quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ouvindo - Ary dos Santos

A obra poética de José Carlos Ary dos Santos, falecido há 25 anos, é revistada pelas cantoras Luanda Cozetti, Mafalda Arnauth, Susana Félix, e Viviane, num CD intitulado Rua da Saudade que é hoje posto à venda.

Editado pela Farol, o CD reúne canções com letras como Canção de Madrugar, Estrela da Tarde, Retalhos, Cavalo a Solta, com novos arranjos musicais de Renato Júnior.

Esta nova «roupagem musical» de Renato Júnior passa pela música pop, fado, jazz e bossa nova.

O título do álbum remete para a rua onde o poeta viveu durante mais tempo, na zona do Castelo, em Lisboa.

As letras de Ary dos Santos escolhidas para este álbum foram musicadas por Fernando Tordo, Nuno Nazareth Fernandes e Tozé Brito.

As canções agora editadas em CD foram cantas pela primeira vez por Tordo, Carlos do Carmo e Hugo Maia de Loureiro.

José Carlos Ary dos Santos, como letrista, venceu vários Festivais RTP da Canção, designadamente com os temas Desfolhada portuguesa, Tourada, e Menina do alto da serra.

Amália Rodrigues também se encontra entre os interpretes que cantaram os seus textos.

Aos 14 anos a família de Ary editou-lhe o primeiro livro de poemas, mas a estreia literária efectiva deu-se em 1963 quando publicou A liturgia do sangue.

Criativo publicitário, Ary dos Santos inscreveu-se em 1969 clandestinamente no Partido Comunista Português, tendo escrito também para o teatro revista.

Os seus poemas encontram-se reunidos em várias colectâneas, designadamente uma que deixou preparada, As palavras das cantigas, prefaciada pela escritora Natália Correia. José Carlos Ary dos Santos morreu em 1984, aos 46 anos.

Lusa

Curtas e Boas

PUBLICO.PT - Guimarães acolhe constelação de estrelas

Cinema - Full House

Estreou ontem, na Galeria Mouraria, a curta-metragem 100% madeirense "Full House - Mutha Facker".

Salvador é uma pessoa calma e com tudo planeado na sua vida mas quando se vê confrontado pela sua mulher sobre o seu vício decide fazer a única coisa que lhe faz "sentir" vivo, o poker.
No entanto é apanhado desprevenido num jogo que não é do seu domínio, não havendo fuga possível.

Esta curta pode ser vista na Galeria Mouraria até ao próximo dia 9 de Dezembro!


Ficha Técnica

Titulo: Full House

Realizadores: Rui Rodrigues e Bruce Paulino da Silva

Produção: Marta León

Argumento: Rui Rodrigues

Animação: Roger Silva e Bruce Paulino da Silva

Actores: João Ricardo Aguiar, Nuno Morna, Maria de Jesus Rocha, Gonçalo Silva, Sandra Cardoso

Apresentado por: Die4Films

Duração: 16 min.

Aniversário

Só agora me apercebi que este Blogue faz hoje anos. São dois aninhos.
Parabéns para mim!!!!!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Musicando - Os Quais

O escritor Jacinto Lucas Pires e o pintor Tomás Cunha Ferreira conheceram-se há cerca de duas décadas. Os gostos comuns pelos diversos aspectos da arte, leva-os, de vez em quando, a juntarem-se em espectáculos de música de qualidade.

É o caso da apresentação do musical ‘Os Quais’, sexta--feira, dia 13, às 21h30, no CAPa- Centro de Artes Performativas, em Faro.

Lucas Pires será a voz e a guitarra eléctrica deste duo, que não quer ser apresentado como um dueto e muito menos como um projecto.

Lucas Pires será acompanhado por Tomás Cunha Ferreira em omnichord e violão. A voz e pianet T de Madalena Sassetti completa o elenco do programa do espectáculo.

Jacinto Lucas Pires tem vários livros publicados. ‘Azul turquesa’ (ficção 1998), ‘Livro usado’ (viagem ao Japão 2001), ‘Perfeitos milagres’ (romance 2007), ‘Assobiar em público’ (contos 2008). Realizou duas curtas-metragens e escreve teatro para diversos grupos e encenadores.

Tomás Cunha Ferreira é pintor e expõe regularmente desde 2000. Actualmente, é professor de Pintura, Desenho e Comunicação social na Universidade de Évora.


Navegando - Blablart.com

Um site online dedicado à arte contemporânea, Blablart.com, acaba de ser criado para dar acesso a 10 mil museus e galerias de todo o mundo e promover a informação e comunicação na comunidade e o público interessado.

Os fundadores do projecto são três: a jornalista portuguesa Maria Manuel Stocker, a curadora madrilena Helena Tatay e o «web master» catalão Alberto Lucas, que apostaram em construir «um site útil e actual», com informação sobre o sector proveniente de uma centena de países.

Maria Manuel Stoker justificou que esta iniciativa resultou da constatação de que «não havia um único site na internet onde fosse possível visitar o mundo da arte contemporânea na sua globalidade».

«Há muitos sites de arte contemporânea mas estão orientados por zonas geográficas, ou com um grande foco nos dois lados do Atlântico - Londres, Nova Yorque, Paris - ou então concentrados apenas no mercado americano», observou.

Maria Manuel Stocker comentou que «todo o desenvolvimento do mercado da arte contemporânea na Índia, China, Coreia, Japão, Austrália, Brasil e Médio Oriente não tem grande repercusão nos sites existentes, que se concentram em divulgar apenas as grandes galerias internacionais com representação em Deli ou em Pequim». Verificada esta «falha de informação organizada» no sector da arte contemporânea, o grupo procurou soluções que conjugassem simplicidade e, ao mesmo tempo, «um máximo de interactividade entre os utentes e o uso das tecnologias de imagem sofisticadas, dado que a imagem é fundamental na arte».

O grupo decidiu criar o Blablart.com - de acesso gratuito para quem nele se inscreva - que permitisse «a qualquer pessoa visitar as galerias e museus do mundo sem sair do sofá, e com poucos cliques». É dirigido sobretudo a profissionais da arte, galeristas, curadores, artistas, que poderão comunicar entre si dentro da plataforma e dar conhecimento à comunidade global das suas exposições, eventos e obras.

O Blablart é composto por um directório (intitulado «The Art World») com museus e galerias de cerca de uma centena de países, que demorou dois anos a criar. Contém ainda uma rede de comunicação («Who´s On») entre todas as galerias e museus que fazem parte do directório, mas também aberta a artistas, coleccionadores ou qualquer pessoa interessada em arte.

O «Talk Art» está aberto a quem quiser debater a arte contemporânea online, em qualquer línguia, tal com o site, que tem a possibilidade de ler lido em tradução Google em dezenas de idiomas. A primeira página do Blabart tem também uma secção de notícias actualizadas regularmente que cobre galerias, museus, colecções e também artes performatiivas.

Maria Manuel Stocker considera que o sector da arte contemporânea pode beneficiar da forma como o sítio está organizado, «dado o crescimento global do mercado e o interesse também óbvio do público pela cultura».

«O Blablart permite a alguém no sul da Índia visitar os museus do Canadá, as colecções brasileiras ou as galerias de Berlim, sem ter que as procurar uma a uma em sites díspares», exemplificou.

Segundo a jornalista portuguesa, o projecto começou sem financiamento, mas no ano passado a empresa Energies Nouvelles deu um apoio à execução e o site foi concretizado.

Actualmente, o grupo procura patrocínios e publicidade de empresas e serviços desde as energias limpas às seguradoras ou telecomunicações e empresas ligadas ao turismo, «com mais vocação para se anunciarem nas páginas das cidades».

Lusa

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lançando - Lourdes Castro

(clicar sobre a imagem para ver maior)

Filmando - Nelson Camacho

Novo vídeo de Nelson Camacho para a DDiarte..

Musicando - João Aguardela

Escreve Mário Lopes na Ípsilon:

Tudo começou com um vinil de Giacometti. Por causa dele, João Aguardela criou o Megafone: quatro álbuns em que procurou levar até às últimas consequências a sua obsessão com a música tradicional. Aguardela morreu em Janeiro, a associação Megafone 5 perpetua a obra. Dia 4, há festa de homenagem no CCB.

Ele cantava coisas como "o meu bairro é festivo / o meu bairro é alegre / o meu bairro é Portugal". Lembram-se certamente. Os anos 1990 ali no início e João Aguardela, nos Sitiados, a atirar fados e música popular rock dentro, a pôr o pessoal a exercitar o mosh com canções sobre marinheiros, a comentar a actualidade social com letra que parecia retirada do cancioneiro popular: "Na cabana do pai Tomás / toda a moça prendada / ainda que casada / rebolava naqueles sofás" - e eis como o badalado caso Taveira se transformava em folhetim rural de escândalos e coscuvilhices.

Nos Sitiados primeiro, depois na Linha da Frente, o projecto em que, com Luís Varatojo, reuniu músicos e cantores para dar novo enquadramento a poetas portugueses, e depois ainda, prosseguindo com Varatojo, n'A Naifa, onde o fado se reveste de sons e de versos de agora, João Aguardela sempre procurou isto: o português que existe na música portuguesa, um ponto de contacto entre o que existe hoje e aquilo que somos há, pelo menos, uns bons pares de séculos.

Nos Sitiados, nos Linha da Frente e n'A Naifa fê-lo de forma bastante visível - erguido a estrela pop nos primeiros, destacado "ideólogo", compositor e letrista nos últimos. Entre uns e outros, contudo, existe uma outra coisa. Pessoal e definitivamente transmissível. Um espaço mais íntimo, um veículo onde levou "até às últimas consequências" a sua obsessão com a música tradicional. Chamou-lhe Megafone: quatro álbuns, editados entre 1997 e 2006, em que as recolhas de Michel Giacometti e José Alberto Sardinha se cobriam de ritmos house ou drum'n'bass, se adaptavam a teclados fervilhantes e dançavam entre acordeões e vibrafones. Neles, Aguardela desmistificou uma visão folclórica da tradição e, com carinho iconoclasta, retirou-a da sua veneranda clausura.

Aguardela dizia que o trajecto de Megafone se completaria com o quinto álbum. Tinha um em falta quando morreu, aos 39 anos, a 18 de Janeiro de 2009. Mas haverá um Megafone 5. Ou melhor, já existe um Megafone 5. É um site (www.aguardela.com) de homenagem a João Aguardela, com material biográfico e recolhas de imprensa, em que estão disponíveis para download gratuito os quatro álbuns do projecto. É, também, a força motriz dos Prémios Megafone que, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, distinguirão anualmente um músico ou uma banda (Prémio Megafone Música) e uma "entidade não musical" (Prémio Megafone Missão).

Os prémios serão apresentados na próxima quarta-feira, 4 de Novembro, no Centro Cultural de Belém. Dia de festa. A partir das 21h, sobem ao palco do Grande Auditório A Naifa, Gaiteiros de Lisboa, Dead Combo e O'queStrada. A homenagem, neste caso, é tê-los juntos num concerto: "É um grupo de pessoas que o João gostaria de ver reunidas numa noite", diz-nos Sandra Baptista, companheira de Aguardela, acordeonista dos Sitiados. "Não sabemos o que fará cada uma das bandas", acrescenta Luís Varatojo. "Nada foi imposto. Achamos, e o João também achava, que aquilo que fazem já é Megafone". "Música para uma nova tradição", diria ele - mote perfeito, portanto, para aquilo que evoca o concerto, para aquilo que se ouve na música deste Megafone que urge (re)descobrir.

"Sentia-se ridículo a tocar um blues"

Tudo começou com um disco de vinil de Michel Giacometti comprado na Feira da Ladra: "Alentejo: Música Instrumental e Vocal". O interesse de João Aguardela pela música tradicional não começou ali, mas foi ali, diríamos, que nela se embrenhou definitivamente. "Quando entrou no mundo tradicional, mergulhou completamente numa portugalidade com que até então não tinha tido contacto", recorda Sandra Baptista. "Tornou-se quase um vício", continua: "Ficou viciado em ouvir e em perceber como transportar aquilo que ouvia para os dias de hoje". Luís Varatojo vai mais fundo: "Descobria ali a sua música. E isso, descobrires a tua forma de expressão na arte, é raro e impagável. Sentia-se ridículo se tivesse de tocar um blues; ali não, porque sentia que ‘era' aquilo".

Retrospectivamente, o que ouvimos nestes quatro Megafone? Um trabalho em constante evolução, em que as formas mais agrestes da house e do jungle começam a ganhar calor orgânico e outras expressões, em que as vozes das recolhas passam a conviver com a voz de Aguardela, que escolhia para si as letras que, como explicava ao PÚBLICO em 1999, quebrassem "uma ideia formada sobre o que é cantado na música tradicional, com temas muito limpinhos e arranjadinhos": "Há textos em que me sinto mais próximo do universo dos Mão Morta do que propriamente da tradição", confessava então. Este ponto é essencial: quebrar ideias feitas, reconstruir, descobrir novos sentidos. Tudo resumido nisto que, também em 1999, declarou ao "Jornal de Notícias": "Estes discos podem ser vistos como folclore, pois a alternativa a eles é não fazer nada. Se tivermos uma atitude demasiado respeitosa arriscamo-nos a não ir longe. E isso não é solução para mim".

"Intuitivo", "curioso", metódico na pesquisa e célere na concretização das ideias, via a música de Megafone, aponta Sandra Baptista, "como um momento fotográfico" - "sem receio de ficar mal na fotografia ou com a fotografia distorcida".

Tiago Pereira, realizador de "Tradição Oral Contemporânea", videasta que se dedica a explorar pontes entre tradição e modernidade - como no espectáculo multimédia "Mandrágora", onde mezinhas e cantares tradicionais encontravam eco na música de Tó Trips ou Tiago Guillul -, destaca que o trabalho de Aguardela em Megafone era mais profundo do que a própria música: "O que ele fazia era passar um pensamento, mais do que um mero espectáculo musical". Para além da música, portanto: "Quando ele faz Megafone surpreende, tal como [o artista vanguardista] Ernesto Sousa, quando em 1969 traz a primeira exposição da [artesã] Rosa Ramalho, de Barcelos, a Lisboa e a põe numa galeria com o Julião Sarmento ou o Fernando Calhau".

Em 1997, quando foi editado o primeiro Megafone, ninguém estava preparado para aquilo: projecções vídeo de pastores e trabalhadores no campo, os ritmos a atirarem-se sobre as melodias e o público, embasbacado, sem saber como reagir. Sandra diz-nos que nos concertos, em Portugal, nem por uma vez o público dançou. Olhava-se em volta à procura de um sinal - "Como se dança Megafone?", pergunta retoricamente Sandra Baptista. "Era preciso aprender ou inventar", responde Luís Varatojo.

Música tradicional mutante

Em conversa com o Ípsilon, Carlos Guerreiro, dos Gaiteiros de Lisboa, não demora muito a sentenciar: "Parece-me que o povo português não é grande dançarino". Culpa o "processo de folclorização iniciado nos anos 1930, em que tudo foi reduzido aos ranchos folclóricos, e a música começou a ser feita de forma parada e cristalizada". Ou seja, mesmo existindo muito que dançar na música tradicional portuguesa, roubaram-nos a "espontaneidade": "É sempre preciso alguém que ensine, não há o chegar e dançar, como não há o chegar e tocar". Mais. Entre a "folclorização", aquilo que Guerreiro classifica como "a subjugação da tradição a uma ideia de poder" - Estado Novo, pois claro -, e um oposto que o confrontou, "o lado Giacometti", "mas que também criou os seus ícones e as suas falsidades", sobra uma zona difusa, que é onde tudo se renova, que é onde não há espaço para diabolizar ou sacralizar.

É precisamente aí que encontramos os Gaiteiros de Lisboa, é precisamente aí que, apesar de tudo o que os separa, está o Megafone: "O facto de termos abordagens diferentes sobre a mesma coisa não é suficiente para que haja divergência no nosso trabalho", conclui.

"O Megafone é um dos irmãos de uma família maior, a música tradicional mutante". É assim que António Pires, jornalista e crítico musical, autor do blogue "Raízes e Antenas", enquadra a obra do Megafone. Faz parte de uma família de criadores a que pertencem, por exemplo, a Banda do Casaco que, nos anos 1980, gravou com a pastora beirã Ti Chitas, ou os Sétima Legião, que, em "Sexto Sentido", fundiram tradição com electrónicas. Tudo gente que, como recorda António Pires, seguiu a preceito um aforismo de Gustav Mahler: "A tradição é a transmissão do fogo e não a adoração das cinzas". No caso de Megafone, vê-se ali "um trabalho de desconstrução iconoclasta, mas isso só acontece quando se ama profundamente a música tradicional". Caso contrário, acentua, "faria essa ‘desconstrução', por exemplo, com os Einstürzende Neubauten e canções de pigmeus africanos".

João Aguardela, ele que se sentia ridículo a tocar um blues, nunca o faria. "Quando toco o Megafone ao vivo, sinto-me um pouco como aqueles artesãos que trabalham à frente do público nas feiras de artesanato". Moldada a matéria perante os nossos olhos, resta-nos dar o próximo passo. A obra está aí, disponível para ser fruída e para inspirar novos futuros. É tempo de a aproveitar. Tempo de dançar Megafone.

Obituário - Claude Lévi-Strauss

Escreve Paulo Miguel Madeira no Público.

O antropólogo e etnólogo Claude Lévi-Strauss morreu na madrugada de sábado para domingo aos 100 anos, anunciou hoje a Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales.

Lévi-Strauss foi um dos grandes intelectuais franceses do século XX e lançou as bases da Antropologia moderna. Foi o primeiro membro centenário da Academia Francesa, para onde entrou em 1973. E foi também um crítico do etnocentrismo e de algum modo um precursor intelectual do movimento ecologista.

Foi também o primeiro antropólogo na Academia Francesa, a cujas sessões se deslocava regularmente até há não muitos anos.

Filho de judeus franceses, nasceu na Bélgica, em 1908, mas mudou-se para França ainda em idade de estudar no liceu. Depois, na Sorbonne, em Paris, estudou Direito e Filosofia, tendo sido professor desta última disciplina no ensino secundário.

Em 1935 foi para o Brasil. Aceitou um lugar como professor de Sociologia na Universidade de São Paulo, onde começou a sua carreira de etnólogo. Naquela época, havia milhares de índios nos subúrbios da cidade, o que lhe permitiu dedicar os fins-de-semana à sua nova disciplina.

Partiu mais tarde para o Mato Grosso e a Amazónia, onde contactou muitas tribos. Depois também estudaria índios norte-americanos.

Em “As Estruturas Elementares do Parentesco”, sua primeira obra de grande projecção, publicada em 1949, forneceu um novo método de análise que se tornou comum a muitos antropólogos. A tese do livro é que o "parentesco" está no centro da Antropologia que estuda o homem na sua dimensão social. E aqui o parentesco é entendido como as regras de aliança, de filiação, de residência ou de perpetuação das populações.

A sua obra mais marcante, “Tristes Trópicos”, chegou em 1950. Trata-se de uma autobiografia intelectual que recebeu o Prémio Goncourt e teve êxito também junto de um público muito para além da comunidade científica. E, em 1958, Antropologia Estrutural abre o caminho ao estruturalismo, a nova corrente do pensamento de que foi o principal teorizador, aplicando ao conjunto dos factos humanos de natureza simbólica um método que procura as formas invariáveis existentes em conteúdos diferentes. No ano seguinte era titular da Antropologia Social no Collège de France, de onde se reformou em 1982.

Lévi-Strauss criticou também o aparecimento de uma corrente de pensamento humanista que secundarizou a natureza, tornando-se assim num precursor do movimento ecologista.

Numa entrevista em 2005, Lévi-Strauss disse: "Dirigimo-nos para uma espécie de civilização à escala mundial (...) Estamos num mundo a que já não pertenço. Aquele que conheci, aquele de que gostei, tinha 1500 milhões de habitantes. O mundo actual tem seis mil milhões de humanos. Já não é o meu."

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um amigo lhe enviou uma matéria da Ciência Hoje On-line

Nome do remetente: Nuno Morna

Mensagem:Artigo ineressantíssimo...

Título da matéria: Sem lugar para o criacionismo
Link: http://www.cienciahoje.org.br/148270

Clique acima para ver a matéria ou copie e cole o link na barra de endereços de seu navegador.

Morreu Claude Lévi-Straus - TSF

Morreu Claude Lévi-Straus - TSF

Musicando - David Fonseca

Entrevista de Gonçalo Frota (Sol) a David Fonseca a propósito do lançamento do seu último disco.

Está desde ontem à venda o quarto álbum a solo de David Fonseca. Em entrevista ao SOL, o músico revela a perplexidade perante os concursos musicais da TV e conta como ultrapassou as reticências que tinha em relação à profissão de músico.

A entrevista acontece a mais de uma semana do lançamento de Between Waves (com ecos do rock clássico americano, de Roy Orbison e Tom Petty a Bruce Springstreen e Rick Ocasek), o quarto disco da vida de David Fonseca pós-Silence 4. Encontramo-nos nos escritórios da editora Universal e a conversa toma vida própria. O disco quase cai no esquecimento assim que o leitor portátil de CD em cima da mesa serve de rastilho a uma série de memórias do músico. Do CD David Fonseca passa para o vinil e daí para a assunção de que sente no objecto uma certa descoberta musical que cataloga como ‘doença’. «Ainda por cima faço colecção de todo lixo musical dos anos 80 e digo muitas vezes que o único mal de fazer música é perder tempo a fazê-la quando podia estar a ouvi-la». Deixa para a primeira pergunta da nossa conversa…


E não sente a culpa no sentido inverso? Quando está a ouvir esse ‘lixo musical’ não pensa que podia estar a compor?

Nada. E acho que uma pessoa não pode ser muito elitista em relação à música que ouve. Nem todos os locais são exactos para estar a ouvir o Lou Reed a cantar o Perfect Day. Há sítios onde é porreiro levar com uma daquelas ‘banhadas’ à moda antiga como o Falco ou a Samantha Fox. Há momentos para tudo e é bom que essa música também venha ao de cima de vez em quando. E nunca acho que estar agarrado a um vinil seja perder tempo. Portanto devo ser dos melhores clientes que esta indústria alguma vez poderá ter. Se fossem todos como eu esta indústria seria riquíssima. Infelizmente não é, nem nunca será.


E enquanto músico não o preocupa que o estado da indústria seja tão grave?

Um bocadinho. Há uma palavra muito recorrente hoje nas indústrias – sustentabilidade. E isso preocupa-me. Para já, defendo que a música deve ter um valor, seja ele qual for. E a sustentabilidade prende-se muito com a forma como se grava. Eu sei que é muito bonito o discurso do indie que defende ‘podes gravar em casa, podes fazer um vídeo com umas passadeiras’. Gosto muito desse discurso e é espectacular que as pessoas consigam fazer as coisas com essas condições mínimas. Mas nem tudo tem de ser feito assim. Acho que cingir a música a uma ideia caseira é extremamente errado – é para isso que servem os estúdios, que há malta que trabalha em discos durante anos, aprende a gravar, a misturar, a produzir, é para isso que servem os técnicos. Não é algo vago e essas coisas têm de ser pagas. São profissionais, acho que têm toda a legitimidade em existirem e eu quero que elas existam, porque eu não quero produzir o meu próprio disco, não quero perceber por que aquele botão faz não sei o quê. E portanto acho, claramente, que a indústria tem de ser sustentável.


Quem é mais atingido por essa falta de sustentabilidade?

Muitas vezes defende-se que são artistas como eu, já estabelecidos. É mentira. O mais atingido por isto é o miúdo que está lá em casa e que nunca lançou nenhum disco. A vulgarização mais imediata da questão é a ideia do ‘agora é possível fazer a minha música em casa, distribuí-la online de graça e é assim que vou conquistar o mercado’. É novamente mentira, o mercado não é conquistado dessa maneira. Não peguem em um ou dois exemplos que aconteceram assim e digam que é esta a maneira de funcionar do mercado. A ideia de que uma banda de Famalicão que está a começar, põe um EP online no MySpace e vai contaminar as ondas hertzianas é algo que não vai acontecer e que não é assim tão simples. Tomara que fosse. Há um trabalho gigantesco que tem de existir para que isso aconteça. E como nós vivemos numa sociedade onde a visibilidade desse trabalho é muito pouca parece simples. Houve o caso da Lily Allen que tinha umas músicas no MySpace e de repente era uma estrela. Mas quando se fala de os mp3 serem livres e gratuitos, ela é a primeira pessoa a dizer que não. É isso que ando a defender no nosso país, mas é uma mensagem difícil de passar, especialmente para aqueles miúdos todos que fazem aquela fila para os concursos televisivos a cantar. Faz-me confusão que os modelos e a maneira de pensar sobre como ser músico esteja tão delineada à volta da ideia de ter sucesso e ser famoso, e nunca encarada como uma profissão em que é preciso trabalhar. Em Portugal em vez de se defender a profissão do músico, defende-se muito mais a profissão do sucesso, o famoso que vai para a discoteca ser pago porque é famoso.


Aquilo a que se chama a ‘presença’.

Exacto, as presenças. Acho a ideia absolutamente absurda. Uma vez questionaram-me se eu fazia presenças. Só a ideia de fazer presenças pareceu-me algo fantasmagórico, porque pensei que estava num sítio e presente noutro lado qualquer. Mas já sabíamos que íamos progredir para isto, os media estão a progredir para essa vulgarização de que já o Warhol falava nos anos 60. Mas essa vulgarização atinge momentos de perfeita brejeirice – o facto de nós acharmos que uma pessoa é especial porque aparece em televisão… E quando é que o artista brilha? Brilha muito poucas vezes.


Em que situações é que isso acontece?

Em situações em que se tira muito prazer do que se está a fazer: quando um espectáculo está cheio, quando se trabalha muito para um disco chegar às pessoas e realmente se consegue chegar, quando se faz um concerto especial que não é numa cidade grande e enche. Não é o facto de receber um prémio na televisão, isso garanto que não é. Porque tudo aquilo que descrevo está relacionado com a adrenalina, com o facto de estar a subir uma montanha, de chegar ao topo de uma montanha pessoal. E não estar a ser glorificado sempre em relação aos outros. A profissão de artista é muito mais interessante do que nos querem fazer crer a maior parte das vezes. Tem a ver sobretudo com liberdade e expressão.


Esta a falar muito em profissão. No entanto, quando os Silence 4 terminaram houve um período em que não sabia se queria assumir a música como profissão. Já se sente confortável nesse papel?

Muito, muito confortável. Nessa altura achava que ia fazer isto mais uns tempos e que iria acabar por me fartar dos processos todos que a música implica e que não abdicam de alguma repetição: gravar um disco, ir para estúdio, depois fazer uma tour. Isso entediava-me por ser sistematicamente igual. Mas a certa altura foi a profissão que tomou conta de mim. De repente percebi: ‘Mas por que raio estou sempre a negar uma profissão que me parece tão natural?’ Em vez de combater essa ideia, resolvi abraçá-la de uma vez por todas. Acho que daí é que se explica com o facto de editar discos de dois em dois anos. Até acho que até sou preguiçoso na minha profissão, porque se sou músico devia fazer mais música. E espero que no futuro mais próximo isso seja uma realidade.


E, no fundo, o disco de dois em dois é o padrão.

Até já se desvia um bocadinho do padrão. Não vejo muita gente à minha volta em Portugal a editar de dois em dois anos.


É curioso que se torne exemplar na forma como abraça uma profissão que teve tanta relutância em aceitar.

É verdade. Posso não estar convencido, mas ao menos enquanto cá estou quero fazer isto mesmo bem [risos]. Acho que isto se prende um bocado com uma certa insatisfação e uma certa hiperactividade que tenho de resolver. E penso que comecei na música relativamente tarde. Gostava de ter começado a fazer discos aos 17 ou 18 anos e só comecei aos 25. E os discos a solo só aos 30. Vai-se sempre a tempo para tudo mas tenho sempre a sensação de que não tenho tempo para parar. Não há vez nenhuma em que saia do estúdio e não esteja a fazer as misturas finais com o meu produtor e a explicar-lhe o que gostava de fazer no meu próximo projecto. Isto é assustador, mas ao mesmo tempo deixa-me sempre inquieto em relação ao futuro.


Mas isso manifesta-se de uma forma clara?

Sim, sim. Consigo ver o que quero fazer. O que não quer dizer que isso vá acontecer, mas tenho o projecto. Posso garantir que no dia em que for para debaixo da terra, onde quer que me ponham, vou ter dez projectos por fazer. Porque é a minha maneira de ser. Gosto dessa ideia porque sinto uma liberdade extrema nisto. Sei que se falhar, o que quer que falhe não tem importância nenhuma porque tenho mais dez coisas a acontecer e possíveis de agarrar.


O que quer dizer que mantém projectos vivos fora da música.

Sim, sim. Isso está sempre a acontecer – pequenos, grandes, só para mim… Tenho um arquivo gigantesco e uma das gavetas diz ‘por explorar’ [risos]. São coisas em que penso e depois acho que vai levar um tempão a fazer. Isso ajuda-me muito. Quanto tive o primeiro projecto musical, os Silence 4, aquilo foi um fenómeno. Assustou-me muito porque havia qualquer coisa em mim que dizia que tinha de estar à altura do sucesso. Ou seja, tudo o que fizesse a seguir, especialmente se fosse um disco dos Silence 4, tinha de estar à altura. Quer quisesse quer não, era um peso que estava em cima de mim e só muito lentamente consegui tirá-lo dos ombros. Essa foi uma das boas maneiras que descobri: nem tudo tem de ter sucesso. Quando faço algo não tenho de pensar necessariamente que aquilo vai ter mesmo de resultar senão estou em apuros com a minha vida pessoal. Não vivo nesse pânico.


Quando estava nas misturas finais do Dreams in Colours que vislumbre teve deste disco? Era a ideia de voltar a tocar todos os instrumentos?

Não, normalmente tudo muda com o tempo porque quando se acaba de fazer um disco as coisas estão muito frescas e quer-se fazer o antónimo do que se acabou de fazer. Penso sempre que o seguinte vai ser radicalmente diferente. Depois tudo vai amadurecendo com o tempo porque uma das coisas boas com os discos é que estabeleço metas para os acabar. Normalmente trabalho muito o disco no estúdio caseiro e depois marcamos o estúdio profissional com o produtor e digo ‘acabamos as gravações no dia tal’, porque é a única forma que tenho de acabar o disco. E também faço isso porque assim forço-me a que o disco seja o retrato daquele tempo e não vou andar ali à procura do som perfeito. Quando acabei o meu último disco, lembro-me de ter pensado várias, mas muitas delas prendiam-se com tocarmos ao vivo num conceito diferente. Um dos meus grandes projectos com o disco anterior foi mudar claramente o meu espectáculo ao vivo e uma certa atitude que havia da minha parte.


Mas o que mudou nessa atitude?

Uma coisa é subir a um palco e olhar para as canções como sendo minhas. Vou lá acima, faço as minhas canções e venho-me embora. E há outra coisa que é subir a um palco na Covilhã, num dia de chuva e granizo, olhar para a frente e ter a clara e real noção de que aquelas pessoas saíram de casa numa noite daquelas e ficaram ali dispostas a olhar para mim e ouvir-me durante duas horas. A certa altura apercebi-me disso, que se calhar devia ter em conta que esse esforço tinha sido feito.


E como se operou essa mudança?

Passei de um cantautor obscuro e sombrio em cima do palco, que só diz uma palavra, obrigado, e muito baixinho de vez em quando, para um storyteller que lhe apetece e quer genuinamente participar nesta noite. Apercebi-me que queria vivamente que estas pessoas se esquecessem da vida delas, do que estão a fazer, dos problemas que tiveram, e que entrasse comigo duas horas naquilo. Comecei essa digressão de uma forma sombria e acabei-a a vestir fatos de astronauta em palco, com fogo-de-artifício, a cantar canções como o ‘Video Killed the Radio Star’ e a contar histórias tenebrosas de pessoas que me batem à porta a meio da noite. O que tentei perceber foi: se tenho tanto trabalho a fazer estes discos e que encaixem num universo, por que razão depois ao vivo sou uma pessoa tão sombria e displicente com o trabalho desta forma? Não podia ser.


Recentemente lançou um desafio público para encontrar a substituta da Rita Redshoes na sua banda. Já encontrou a pessoa certa?

Já, mas ainda não me deixam dizer. É uma pessoa que está noutros projectos e fiquei contente que ela tivesse até concorrido. Mas esperava que mais gente concorresse. Ainda há pouca gente a querer aprender instrumentos e a querer participar de facto naquilo que é uma profissão. É muito estranho para mim estar deste lado a dizer ‘vem comigo participar numa coisa que é real, que acontece e que vai andar pela estrada toda, aqui e lá fora’, e por outro lado ver aqueles milhares de pessoas no concurso televisivo. Faz-me muita confusão. Como é que é possível? É certo que nem todos gostam da música que faço mas mesmo assim esperaria muitas mais. Não tive milhares de pessoas a concorrer. Se calhar nem cem tive.

domingo, 1 de novembro de 2009

Musicando - António Sérgio

O radialista António Sérgio faleceu na noite de sábado, vítima de um problema cardíaco, aos 59 anos, das quais mais de 40 anos foram ao serviço da rádio, disse à Agência Lusa Luis Montez, dono da Rádio Radar.

António Sérgio fazia actualmente o programa «Viriato 25» da rádio Radar, tendo inclusivamente estado em estúdio a gravar o programa da próxima semana, que será posto no ar tal como previsto, garantiu Luís Montez.

O dono da Radar qualificou António Sérgio como «um mestre da rádio, uma referência» ou o «John Peel português». Montez afirmou que o radialista era um exemplo de trabalho e dedicação e «estava sempre preocupado com os ouvintes».

Lusa

Teatrando - O Português que se Correspondeu com Darwin

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