter lugar no Cup&Chino a partir das 22h30, dos Black Dog Blues Band. Conduzidos pela mão sabedora e fanaticamente bluesiana de Daniel Caires são do melhor que musicalmente a região tem para oferecer. Não tenho mesmo qualquer receio em afirmar que a curto prazo se podem transformar na melhor banda de Blues do país.

Pontificam na banda, para além de Daniel Caires, que já tocou com nomes como Buddy Guy, Ronnie Earl, John Primer, entre outros, o irlandês Sean Flanagan, antigo guitarrista de Ian Dury & The Blockheads, Paulo Aveiro que tem andado por aí a tocar em muitos dos mais importantes projectos de música da nossa terra e Chico Nóbrega, um regresso aos palcos de um excelente baterista.

Não percam hoje então a actuação desta banda de Blues que tanto promete numa viagem que nos vai levar do Delta até Chicago, passando pelos Jumping Blues da Califórnia.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Música da Semana

Aboutowake projecto madeirense emigrado em Lisboa a merecer toda a nossa atenção!!!



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Exposição

Violas Construção Momentos é uma interessante exposição que é inaugurada amanhã, 18 de Dezembro, na sala de exposições do Centro Cívico da Ponta do Pargo pelas 17 horas. Carlos Jorge Pereira Rodrigues é neste momento o melhor construtor regional de instumentos da nossa tradição musical: braguinha, rajão e viola de arame. A exposição andará à volta da construção destes instrumentos que são um verdadeiro repositório de uma cultura centenária que urge preservar.


Niemeyer

Óscar Niemeyer fez 100 anos no passado dia 15. A efeméride foi comemorada em quase todo o mundo. Foram 100 anos de génio, de vida vivida intensamente por um homem que com simples rabiscos recriou a curva e a sua aplicação arquitectónica.

Pode a Madeira orgulhar-se de ter entre o seu acervo arquitectónico uma obra deste génio: trata-se do conjunto do Casino da Madeira, obra de grande volumetria perfeitamente integrada na paisagem que recria e transforma de modo suave e contínuo.

A propósito desta efeméride aconselho vivamente a visita à pequena exposição evocativa de Niemeyer que se encontra em frente à recepção do hotel. É possível ver aí expostos os primeiros esquissos e a primeira memória descritiva feitos pelos punho do arquitecto.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Lançamento (II)


Amanhã, 2ª feira, pelas 16horas na Sala de Conferências do BANIF, Francisco Fernandes lança mais um livro infantil. "Alguém Avisou o Pai Natal" é o nome do conto desta nova criação do autor cujas receitas e direitos vão reverter para a Fundação do Gil.

Vídeo (I)

Simplesmente fantástico!!!!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Do Meu iPod (III)

Big Time Operator - Minnie The Moocher

Faith No More - Easy

Deep Blue - Breakfast At Tiffany's

The Cure - Friday I'm In Love

Crash Test Dummies - Mmm Mmm Mmm Mmm

Swing Cats - Snap, Crackle & Hiss

The Reverend Horton Heat - Or Is It Just Me

Brigada Vitor Jara c/ Jorge Palma - Chamarrita Zaragateira

The Cars - Drive

Coldplay - Fix You

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cinema (IV) - A História de Uma Abelha

Título original: Bee Movie
Realizador: Steve Hickner, Simon J. Smith
Com (vozes): Jerry Seinfeld, Renée Zellweger, Matthew Broderick, John Goodman, Chris Rock
Género: Animação Comédia
Classificaçãoo: M/4
Origem: EUA
Ano: 2007
Duração: 120 min.

Um filme para a época que se avizinha. Com a participação de grandes actores a emprestarem a sua voz às personagens animadas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Led Zeppelin - The Return

A imagem peca pela qualidade, mas sempre é o regresso dos grande Led Zeppelin ontem à noite no Arena de Londres. Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e Jason Bonham (filho do primeiro baterista da banda, John Bonham, cuja morte, em 1980, levou ao fim da banda) levaram mais de 20 mil pessoas ao delírio ao longo de duas horas.

A crítica é unânime: os Led Zeppelin voltaram em forma.

Click (III) - Miguel Perestrelo

Muitos anos disto fazem de Miguel Perestrelo um dos nossos nomes mais interessantes no que respeita à arte fotográfica. Aqui ficam algumas fotografias.




Mais trabalhos deste excelente fotógrafo podem ser vistos em:

http://www.focusnatura.com/artist_miguel_perestrelo/artist.htm

http://olhares.aeiou.pt/MiguelPerestrelo

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Música da Semana


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Os Silverdrop já foram uma banda quase exclusivamente madeirense, mas a sua aventura norueguesa não conseguiu esbater as distâncias de casa e a consequente saudade. Hoje continua por lá o Dieter, que com o seu baixo sabedor continua a representar-nos neste projecto nascido entre nós e que tão boa conta de si tem sabido dar. Deixo-vos esta semana o tema "Drown Her" do seu primeiro álbum "Kraka-Boom".
Também podem passar pelo myspace da banda em:
http://www.myspace.com/silverdropband

Poema (VII)


A águia


No olhar verde e vazio de pupilas raiadas
pelo sangue a escorrer do bico para as penas sujas
pardas e grisalhas de um pó excrementício
que as grossas patas cobre como lama sua
onde as unhas longas mais do que se emergem cravam,
paira a negridão de fumos na distância
tornando-a curta opaca alaranjada
cortada por relâmpagos e gritos
de não vozes humanas mas detritos
estilhaços retorcidas lâminas quebradas
em que ossos carne partes retalhadas
pendem apodrecendo no pescoço daquilo
cuja cabeça pelada verdes olhos pisca
lacrimosos purulentos e raivosos.


Jorge de Sena

domingo, 9 de dezembro de 2007

Ran Slavin


Ran Slavin é um dos nomes maiores da arte digital.
Esteve hoje na Casa das Mudas a participar no Festival Madeira Dig. Infelizmente eram poucos os artistas plásticos e os músicos regionais que estavam presentes na sala muito bem composta de público que bebeu avidamente a proposta deste israelita.

Ainda por cima tratava-se da ante-estreia mundial da última obra de Slavin.
Para que não teve a oportunidade de assistir a esta magnífica performance aqui fica o vídeo Insomniac City.







sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Música - Punk d'Amour

É, sem dúvida, um fim-de-semana cheio de coisas boas. Estão de parabéns os promotores e os artistas regionais.

Amanhã no Dá-me Lume Punk d'Amour a partir da meia-noite.

Não percam.

ps: Meu caro Filipe vais-me desculpar mas não tenho o dom da ubiquidade, não consigo estar em dois sítios ao mesmo tempo. Este fim-de-semana para mim só dá Madeira Dig.

Música - Madeira Dig (II) - Vídeo Promocional

Música - Madeira Dig (I)

O Madeira Dig vai aos poucos conseguindo ocupar um importante espaço no panorama da música e da arte digitais no que a Portugal diz respeito. Ele é, neste momento um dos mais importantes festivais que se realiza nesta área no nosso país.

Começaram ontem as "hostilidades" na Casa das Mudas com uma homenagem a Nam June Paik, o criador da vídeo-arte falecido em 2006. A partir das 10.00 horas da manhã, no Centro das Artes / Casa das Mudas e a rodar em loop contínuo numa projecção na parede do foyer do auditório do centro, estarão 4 projecções de Paik: Merce by Merce, A tribute to John Cage, Media Shuttle e ainda Global Groove. Isto durante os quatro dias do festival.

Para hoje temos às 21,30h o projecto BOIAR de Paulo Carapeto e José Soares. Os sons propagaram-se entre a República do Prakistao em Coimbra e Berlim. No percurso há uma banda sonora para o filme "The Tulse Luper Suitcase" integrado no projecto mais vasto com o mesmo nome, de Peter Greenaway. Da composição para a peça "Freiheit" representada em Leipzig, Torgau e Berlim, desliza-se para a recriação do mito "Fausto". Actualmente, o conceito refundado com João Santos e João Ricardo bóia noutras dimensões com as imagens de Hugo Olim.

Mais tarde, por volta das 22,30h sobe ao palco das Mudas ALOG, talvez o nome maior da nova música experimental norueguesa, misturando sonoridades electrónicas com instrumentos acústicos. A actuação destes nórdicos marca o início de uma colaboração entre a organização do Festival e o Ministério da Cultura Norueguês.

No final de tudo seguem-se por certo excelentes momentos de troca de ideias até às tantas na Pousada da Ponta do Sol - Quinta da Rochinha aberto a todos os que queiram participar.

Lá vos espero!

Instalação (I)

Curiosa instalação a ter a sua vernisage amanhã, sábado. Contando com muito nomes da nova vaga de artistas plásticos madeirenses: Álvaro Silva, Bridget Jones, Carlos Valente, Cristina Perneta, Filipa Venâncio, Hugo Olim, José Pinho, Luísa Spínola, Martinho Mendes, Merícia Lucas, Nelson Henriques, Phil Shannon, Ricardo Barbeito e Sílvio Cró.

O espaço só estará aberto aos sábados e até ao final do ano.


O evento tem um blog que pode ser consultado aqui:

http://www.quartosvagos.blogspot.com/

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Música da Semana

boomp3.com

Lançamento (I)

"Quintas, Parques e Jardins do Funchal" da autoria de Raimundo Quintal é lançado amanhã pelas 18h no átrio do Baltazar Dias.

Cinema (III) - A Bússola Dourada

Filme envolto nalguma polémica depois de movimentos católicos norte-americanos terem apelado ao seu boicote em virtude de considerarem que pode levar as crianças ao ateísmo... seja lá o que isso quer dizer.

Com Nicole Kidman e Daniel Craig o filme é o resultado da adaptação de um livro de Philip Pullman sendo o primeiro de uma trilogia.

Simplesmente genial. A não perder principalmente por parte dos amantes do género.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Conferência (I)



Reproduzo aqui, com a devida deferência, notícia saída hoje no Diário de Notícias.


Debate na Camacha

'A Vida e Obra do Conselheiro Ayres de Ornelas' é o tema principal da conferência que os alunos do curso de Ciências da Cultura da Universidade da Madeira, em parceria com a Casa do Povo da Camacha, vão realizar sexta-feira.

O referido evento vai realizar-se na sede da Casa do Povo da Camacha, a partir das 18h30.

Paulo Miguel Rodrigues, director do curso vai abordar este tema, num evento que contará ainda com a participação activa dos professores Teresa Nascimento, que vai fazer uma palestra sobre 'A importância do Curso de Ciências da Cultura' e Adriano Ribeiro, que apresentará 'O Ensino Religioso e a Origem do Folclore', a partir das 19h40 e das 20 horas, respectivamente.

A conferência é de entrada livre, estando já prevista a participação de mais de uma centena de alunos e convidados, entre eles o reitor da Universidade da Madeira, Pedro Telhado Pereira.

Segundo Filipe Sousa, um dos elementos responsáveis pela organização, esta é a primeira conferência de muitas que pretendem organizar na Região.


O programa pode ser consultado aqui:

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Click (II)

Mais um fotógrafo madeirense: o meu grande amigo, irmão, companheiro e camarada de teatradas Miguel Apolinário.
Podem ver mais em:






Pistas Para Uma Nova Cultura (III)

Como deve o estado intervir, se é que o deve fazer, nos esquemas de produção, financiamento e consumo de bens culturais?

As correntes mais liberais opõem-se tenazmente à intervenção do Estado, considerando que essa intervenção vai distorcer a escolha do consumidor, a alocação de recursos, o processo de "montagem", a liberdade criativa, os procedimentos a seguir e o processo de selecção natural que o mercado impõe. Se juntarmos a estes os arrivistas neoliberais, que vindos de uma certa esquerda deslumbrada com a descoberta da economia de mercado, temos uma porção significativa do espaço político que defende a não intervenção pura e simples por parte do Estado nos mecanismos de produção cultural.

De um modo geral também entendo que o Estado deve intervir o mínimo possível no processo cultural. Agora, isto não pode ser assumido por decreto. O caminho deve ser longo e ponderado. E num aspecto o Estado deve ser sempre interveniente: na promoção da actividade cultural como um bem potenciador de felicidade, orgulho e preenchimento, porque um povo mais culto será, sem dúvida, um povo mais feliz. Compete assim ao poder político criar e gerir infraestruturas e formação cultural de modo a que surjam as condições necessárias para que sejam os públicos a fazer as escolhas numa lógica de mercado.

Será assim que se separará o trigo do joio.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Poema (VI)

A Erva da Fortuna

A erva da fortuna cresce como por encanto nas orelhas
dos políticos, o primeiro ministro proclama a amnistia
para os cucos dos relógios, o degelo nas relações inter-
nacionais restabelece o nível das águas nas albufeiras,
o ministro da energia esfrega as mãos de contente.
Embora o boletim meteorológico seja controlado pelo
governo, nuvens cor de chumbo toldam frequentemente
o horizonte, os pescadores de águas turvas procuram o
alto mar, uma chuva de impostos cai de imprevisto
ah a chuva na primavera, escrevem os poetas.

As andorinhas podem passar livremente a fronteira. Os
polícias oferecem grinaldas aos condutores de veículos
mal estacionados. O cio invade a assembleia. Os depu-
tados bombardeiam-se com pólen. Um nostálgico do
outono argumenta: a primavera de Praga também foi
de lagartas nas estradas.

Jorge Sousa Braga
O Poeta Nu

sábado, 1 de dezembro de 2007

Do Meu iPod (II)

A-Ha - Hunting High And Low

Adam Ant - Goody Two Shoes

B-52's - Love Shack

Bangles - Walk Like An Egyptian

The Beautiful South - A Little Time

Billy Idol - Eyes Without A Face

Bonzo Dog Band - Monster Mash

The Boomtown Rats - I Don't Like Mondays

Bryan Ferry - Don't Stop The Dance

Crowded House - Don't Dream It's Over

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Cinema (II) - A Invasão

Com Nicole Kidman e Daniel Craig. Chega para aguçar o apetite.

Poema (V)



Entre os grãos de areia, acha-se, às vezes, um barco naufragado.


Manuela Parreira da Silva

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Do Talher (III) - Kebab

250g de carne (preferência carneiro mas pode-se usar carne de vaca);
semente de coentro em pó q.b.;
cominhos em pó q.b.;
folhas de coentros frescos q.b.;
colorau q.b.;
pimenta e sal q.b.


Corta-se a carne aos cubos e coloca-se num espeto.

Misturam-se todos os outros ingredientes e polvilha-se abundantemente a carne com esse preparado.

Pôr na grelha e deixar cozer a contento.


Nota: há quem goste de intercalar os bocados de carne no espeto com legumes. Se tal, aconselho pimentos e/ou cebola separados da carne por folhas de hortelã.

A Ver (I) - Paulo Vieira

O meu querido amigo Paulo Vieira expõe a partir de hoje no dinâmico "Fora d'Horas".

Tive o enorme prazer de trabalhar com o Paulo por duas vezes em peças da COM.TEMA. Em "Vou-te Bater... Outra Vez" o Paulo criou uma animação gráfica que ilustrava uma completamente idiota estória do Capuchinho Vermelho, num trabalho de altíssima qualidade.

Inesquecível também foram os "bonecos" criados para a criação do mundo segundo uma perspectiva bíblica distorcida em "Choque Tecnológico".

A exposição decorre entre os dias 29 de Novembro e 29 de Dezembro. Não percam!!!


Aqui ficam alguns grafismos do "Choque Tecnológico":







Parte do rico portfolio do Paulo pode também ser visto em: http://www.buscarov.com/

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Noite (I)

Reconheço que já fui mais de sair à noite do que hoje. Não quero com isto dizer que o fascínio da noite tenha acabado para mim. Não. Continuo a ser mais da noite do que do dia.
Noite é liberdade e dia é trabalho e obrigações.

Não saio tanto porque prefiro, talvez porque a idade não perdoa, passar o tempo em ambientes mais acolhedores e intimistas com amigos que escolho e, reconheçamos, esse tipo de espaços não proliferam por aí.

Mas há excepções.

Imagine-se a chegar a um local que parece a sua casa. Decoração simples, bonita e descomprometida. Música no volume q.b. e de altíssima qualidade a possibilitar a conversa. Por vezes e com um pouco de sorte é possível apanhar música ao vivo e exposições.

Gentes do melhor e de diferentes proveniências criam um ambiente calmo e propício à troca de ideias.

Os empregados asseguram um serviço discreto e de qualidade. Com o adiantar da hora tanto a gerência como os seus colaboradores revelam aquela pachorra infinita de quem tem que aturar os outros sabendo que essa é uma das suas obrigações. E fazem-no com prazer e compostura.

Para quem conhece o espaço já descobriu que estou a falar do "Chega de Saudade" (simplesmente "Chega" para os conhecedores). Calculo que o nome lhe venha da mítica canção de António Carlos Jobim (música) e de Vinícius de Moraes (letra), considerada a primeira bossa nova a ser criada.

O "Chega" fica ali a meio da Rua dos Aranhas agradavelmente escondido num primeiro andar.

Experimente!


PS: também tem restaurante, mas a esse ainda não fui... a mão experiente do Chefe João Espírito Santo, meu velho colega de correrias nos Barreiros, promete degustação valorosa e de qualidade!
Podem colher mais informação no Blog do "Chega" em:

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Thomas Jefferson


Porque sou um profundo admirador dos "founding fathers" americanos (que hoje decerto devem andar aos saltos nos seus túmulos), aqui fica uma citação de Thomas Jefferson:





"Convinced that the people are the only safe depositories of their own liberty, and that they are not safe unless enlightened to a certain degree, I have looked on our present state of liberty as a short-lived possession unless the mass of the people could be informed to a certain degree."



- in carta de Thomas Jefferson para Littleton Waller Tazewell, 1805.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Do Copo (II) - Ginginha

"Com ou sem elas", era a pergunta sacramental quando entrávamos na Ginginha do Rossio e nos encostávamos ao balcão onde não cabiam mais do que quatro pessoas.
A ASAE, na sua sanha fiscalizadora, decidiu encerrar um dos espaços mais emblemáticos da cidade de Lisboa. Tinha a ver com tradição, com uma cultura centenária por onde passaram grandes nomes da nossa literatura e das nossas artes.

A ginginha do Rossio foi encerrada e com ela morre uma grande parte do nosso país.

As razões do encerramento têm a ver com a conversa do costume: a falta de condições higieno-sanitárias e técnico-funcionais. Para a Autoridade Sanitária o espaço tem que ser transformado num templo de alumínio perfeitamente descaracterizado.

A ASAE representa um certo tipo de mentalidade que grassa um pouco por todo o lado. Uma mentalidade que nos quer apresentar como um Portugal Novo esquecendo a tradição e descaracterizando-nos como povo.

No Portugal Novo só cabem as bananas grandes e sem manchas na casca que não têm sabor, as maçãs reinetas padronizadas que sabem a cortiça, as douradas de viveiro todas do mesmo tamanho e a saber a ração animal, os porcos que não sabem o que é comer bolota e restos de verdura, etc. Em suma neste Portugal qualquer dia nem cabem os portugueses de cepa substituidos por um cidadão formatado de acordo com as normas europeias.

Espero que o exemplo da ASAE não frutifique na Madeira porque senão vão-nos fechar as ponchas da Serra d'Água, matar o vinho seco e a espetada nos arraiais, as sandes de carne de vinho e alhos na noite do mercado, a aguardente com aniz, etc.

E esta Madeira não quero conhecer!

domingo, 25 de novembro de 2007

Rio das Flores

Saíu ontem no Público uma contundente, senão arrasadora, crítica ao "Rio das Flores" de Miguel Sousa Tavares. Fui logo a correr comprar o livro.
Nada como uma boa polémica para animar um dia cinzento.

Aqui fica o escrito por Pulido Valente (com a devida vénia ao Público) com a promessa que logo que houver resposta esta será aqui publicada do mesmo modo.


Crítica escrita por Vasco Pulido Valente


Rio das Flores Vale pouco ou nada como romance histórico, é pobre e vulgar como romance de família
24.11.2007 in Público

Pedimos a Vasco Pulido Valente que lesse Rio das Flores, o último livro de Miguel Sousa Tavares. O romance conta a história de uma família de latifundiários alentejanos na primeira metade do século XX. O historiador, especialista da República, não gostou e diz que o escritor não ilumina a época nem a percebe.

Numa entrevista ao Expresso, Miguel Sousa Tavares contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o Equador, sem o ler) e acrescentou alguns comentários desagradáveis. Como é natural, desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". Parece que, segundo o critério dele, não "deu", por esta vez, "cabo de mim". Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse, revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões Miguel Sousa Tavares não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo. Excepto sobre o meu "carácter" privado, não abriu a boca. Em cinquenta anos, não me lembro de encontrar um ódio tão inexplicável. Fiquei espantadíssimo e até, num encontro de acaso, lhe tentei falar, para o ouvir e, como lhe disse, para lhe poupar no interesse dele uns tantos disparates no Rio das Flores. Não quis.

Escrevo esta crítica sem prazer. Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau. Mas, como se compreende, não podia deixar que a brutalidade de Miguel Sousa Tavares chegasse para me calar.

Preâmbulo

Uma ficção histórica (um romance), como a história, interpreta o passado. Ao contrário da história, pode inventar um passado, onde as fontes são omissas ou parciais. Pode deformar coerentemente o passado (dentro de limites), atribuindo, por exemplo, uma mentalidade moderna a personagens da Antiguidade ou da Idade Média. O que não pode é desconhecer e falsificar o passado ou dar dele versões falsas, simplificadoras ou propagandísticas. Convém, por isso, no caso do Rio das Flores, partir deste ponto elementar. Tanto mais que Sousa Tavares anuncia na badana que o livro assenta num "minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica".

Opiniões

Rio das Flores é a história de uma família de latifundiários do Alentejo entre 1915 e o fim da II Guerra: do pai (Manuel Custódio, que morre ao princípio do livro), da mãe (Maria da Glória), dos dois filhos (Diogo, o herói do romance, e Pedro, o seu contraponto), da mulher de Diogo (Amparo), da amante de Pedro e da segunda mulher de Diogo. Pelo livro perpassam outras criaturas, sempre de uma convencionalidade absoluta, que pouco vão além do nome, ou da etiqueta, e se esquecem imediatamente. Mesmo as personagens principais são pouco densas, sem complexidade ou interesse. Através da família dos Ribera Flores, o Rio das Flores pretende ser uma meditação política sobre a primeira metade do século XX. É bom por isso saber, um a um, o que têm dentro da cabeça e, sobretudo, o que tem dentro da cabeça Miguel Sousa Tavares: uma distinção muitas vezes difícil de estabelecer.

a. Opiniões de Manuel Custódio sobre a República - Claro que não tratarei aqui de opiniões, que servem para "caracterizar" Manuel Custódio como "personagem": uma regra que apliquei a Diogo e a Pedro. Só me interessam aquelas que revelam os conhecimentos dele ou, se preferirem, o grau de consciência da situação em que vive.

Manuel Custódio acha, por exemplo, que "as despesas da corte no tempo de Monarquia" eram ridículas comparadas com "o desperdício de dinheiros públicos do governo do dr. António José de Almeida - "o rei dos demagogos, o maior vendedor de feira que este país já conheceu"". Sendo que António José de Almeida foi presidente do Conselho entre Março de 1916 e Abril de 1917, quando Portugal entrou em guerra e se organizou o Corpo Expedicionário para a França, a comparação não faz sentido, nem (como no caso) numa querela de café.

Manuel Custódio acha que a República queria proibir "os padres de andar vestidos de padres". A República proibiu o uso de vestes talares na rua, isto é, de vestes que chegassem ao calcanhar (do latim: talus, calcanhar): numa palavra, a batina. Não proibiu o fato preto e o cabeção (ou volta), e a coroa, que identificavam perfeitamente os padres.

Manuel Custódio acha que vai "ganhar quem eu disser ou quem disser aquele pateta do Joaquim Gomes, o cabo eleitoral dos republicanos em Estremoz. É só esperar para ver qual de nós dois está disposto a gastar mais dinheiro com a eleição e depois contam-se os votos - se não houver chapelada deles". Isto mostra, numa cápsula, que Manuel Custódio não compreendia os mecanismos eleitorais da República, na prática um regime de partido único, o Partido Democrático. Nesse ano, 1921, ganhou a maioria o Partido Liberal por decisão de António José de Almeida (na altura Presidente da República) e com o acordo do Partido Democrático: o que, de resto, levou rapidamente ao assassinato do presidente do Conselho, o "liberal", António Granjo. Daí para frente, como desde 1911, o Partido Democrático ficou sempre, como antes, com a maioria no Parlamento e no Senado e Estremoz nunca elegeu um deputado monárquico.

Suponho que isto basta para indicar a natureza e a perspicácia das discussões políticas nos jantares de Manuel Custódio.

b. Opiniões de Diogo sobre a República - Como notei atrás, é difícil separar Diogo de Miguel Sousa Tavares. Seja como for, trato aqui só de opiniões que Miguel Sousa Tavares resolveu atribuir a Diogo e que não servem directamente para o "definir".

Escreve Sousa Tavares: "Diogo (...) não gostava de ser tratado por morgado, esse título que se referia ao iníquo sistema sucessório em que filho varão mais velho herdava tudo, como forma de defesa da propriedade familiar, evitando a sua divisão entre vários herdeiros. A República pusera fim legal aos morgadios e ele, embora tivesse saído pessoalmente a perder, estava de acordo." A Monarquia "pusera fim legal" ao último morgadio em 1863, com excepção da Casa Real. Nem Diogo, nem o pai, nem o avô, nem o bisavô, nem o tetravô repararam na coisa.

Diogo acha que a República instituiu "o sufrágio universal". A República notoriamente não instituiu o sufrágio universal. A lei eleitoral de 1911 deixava votar os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de família há mais de um ano. Infelizmente, na "eleição" de 1911 não se votou, por pressão do Partido Republicano, em quase metade dos círculos. Pior ainda, nos círculos em que se votou, bandos de terroristas "fiscalizaram" o acto. Na eleição seguinte, em 1913, o Partido Democrático restringiu o voto a maiores de 21 anos, do sexo masculino e letrados: um corpo eleitoral mais pequeno do que o da Monarquia. A República não podia, como é óbvio, deixar votar o povo analfabeto do campo, que obedeceria ou se "venderia" aos "caciques" monárquicos. Até 1926 (com a excepção do "sidonismo"), o regime de 1913 praticamente não mudou.

Diogo acha que a República decretou "o divórcio para quem não é católico". A República, de facto, decretou o divórcio para quem era ou não era católico, para quem se casara pelo registo civil ou pela Igreja. Mas são subtilezas que excedem Diogo.

Diogo acha (ou parece achar) que a República foi uma democracia. A um amigo pergunta: "Os portugueses livraram-se de uma ditadura (a Monarquia) e, menos de vinte anos depois, já querem outra (a ditadura militar)." E, durante o pronunciamento republicano de 1937, pensa que em breve se irá restabelecer a "legalidade democrática". Verdade que Diogo tem ideias muito estranhas sobre a Monarquia e era muito novo em 1910. Mas não conseguir ver, aos 27 anos, o que toda a gente via, ou seja, que a República não passara da ditadura do Partido Democrático (de que ele mesmo, de resto, se gabava) e que não existira legalidade alguma, excede a ignorância permissível.

Diogo acha, enfim, que é (ou foi) "um monárquico constitucionalista". Esperemos que tenha querido dizer "constitucional".

É com uma personagem desta lucidez que temos de acompanhar a história política de Portugal, de Espanha, do resto da Europa e do Brasil durante 608 páginas. É principalmente através dele que o leitor é convidado a "ver" a ditadura, a liberdade e o destino do mundo.

c. Opiniões de Miguel Sousa Tavares sobre a Monarquia e a República - Quando aqui me refiro a Miguel Sousa Tavares deve ser claro que me refiro ao narrador. Incumbia, em princípio, ao narrador alguma exactidão e alguma subtileza interpretativa. Vamos por partes.

Começa por que Miguel Sousa Tavares, como Diogo, tem uma ideia insólita da Monarquia. Sousa Tavares acha que uma "aristocracia caduca e inculta" dominava a Monarquia: os "marqueses de berço" e os "condes de ocasião". Desde 1871, ou seja, nos cinquenta anos que precederam a República, estiveram no governo, entre dezenas de ministros, 2 marqueses, 3 condes, 3 viscondes. Excepto Sabugosa (um ano no Ministério da Marinha), nenhum "de berço", todos "de ocasião". Havia, claro, muita gente de "boas famílias de província" ou da classe média de Lisboa e do Porto, em geral com pouco dinheiro, que mandara estudar os filhos. E uma apreciável quantidade de self-made men. De uma "aristocracia caduca e inculta" a governar o país nem os próprios republicanos se queixavam.

Sousa Tavares acha que existiu um "poder autocrático e distante" nos "últimos tempos da Monarquia". Poder de quem? Dos partidos? Do rei? E quando? Durante a crise de 1891-1893? Durante os meses da "ditadura" administrativa de João Franco? A "descrição" é vácua: e falsa.
Sousa Tavares acha que "os grandes capitalistas (...) tinham mantido cativa a Monarquia, trocando créditos à Casa Real por concessões de monopólios e oportunidades de negócio nas colónias de África". Os governos vigiavam os dinheiros do rei, vintém a vintém. João Franco publicou (com injusto escândalo) as contas todas. Nem o mais remoto vestígio de evidência permite a Sousa Tavares dizer o que disse. E nem o Partido Republicano, indiferente à calúnia, se atreveu a ir tão longe.

De resto, as noções de Sousa Tavares sobre a República são vagas. Acha que foi um regime "dissoluto, deliquescente" e "que parecia sem rumo" (o que não quer dizer absolutamente nada). Acha que "abandonou à sua sorte as colónias de África por absoluta incapacidade de gestão" (um erro óbvio) e acha que se "arruinou na aventura militar da Flandres" para conservar o Império Português (tese contestada e hoje abandonada). Acha que a República fez do "clero regular, e em especial dos Jesuítas, o seu principal inimigo" (não existiam em Portugal mais de uma centena ou duas de Jesuítas no 5 de Outubro) e que "insinuou tréguas" ao clero regular, "em troca de apoio". Não lhe ocorreu sequer que a Lei de Separação, que tenta "explicar" (com vários erros pelo meio), se dirigia na essência ao clero regular. Nada disto é para levar a sério e não contribuiu remotamente para que alguém perceba a República.

Mas Sousa Tavares não pára aqui. Acha, por exemplo, que a República confiscou os bens dos "aristocratas exilados" (não confiscou) e que o Papa "se apressou a publicar uma encíclica contra ela" (não publicou uma encíclica, publicou uma bula, que repetia a doutrina pouco antes estabelecida para França) e que deu "instruções secretas aos bispos portugueses com vista a uma resistência clandestina como no tempo dos primeiros cristãos de Roma" (!!!). Vale a pena comentar?

d. Opiniões de Pedro - Pedro, graças a Deus, quase não fala. Expele tiradas de propaganda, com frequência completamente anacrónicas (mas não se pode pedir muito). É o contraponto da direita de que Diogo precisa. Não adianta, nem atrasa.

Resumos de "História"

Como o Rio das Flores vai de 1915 ao fim da II Guerra, Sousa Tavares é obrigado a entremear a vida dos Ribera Flores, com resumos do que sucedeu em Portugal e no mundo. Estes resumos seriam sempre uma simplificação. Com Sousa Tavares, são, além disso, de um primarismo, de uma banalidade e de uma ignorância, que não permitem o mais vago entendimento do que se passou. Tanto mais que o narrador resvala constantemente para a retórica da indignação pré-"25 de Abril" e de quando em quando faz digressões de uma extraordinária irrelevância, para exibir a sua virtude ou a sua cultura, ou simplesmente porque lhe pareceram "engraçadas". Não se procure aqui a história ou "atmosfera" dos anos 20, 30 e 40. Segue, para guia do leitor, a lista dos resumos:

A Ditadura Militar, Salazar e o Estado Novo - Com erro atrás de erro, não há lugar-comum que Sousa Tavares nos poupe sobre o "28 de Maio", a personalidade de Salazar e a perversidade do Estado Novo. Infelizmente, como não compreendeu a República, não consegue compreender Salazar, nem os mecanismos por que tomou e consolidou o poder. O narrador repete a evidência de que o exército e a Igreja apoiaram Salazar: não esclarece nem como, nem porquê. E não lhe ocorre que a liquidação política do liberalismo e do radicalismo a favor do "viver habitualmente" (cujo significado essencial lhe escapa) implicasse mais do que a polícia e a censura.

O pronunciamento de Fevereiro de 1937 - O narrador não trata dos motivos corporativos do pronunciamento ou da sua natureza política. Resolve contar o episódio, em que Diogo nem sequer participa, porque sim.

Política espanhola até 1936 - Diogo explica incontestavelmente o que o narrador pensa: "Houve eleições (em 1931), ganharam os republicanos e socialistas e há um governo legítimo em funções. Um governo escolhido pelo povo: conhece melhor alternativa para governar os povos?" Em 1932, torna a dizer o mesmo. Talvez seja apropriado observar que em 1931 e 1932 já a Espanha estava em guerra civil larvar.

A Guerra Civil de Espanha - Miguel Sousa Tavares escreve que a Frente Popular ganhou a eleição de 1936 por 150.000 votos, uma margem ridícula. Se tivesse lido Hugh Thomas com atenção (vem na bibliografia), saberia como esse número é enganador e artificial. Não leu ou não se ralou. O título do primeiro grande "clássico" sobre a Guerra de Espanha é O Labirinto Espanhol. Mas Miguel Sousa Tavares não perde tempo com complexidades. Num único parágrafo descreve (mal) as razões políticas da guerra e segue para uma reportagem truncada e tosca da conspiração e do levantamento militar. Por necessidade narrativa (Pedro vai para Sevilha para combater na Legião Estrangeira), conta em mais pormenor o "golpe" de Queipo de Llano em Sevilha e, com um enorme buraco pelo meio, a campanha nacionalista até Madrid, onde Pedro é ferido.

Desta prosa atrapalhada e confusa, sobra uma pérola. Cito: "No lado oposto, pontificava o socialista de esquerda Largo Caballero, um político populista e demagogo (...). "A revolução a que aspiramos - dizia ele, sem medir as palavras - só terá sucesso através da violência."" Isto sobre um homem a quem chamavam desde 1933 o "Lenine de Espanha, um homem que organizara e declarara a greve geral revolucionária de 1934 (a chamada "revolução de Outubro) e que já expressamente ameaçara antes com a guerra civil : "não media as palavras". Isto sobre o chefe de um partido, cujo programa, entre outras coisas, reclamava: a nacionalização da terra, a dissolução e expropriação das ordens regulares, a dissolução do exército e a dissolução da Guarda Civil: "não media as palavras".

A política de não-intervenção - O narrador volta à denúncia (indignada, claro) da política de não-intervenção. Tal qual como se Blum (a Frente Popular Francesa) e a Inglaterra fossem absolutamente livres de intervir e tivessem escolhido não o fazer. Não eram e seria aqui inútil demonstrar por quê. Mas três observações de Miguel Sousa Tavares merecem (pelo absurdo) um comentário.

1.ª Sousa Tavares escreve: "De início, o ditador comunista (Estaline) não parecia muito inclinado a envolver-se no conflito espanhol, mas a enorme pressão exercida pelo Komintern acabou por forçá-lo a mudar de política." Se, em 1936, algum membro do Komintern manifestasse a mais ligeira discordância de Estaline, seria imediatamente morto, se estivesse na URSS, ou expulso do partido, se não estivesse. Miguel Sousa Tavares não sabia isto?

2.ª Sousa Tavares escreve, glosando o tema: "Depois de duas décadas a pregar o "internacionalismo proletário", os comunistas de todas as partes do mundo não conseguiam compreender como é que a "Pátria do Socialismo" poderia assistir de braços cruzados a um conflito onde um povo em armas pela Revolução Socialista enfrentava uma coligação de todas as direitas, apoiada por Hitler e Mussolini." Os comunistas não conseguiam compreender? Não tinham compreendido o terror no Partido da União Soviética, os julgamentos de Moscovo (e ainda em 1936 os de Zinoviev e Kamenev), a mudança na Alemanha e na França da estratégia "classe contra classe" para a estratégia "frente popular"? Não iriam compreender o pacto germano-soviético em 1939? Miguel Sousa Tavares não sabia disto?

3.ª Sousa Tavares escreve: "Graças ao trabalho de sapa do embaixador em Espanha, Teotónio Pereira, e à sua facilidade em chegar junto a Franco, foi possível (...) conter os ímpetos expansionistas do ministro (dos Negócios Estrangeiros e antes do Interior) espanhol (Serrano Suner) e a sua tentação de estender o Reich à Península Ibérica. / Este foi o primeiro objectivo de Salazar na pasta (dos Negócios Estrangeiros) e teve sucesso." Miguel Sousa Tavares engole aqui (anzol, linha e cana) a propaganda salazarista. Franco nunca quis qualquer aliança com Hitler como provam à saciedade as condições proibitivas que lhe pôs no encontro de Hendaye (1940). Hitler também não queria a expansão da Alemanha para sul, como escreveu no Mein Kamppf , nem a "estratégia de ofensiva no sul", como mostrou em 1940 e 1941. Em Hendaye, queria que a Espanha expulsasse a Inglaterra de Gibraltar, sozinha ou com uma pequena ajuda, e sem compensações territoriais, susceptíveis de incomodar a Itália e a França de Vichy, coisa que Franco naturalmente recusou. Nem Salazar, nem Teotónio Pereira contribuíram fosse o que fosse para a neutralidade da Península.

Política externa de Salazar - Sobre a política externa de Salazar é ocioso insistir. A neutralidade de Portugal convinha aos dois lados. As pequenas cedências aqui e ali (volfrâmio, Açores) como a zanga com Armindo Monteiro, embora parte do folclore da velha oposição, não têm qualquer espécie de significado. Um ponto, no entanto: ao contrário do que Sousa Tavares parece pensar (ou leva o leitor a pensar), Salazar deu "total liberdade" a todos os "serviços de espionagem" e não só aos alemães.

Política brasileira - Por causa da progressiva emigração de Diogo para o Brasil, há em Rio das Flores dezenas de páginas sobre política brasileira (e mesmo sobre a economia do café), que não sou competente para avaliar. De resto, se o assunto me interessasse, e duvido que interesse alguém em Portugal, escolhia outro livro. Com este (que li e reli), não aprendi nada.

Cronologia

Miguel Sousa Tavares reconhece, numa "nota final", que tomou algumas liberdades com a cronologia. O que não interessaria muito, se elas não afectassem a substância da intriga. Mas neste caso afectam. Duas vezes.

1.ª Miguel quer "mover" Diogo para o Brasil. Diogo é proprietário de uma firma de import-export, que um judeu alemão, Gabriel Matthaus, representa no Brasil. Em Dezembro de 1935, Gabriel vai ver a família à Alemanha e, segundo Sousa Tavares, fica oficialmente impedido de tornar a sair. Ora, excepto se Gabriel fosse por qualquer razão um "suspeito" político (coisa que o livro não menciona), em 1936 podia ainda deixar a Alemanha, embora sem dinheiro ou praticamente sem dinheiro (o que o prejudicava relativamente pouco porque vivia da empresa do Brasil). Entre 1933 e 1937, emigraram 87.000 judeus alemães dos 437.000 que continuavam no Reich: 25.000 em 1936 (o ano em causa) e 23.000 em 1937. Verdade que em 1937, não em 1936, o Brasil fechou as portas à emigração judaica, mas ficaram Cuba, a Colômbia, a Venezuela e o México, onde era depois possível arranjar um "visto" para outro destino. A situação de Gabriel serve principalmente para "avançar" a intriga do romance (Diogo parte para o Brasil para o substituir) e para uma breve, e como sempre distorcida e primária, referência ao Holocausto. Esta espécie de "habilidade" cronológica não é venial, nem aceitável.

Mas, antes de passar à frente, não resisto a uma transcrição, típica da maneira como Sousa Tavares escreve sobre o mundo: "No mês anterior", declara ele, "Hitler anexara a Renânia ao Reich, fazendo tábua rasa dos Acordos de Versalhes, que haviam estabelecido a região como zona desmilitarizada." Hitler não anexou a Renânia, porque a Renânia era parte do Reich. Hitler militarizou a Renânia, coisa que o Tratado de Versalhes de facto proibia. Quase tudo o que Sousa Tavares diz sobre Hitler e o nazismo é assim: errado, aproximativo ou confuso.

2.ª Lá mais para o fim do livro, Sousa Tavares tem o problema contrário: a intriga exige que Diogo fique no Brasil. Como resolver a coisa? Sousa Tavares inventa que a partir do começo da guerra (Setembro de 1939) não existia maneira de atravessar o Atlântico em segurança. Existiu, pelo menos, durante um ano, até Julho de 1940, e em rigor até Julho de 1941, para navios de passageiros com bandeira neutra, que viajavam para portos de países neutros. Centenas de milhares de pessoas foram nessa altura para a América do Sul e para a América do Norte, sem uma perda, e os barcos voltavam para a Europa meio vazios.

Mas com este truque Sousa Tavares faz com que Diogo não venha para Portugal contra a sua vontade, porque isso é essencial à intriga e à "definição" da personagem. Imagino que um iletrado (a maioria dos leitores) acredite piamente em Sousa Tavares.

O uso das fontes e "peças de jornalismo"

Para além das "meditações" sobre política (sob forma de polémica ou não), Sousa Tavares precisa de "encher" o romance, de o "enchumaçar". Para isso, usa fontes. Na história, como na ficção histórica, as fontes devem servir para suportar uma narrativa ou um argumento, esclarecer um ponto obscuro, excepcionalmente para uma descrição com valor alegórico, metafórico, simbólico, analítico ou dramático. Nunca devem servir para uma simples paráfrase ou como uma espécie de reservatório de elementos decorativos, para dar "cor" a um episódio, à maneira do jornalismo de "revista". Infelizmente, é assim que Sousa Tavares sistematicamente as usa. Há passagens que quem se deu ao trabalho de ler a bibliografia percebe muitas vezes donde foram "tiradas". Segue uma lista:

1.º Uma tourada em Sevilha. Sousa Tavares não estava com atenção quando "estudou" a fonte e confunde a capa (ou capote) com a muleta. Daí em diante é o puro disparate.
2.º História abreviada do Palácio Real de Estremoz.
3.º Descrições de vários automóveis.
4.º Descrição do voo de um Zeppelin sobre Lisboa. 5.º Opiniões do embaixador inglês (em 1929) e do sr. R.A. Gallop sobre os portugueses.
6.º Breve história do restaurante Tavares Rico.
7.º O cinema em Lisboa no princípio dos anos 30.
8.º Descrição dos efeitos da crise de 1929 em Portugal.
9.º Descrição de um Zeppelin.
10.º Descrição e história do hotel Copacabana Palace.
11.º Nova descrição de hotéis e de alguns cafés frequentados por intelectuais no Rio.
12.º Preparativos para a Exposição do Mundo Português e obras da referida Exposição.
13.º Economia do café no Brasil.
14.º Descrição e história da fazenda Águas Claras.
15.º Diatribe contra intelectuais brasileiros que colaboram com Getúlio Vargas.
16.º Algumas notas sobre a família Werneck.
17.º Descrição e história da cidade de Vassouras.
18.º Descrição da querela entre Salazar e Armindo Monteiro.
19.º História da demissão do vice-cônsul de Portugal em Vichy (depois de preso pela Gestapo), recomendada por um terceiro secretário de embaixada, Emílio Patrício.

A maior parte destas digressões não tem qualquer função na narrativa: não passa de um ornamento "colado" à narrativa. E a pequena parte que tem uma função podia ter sido reduzida a uma frase ou a meia dúzia de linhas. Sousa Tavares não diz nada indirectamente: não sugere, não insinua, não omite. Não escreve como quem escreve um romance, escreve como quem escreve um relatório: directamente, com a mesma luz branca e monótona para tudo.

Lendo o Rio das Flores, uma pessoa sente claramente quando entrou a "ficha" (de informação) sobre isto ou sobre aquilo. E o peso das fichas torna o livro pueril como um "trabalho de casa". Mas também o desequilibra. A interminável quantidade de páginas sobre, por exemplo, os Zeppelin, a política brasileira (em que Diogo não participa) ou as belezas de Vassouras são meras curiosidades, que estão ali porque estão, e atenuam ou dissolvem a já fraca intensidade do romance.

Comida

No Rio das Flores há 17 descrições de comida. Dessas 17 só quatro ou cinco (e com muito boa vontade) se justificam.

Sentenças

De quando em quando, Sousa Tavares gosta de dar a sua sentença. Para apreciar a sua profundidade e a perspicácia, aqui vão algumas:

1.º "... O Corpo Expedicionário Português fora dizimado em dois dias de Abril à mais imbecil estratégia militar de todos os tempos - a chamada guerra das trincheiras..." Morreram 9 milhões de pessoas porque ninguém (pelo menos tão inteligente com Sousa Tavares) descobriu que a guerra de trincheiras era imbecil.

2.º "... numa Europa ainda mal refeita dos efeitos catastróficos da imbecil guerra de 14-18..." E pensar a gente que se gastou tanto tempo a tentar perceber uma "imbecilidade".

3.º "... toda a elite nacional de então, continuava a alimentar a lenda do regresso desse patético rei D. Sebastião - o mais imbecil, incompetente e irresponsável governante de toda a história de Portugal." Isto é o que Sousa Tavares compreende de D. Sebastião e do sebastianismo.

4.º "... o poeta (Fernando Pessoa) retirava-se (...) dedicando-se (...) à escrita da mais extraordinária obra literária que Portugal alguma vez tivera." Nada de discussões.

5.º "A lista dos intelectuais que militaram pela causa da esquerda espanhola era absolutamente impressionante - não havia, praticamente, um escritor, um músico, um filósofo prestigiado, um Prémio Nobel, que lá não figurasse..." Palavra de honra?

Estes juízos não são percalços, são sinais particularmente cómicos da imaturidade e presunção que permeiam o livro inteiro.

"Personagens"

Como escrevi acima, anda muita gente pelo Rio das Flores: que sai e entra, com uma identidade qualquer e se esquece imediatamente. Na família Ribera Flores, que ocupa o centro da história, as mulheres, Maria da Glória e Amparo, são meros comparsas, de uma confrangedora convencionalidade. Nada de essencial as distingue uma da outra. Literariamente, não existem.

Diogo, o herói principal, é, por um lado, uma colecção de opiniões: representa a inquietação democrática. E, por outro, uma colecção de decisões arbitrárias e de paixões melodramáticas: representa a inquietação existencial. Mas, como só vê e só percebe a superfície dele próprio, do mundo e das pessoas, nunca chega a interessar ou a comover. Não passa de um artifício.

Pedro, o irmão, representa a tradição do latifundiário alentejano e a reacção política. Serve de contraponto a Diogo. Consegue ser um pouco mais "real" do que Diogo. Mas, sendo do princípio ao fim uma "personagem" esquemática e, por isso mesmo, previsível, não é convincente.

Como escreve Sousa Tavares

Como escreve Sousa Tavares? Sousa Tavares não tem um "estilo", se entendermos por "estilo" uma forma característica de escrever. Sousa Tavares escreve como um jornalista: fluentemente e anonimamente. Quando quer ir mais longe e "fazer estilo", os resultados não se recomendam. Um exemplo ao acaso: "Parecia que Sevilha inteira flutuava com ele dentro de um carrossel de sensações, de excitação, rumo a um ponto qualquer onde tudo aquilo teria forçosamente de explodir num apocalipse."

O lugar-comum abunda: "as areias de Alcácer-Kibir" são "incandescentes"; a "beleza de Amparo" é "encandeante"; a actividade do Natal "é desenfreada"; a "continuidade das coisas" é "reconfortante"; o filho de Diogo "ensaia os primeiros passos"; as pernas de uma senhora são "bem desenhadas" e os olhos "grandes" e a boca "rasgada"; a mãe ama o filho "até ao absurdo"; o corpo da senhora já referida é "esguio e proporcionado"; as palavras "estrangulam a garganta" da mesma senhora; quando Pedro percebe que ela o vai deixar é "como se uma bomba tivesse acabado de rebentar dentro da cabeça dele"; "quem nunca sofreu por amor nunca aprenderá a amar. Amar é o terror de perder o outro, é o medo do silêncio e do quarto deserto...", etc., etc., etc.

Sempre assim.

Conclusão

Como romance histórico e político da primeira metade do século XX, uma alta ambição, o Rio das Flores vale pouco ou nada. Com a sua superficialidade e a sua ignorância (a bibliografia do livro mostra principalmente o que ele não leu, ou seja, quase tudo), Sousa Tavares repete a versão popular "esquerdista", sem "iluminar" a época e sem a perceber. Como romance de uma família, o Rio das Flores é pobre e vulgar. Há quem se entretenha com esta espécie de produto, mas não se trata com certeza de literatura.

Uma última observação: discuti neste artigo um livro e um autor, não estou disposto a discutir a minha pessoa ou a pessoa de Sousa Tavares.

sábado, 24 de novembro de 2007

Click (I) - Vitor Reinecke

Do meu bom amigo Vitor Reinecke aqui ficam algumas fotos da sua mão sábia. Podem ver mais em http://olhares.aeiou.pt/utilizadores/detalhes.php?id=18994








Da Mesa de Cabeceira (I)

Irene Flunser Pimentel - A História da Pide

Assírio & Alvim - Poemário 2007

Isabel Allende - O Reino do Dragão de Ouro

José Rodrigues dos Santos - O Sétimo Selo

Anna Politkovskaya - Um Diário Russo

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Poema (IV)

III


no cais
seres perfeitamente anormais...
passeiam

há um carro dourado
que se suicida...
por amor

o folclore está nas sujas esquinas da cidade
frutos tropicais exalam o agridoce cheiro do sangue
e há gente que morre
e há gente que ama


malditos sejam os que renegam o mar que me envolve

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Primeira Vez

Tive o prazer de passar pelo novo programa da RTP/M "Irreverências" do meus amigos Tiago e Marta. Proporcionou-se uma pequena brincadeira em registo de stand-up.
Aqui fica o texto:

A Minha Primeira Vez

Na primeira vez que cruzei a porta da farmácia para comprar preservativos fiquei com o estômago todo embrulhado.
Entrei pé-ante-pé e fui-me colocar no balcão no sítio mais afastado de tudo que encontrei.
A farmacêutica que me veio atender tinha idade para ser minha avó… era parecida com a minha avó.
- Então meu querido, em que é que te posso ajudar?
- hummm… bufff… eu queria sdfasdservativos…
- Desculpa, não percebi!?
- Sdfasdservativos …
- Sdfasdservativos?, o que são sdfasdservativos?
- Sdfasdservativos! – disse ajudando com um gesto com os olhos na direcção das partes baixas.
- Ah, preservativos – disse a avozinha em voz bastante alta.
- Ahgg… sim.
- Então o menino quer preservativos. E de que tipo? – continuou o raio da velha quase aos berros.
De que tipo? Eu nunca tinha visto um preservativo ao vivo. Como é que ia saber que havia preservativos de vários tipos.
- De que tipo? – disse eu.
- Sim, lubrificados, não-lubrificados, prazer normal, extra-prazer, etc.
- Ahrg…. Sei lá… pode ser extra-prazer.
- Muito bem. E de que cor?
- De que cor?
- Sim. Transparentes, azuis, amarelos, roxos…
- Sei lá… Tem verde?
- Tem sim senhor. És alérgico ao látex?
- Não sei!?
- Então é melhor levares de poliuretano. E queres com sabores.
- Mas eu não quero chupar os preservativos…
- Ah, ah, ah… és tão engraçadinho
Lá escolhi, sabor a banana porque sou alérgico ao morango. Fui para casa todo contente. Já podia encher os preservativos de água para os atirar a quem passasse por debaixo da varanda da minha casa.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ao Vivo (I) - DD Peartree

Depois de no passado sábado terem passado pelo "Dá-me Lume", por cima do Restaurante D. Fillet, os Punk d'Amour num concerto a todos os títulos memorável, no próximo sábado vai passar por lá o projecto do meu amigo Dieter Pereira: DD Peartree.
O Dieter tem andado pela Noruega com os Silverdrop, uma das minhas bandas favoritas.
A avaliar por aquilo que se pode ouvir no seu sítio no Myspace será decerto um concerto imperdível. Não falhem!

http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=192211989

Cinema (I) - Elizabeth: A Idade do Ouro

Em exibição no Funchal. A não perder!

Do Talher (II) - Peixinhos da Horta

Farinha
Água
Sal
1 Ovo
Feijão-verde
Azeite


Construa-se um polme com farinha, água, sal e um ovo. Bater muito bem.

Dar uma entaladela em água a ferver ao feijão-verde. Escorrer e secar. Passar pelo polme de ambos os lados e fritar em azeite bem quente.

Acompanha bem um arroz de tomate malandro.

Do Meu iPod (I)

The Fray - How To Save a Life

David Bowie - Ziggy Stardust & The Spiders From Mars

Smash Mouth - I'm a Believer

Jorge Palma - Encosta-te a Mim

Deep Purple - Lazy

Dunkelbunt - The Chocolate Butterfly

Falcão - A Mulher É Um Género Humano

Devo - Satisfaction (I Can't Get No)

Puppini Sisters - Walk Like An Egyptian

Ala dos Namorados - Bricabraque e Pechisbeque