sábado, 13 de julho de 2013

Poema XXIX


Uma merda criogénica
Subia pela parede
e a tudo se agarrava.
Viscosa.
Gordurenta.
Mole.

O nauseabundo cheiro
Impregna as almas de quem passa.
Odor para além da morte,
Repugnante.
Nojento.
Pérfido.

O país desinteressado
Atira a alma para o estrangeiro.

Grafiticamente
Manifesta-se a indignação…
Mas tarda o acordar.

A voz hipócrita da assinatura
Que matou a espiga e o peixe
Fala agora do pão
Que mais não é que amassada miséria.


Um chuveiro de ácido
Que te lavasse a alma
De tanta inanição.
Há uma avassaladora tristeza
                               que a tudo envolve.
Uma raiva contida prende
                               entre dentes palavras indizíveis.
Uma maldição,
Uma maldição de antanho que tudo contém.

A fome percorre desonestos
Caminhos dourados
Onde se propõem,
Vulgares,
Títulos sem valor.

Todos os dias é adiada
                a revolta para tempo mais ameno.
Na raiva perdeu-se o vermelho
                e o amarelo impede o querer!

Os dedos que se fecham na palma da mão,
Contidos,
Esperam libertar-se um dia
E gritar bem alto o estado da nação!


Ao final da tarde,
Ao redor de uma mesa,
Eunucos debitam palavras sem sentido.

Velhos,
Vamos perdendo a universalidade da árvore,
Matando a semente
De onde nada germina.

Do cimo da ponte
Atentados à inteligência
Saem de bocas sem dentes.

Numa contida televisão perto de si
Dança a ignorância… de hora a hora!

É chegado o tempo de endireitar as esquinas,
Alargar todos os canos,
Torcer todos os sentidos,
Saborear ventos solares
E tempestades avassaladoras.
É chegado o tempo de soltar a alma,
De gritar o lírico basta!

Estes são tempos de todas as insubmissões!

Nuno Morna - Julho 2013