sexta-feira, 31 de julho de 2009

Lendo - Argonáutica de Cavalaria

Escreve Luís Rocha no DN/Madeira de hoje:

A Direcção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) pretende editar, no próximo ano, a obra 'Argonáutica de Cavalaria', do autor madeirense seiscentista Tristão Gomes de Castro. Esta informação foi-nos adiantada pelo director, João Henrique Silva, por Marcelino de Castro, responsável pelas edições de livros da DRAC, e pelo investigador espanhol Aurelio Vargas Díaz-Toledo, da Universidade Complutense de Madrid, responsável pela redescoberta desta antiga obra literária na Torre do Tombo, em Lisboa. A edição reveste-se de particular significado e interesse, nacional e mesmo internacional, na medida em que se trata de um antigo romance de cavalaria na tradição dos de Chrétien de Troyes (séc. XII), que narram as lendas arturianas e a demanda do Graal, ou do mais recente ' Amadis de Gaula' , cuja autoria não é certa. O sec. XVI foi, de facto, um período de renascimento do interesse pelos romances de cavalaria, e é nessa linha que se enquadra este 'Leomundo de Grécia ou Argonáutica de Cavalaria', de Tristão Gomes de Castro.


A tradição dos romances de cavalaria, disse-nos Aurelio Vargas Díaz-Toledo, "teve os seus inícios na França, com Chrétien de Troyes, com aqueles romances corteses onde surgem as histórias de Lancelot, de Perceval, daquelas personagens que buscavam o Santo Graal... Essa tradição manteve-se durante toda a Idade Média. Então, já nos finais do séc. XV, graças ao 'Amadis de Gaula', o género renovou-se e ganhou uma nova vitalidade, totalmente diferente. Em 'Amadis de Gaula', o autor castelhano Garcí Rodriguez de Montalvo refundiu, readaptou todos estes materiais medievais do Amadis e adaptou-o aos tempos dos reis católicos de Espanha. É com este livro que se dá verdadeiramente uma eclosão do género cavaleiresco, e essa paixão pelos romances de cavalaria, que teve um sucesso enorme não só em Castela, mas também em Portugal".

Pesquisando um livro perdido

Aurélio Vargas sublinha que a influência dos romances de cavalaria ainda hoje se faz sentir entre nós. A freguesia de Gaula, na Madeira, terá sido denominada assim por causa do livro 'Amadis de Gaula'. Nomes como 'Lançarote', (como o da família senhorial Lançarote Teixeira de Gaula) também terão derivado da literatura cavaleiresca (de 'Lancelot', das lendas arturianas?). Outros, ainda usados hoje em dia - como Oriana - serão ainda reflexos desse passado literário.

Para o investigador espanhol, a publicação de 'Argonáutica de Cavalaria' pela DRAC é uma importante consequência do seu trabalho de pesquisa, "pois assim tenho a oportunidade de difundir as minhas investigações relativas a Tristão Gomes de Castro e ao seu texto, desconhecido desde o séc. XVII, quando se deu mais ou menos a última referência bibliográfica, de Barbosa Machado, na sua Biblioteca Lusitana, que se refere a Argonáutica de Cavalaria ou Leomundo de Grécia, o protagonista do romance". Por toda a colaboração, está grato à DRAC e à Universidade da Madeira. Aurélio Vargas conta-nos que o livro estava desaparecido, "ninguém o tinha visto desde essa altura", e que a sua descoberta se deu por mero acaso. "Eu estava a procurar outras coisas, relacionadas com autores de romances de cavalaria, debruçando-me principalmente sobre o livro 'Palmeirim de Inglaterra', de Francisco de Moraes (referido no D. Quixote de Cervantes como um dos melhores livros de cavalaria) e, de repente, apareceu naquelas fichas, feitas por bibliotecários do séc. XIX, uma referência a Leomundo de Grécia". O académico espanhol conta que já não era possível fazer uma requisição nesse dia: era uma sexta-feira, ao final da tarde. Passou nervoso o fim-de-semana. Só na segunda-feira pôde folhear o manuscrito, fazendo assim a surpreendente descoberta, da qual posteriormente deu conta numa conferência em 2008 na Universidade da Madeira, e num artigo publicado na revista cultural 'Islenha' nº 43, editada pela DRAC. Actualmente, Aurélio Vargas está de novo na Madeira, graças à UMa e a uma bolsa da DRAC, para, durante um mês, "pesquisar e completar algumas investigações sobre a biografia de Tristão Gomes de Castro, que foi um personagem importante na ilha da Madeira".

Isto é importante, "porque a minha pesquisa foi desenvolvida a partir de Toledo e Madrid, e isso não é, claro, o mesmo que consultar aqui os próprios documentos, em pessoa". Fomos encontrá-lo no Arquivo Regional da Madeira. "Estou a descobrir coisas importantes sobre as propriedades dos Gomes de Castro, e sobre a personalidade de Tristão. Por exemplo, há uma semana encontrei um documento onde aparecia a primeira assinatura do próprio Tristão Gomes de Castro, o que para mim é importante, e acho que também o é para a cultura madeirense".

Nascido no Funchal "não se sabe bem quando, 1539, 1544, e falecido a 14 de Março de 1611, Tristão Gomes de Castro era descendente de um castelhano, Cristóvão Martins de Agrinhão e Vargas, que casou com Joana Gomes de Castro, do Funchal, por sua vez descendente de João Gomes da Ilha, o trovador, que deu o nome à Ribeira de João Gomes. "Na infância, esteve na corte portuguesa, no continente, e teve uma formação intelectual importante, dentro de meios onde pôde alcançar certos privilégios. Foi alferes-mor da ilha da Madeira, um cargo importante, sobretudo militar, e é possível que, no continente, entrasse em contacto com círculos culturais como os de Francisca de Aragão ou da Infanta D. Maria, que fazia serões onde se falava principalmente de literatura (e de romances de cavalaria) e ainda de poesia. Nestes círculos, moviam-se autores tão importantes como Jorge Ferreira de Vasconcelos ou o próprio Luís de Camões. É possível que tenha sido nestes círculos que surgiu Leomundo de Grécia, esta trilogia, estes textos cavaleirescos importantes para a história da literatura portuguesa, e da literatura madeirense".

Ligado à Universidade Complutense de Madrid como 'colaborador honorífico', "uma figura simbólica, sem nenhum cargo nem importância, mas que me vincula ao Departamento de Filologia Românica", Aurélio Vargas Díaz-Toledo está agora a trabalhar também na Universidade de Alcalá de Henares, perto de Madrid. Ali, no Centro de Estudos Cervantinos, está a preparar uma base de dados sobre romances de cavalaria, onde se reunirão todas as informações relativas a autores espanhóis e portugueses. É um projecto ambicioso, para desenvolver durante três anos, e que exigirá actualizações de tempos a tempos, "para que ganhe vida, e importância, dentro da Internet".

As pesquisas que este espanhol faz neste momento na Madeira visam a criação "de uma edição anotada, e muito bem cuidada, muito bem feita por parte da DRAC, e que tentará ser um modelo a seguir para edições futuras da obra".

Para mais, como enfatizam Aurelio Vargas e Marcelino de Castro, a edição de 'Argonáutica de Cavalaria' será o primeiro número de uma colecção que se designará ou'Biblioteca Madeirense', ou 'Biblioteca de Autores Madeirenses', ou algo parecido. Objectivo: publicar uma colecção de referência, com obras de autores da ilha ou que, não sendo madeirenses, tenham escrito sobre ela, textos já com um lugar consagrado na história da literatura. Em princípio, não autores vivos, disse ao DIÁRIO Marcelino de Castro. Pelo menos não para já.

'Argonáutica...' tem muita qualidade

O investigador do país vizinho esclarece que o romance escrito por Tristão Gomes de Castro seria, na realidade, uma trilogia. A primeira parte teria, como protagonista, Leomarte de Grécia, imperador e pai de Leomundo; a segunda, tem como herói Leomundo, intitulando-se 'Argonáutica de Cavalaria'; e a terceira parte teria Floramonte de Grécia, filho de Leomundo. O enredo gira em torno "de um confronto entre dois povos, o grego e o espanhol. Leomundo tenta conquistar o amor de Rocilea, princesa das Espanhas. Mas os dois reinos estão em confronto por diferendos anteriores, e são irreconciliáveis, tal amor não pode triunfar. Mesmo assim, Leomundo tenta conquistar o amor de Rocilea, através de intervenções militares, amorosas... Tenta tudo para conseguir a mão dela".

A da corte grega é comentada por Aurélio Vargas como "um elemento que também aparece em outros romances de cavalaria... Uma corte exótica, onde tudo é perfeito, onde os cavaleiros chegam contando as suas aventuras..." Aliás, a aventura é algo de essencial nestes romances de cavalaria. Algo que fascina. Este romance em particular não se situa num tempo e num espaço absolutamente concreto. Há um grau de flexibilidade. Do que o nosso interlocutor não tem dúvidas é que esta obra é "literariamente de muita qualidade, mesmo". Cita especialistas como Isabel Almeida, da Universidade de Lisboa, ou Pinto de Castro, da Universidade de Coimbra, como apreciadores do labor de Tristão Gomes de Castro "como um dos grandes prosadores do séc. XVI". Sabe-se que escreveu outras obras. Mas perderam-se. "Provavelmente porque as obras de Tristão se difundiram de uma forma manuscrita, não impressa".

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cinema - Frequência

O estudo Bareme Cinema (Marktest), relativo ao período de Julho de 2008 a Junho de 2009, foi agora divulgado. Como de costume sobre a a Madeira.

Os dados indicam que, dos residentes no Continente com 15 e mais anos, 2,607 milhões costumam ir ao cinema, o que representa 31,4% do universo em estudo. O estudo revela grande diferenciação se analisada a idade dos entrevistados: os jovens são os que têm maior afinidade com o cinema, com 64,2% dos jovens dos 15 aos 17 anos a afirmarem ir com regularidade e 68,0% dos jovens dos 18 aos 24 anos a manifestarem igual interesse. 51,6% são mulheres, 66,6% são jovens com menos de 35 anos, 42,1% são estudantes ou quadros médios e superiores, 43,2% residem na Grande Lisboa ou Litoral Norte e 58,7% pertencem às classes sociais média ou média baixa. Dos espectadores, 29,3% vão ao cinema ao sábado, 13,4% à sexta-feira e 10,5% ao domingo.

Conhecendo - Sé do Funchal

Lê-se no DN/Madeira de hoje:

A Sé do Funchal está integrada num acordo estabelecido recentemente entre o Ministério da Cultura e a Conferência Episcopal Portuguesa, para a implementação de um projecto denominado 'Rota das Catedrais'. O projecto, segundo nos confirmou a assessoria do Ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, contempla as regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Além da Sé do Funchal, entre os 'candidatos' estão incluídas as Sés de Lisboa, Faro, Angra do Heroísmo, Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Coimbra (a Sé Nova e a Sé Velha), Évora, Guarda, Lamego, Leiria, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Viseu, Elvas e Silves, além das Concatedrais de Castelo Branco e Miranda do Douro.

O Pe. Marcos Gonçalves, director do Gabinete de Informação da Diocese do Funchal, confirmou-nos que "o Cabido dos Cónegos da Catedral do Funchal foi contactado pela Comissão Episcopal para os Bens Culturais da Igreja", tendo preenchido um "formulário de adesão à Rota das Catedrais".

Segundo o nosso interlocutor, neste projecto figuram vários itens, como a "estabilidade e consolidação do edifício, iluminação e segurança, novos serviços sanitários, património móvel, restauração da talha dourada, serviço religioso de atendimento, um 'site' de divulgação e promoção turística". Para atingir estes objectivos de beneficiação, e ao abrigo do acordo entre o MC e a Conferência Episcopal Portuguesa, prevê-se uma comparticipação de fundos comunitários (no âmbito do QREN, Quadro de Referência Estratégico Nacional, de 2009 a 2013) na ordem dos 55 a 60%, sendo a restante percentagem residual repartida entre o Ministério da Cultura, as autarquias locais e a Igreja Católica, podendo ainda associar-se apoios ao abrigo da Lei do Mecenato, "ou seja, empresas que queiram participar", reduzindo eventualmente os encargos das outras três partes acabadas de referir. O Pe. Marcos Gonçalves admitiu não ter a certeza se as verbas 'oficiais' a injectar neste projecto seriam directamente provenientes do Ministério da Cultura ou se teriam de ser provenientes do Governo Regional (no caso, a DRAC).

Uma dúvida partilhada pelo director regional dos Assuntos Culturais, João Henrique Silva, a braços com a recente redução de 50% nas verbas para a Cultura e Património.

Num contacto telefónico com Rui Peças, assessor do Ministério da Cultura, este responsável disse-nos no entanto considerar que a participação financeira do Ministério da Cultura seria extensiva à RAM, não tendo o Governo Regional de entrar com verbas próprias. Algo de que João Henrique Silva, todavia, duvida. De qualquer modo, a DRAC teria de estar envolvida de alguma forma em todo este processo, mas o director alega não possuir ainda informação completa para esclarecer esta dúvida.

O acordo entre o MC e a Conferência Episcopal prevê a "consideração como um todo coerente (...), como um conjunto patrimonial" das catedrais de Portugal, na tentativa de estabelecer melhor planeamento, iniciativas de recuperação menos desiguais, e dinamizando sensibilidades para a herança histórica e para o turismo religioso e cultural. Nesse sentido, diz o documento, "as partes signatárias procurarão promover o interesse e a participação, extensíveis aos Governos Regionais dos Açores e da Madeira, de diferentes instituições e entidades, nomeadamente as autarquias locais, o Instituto de Turismo de Portugal, I.P., as Universidades", na implementação deste projecto "através da celebração de protocolos que sejam, para esse efeito, necessários, úteis e convenientes". Recuperar e valorizar as catedrais é o objectivo fundamental.

João Henrique Silva diz não poder, para já adiantar muito sobre este assunto e ter algumas dúvidas sobre o papel da DRAC em todo este processo, mas sempre vai considerando que "as iniciativas de recuperação do património são sempre positivas", e que acha bem que o Ministério da Cultura tome medidas que não são confinadas ao território continental. Falta ainda à RAM avaliar os trâmites práticos do processo.

Luís Rocha

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Resistindo - Persepolis 2.0

A Internet continua a ser um aliado para os críticos do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Agora, uma história em BD acaba de ganhar destaque na rede.

«Persépolis 2.0», disponível no site www.spreadpersepolis.com, é uma colagem de excertos do livro «Persépolis», autobiografia em BD da iraniana Marjane Satrapi, com novos diálogos. Nesta versão, os desenhos a preto e branco, com os traços da autora, recriam os dias de fúria no Irão após as eleições de 12 de Junho.

Composta em três partes, a BD foi criada por dois jovens, filhos de iranianos, que fotografaram excertos do livro, escreveram e colaram novos diálogos usando os programas Photoshop e Illustrator.

A dupla quis aproveitar o apelo da autora a fim de chamar a atenção para a situação do Irão. «Esta eleição deixou clara a militarização da política iraniana. Se foi 'roubada' ou não, não podemos dizer, mas a repressão violenta só serviu como combustível para a oposição», diz Sina, co-autor da história.

A história de «Persépolis 2.0» vai de 12 a 21 de Junho e mostra a euforia popular em torno da possibilidade de vitória de Mousavi, a revolta da população com o resultado oficial - que proclamou Ahmadinejad vencedor -, os levantes sociais e o uso da Internet para denunciar a repressão violenta.

A BD termina com a jovem Neda Agha-Soltan - que foi morta nos confrontos com a polícia e se tornou símbolo dos manifestantes - nos braços de Deus, com a mensagem: «Sua morte não foi em vão».

Ao lado, um aviso: «Espalhem a mensagem. Twitter, Facebook, e-mail».

http://www.flickr.com/photos/30950471@N03/sets/72157620466531333/show/

Lendo - "De degrau em degrau, vamos descer até o grunhido"

José Saramago defende que o Twitter não é mais do que «a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido». O prémio Nobel português falou ao blog Prosa, do jornal brasileiro O Globo, numa altura em que o seu livro «O Caderno» é lançado do outro lado do Atlântico. O escritor revelou que ainda este ano poderá ser lançado o segundo volume das suas crónicas na internet (http://caderno.josesaramago.org/) e que o filme sobre ele e a mulher Pilar del Rio poderá ter comercialização também em 2009.

Política, literatura, religião, viagens, Chico Buarque e, logicamente, o mundo da internet, dos blogues e do Twitter. Os temas abordados por Saramago na entrevista são inúmeros e dão uma pequena ideia sobre algumas das opiniões do prémio Nobel. No Brasil, país onde o escritor tem um elevado número de leitores e admiradores, «O Caderno» foi lançado pela editora Companhia das Letras. A entrevista, como é lógico ao tema, foi feita por e-mail.

A entrevista de José Saramago na íntegra (em português do Brasil):

O GLOBO: Seu livro «O caderno» é uma colectânea de textos de seu blog. Escritores mais velhos, porém, costumam manifestar certo descaso com a internet e os blogs. Como o senhor lida com a internet? O senhor lê outros blogs? Enxerga a internet como uma possibilidade de literatura ou apenas como fonte de informação?

SARAMAGO: Escrever num blog não difere em nada de escrever numa folha de papel. Salvo a extensão do texto em que, no caso do blog, se aconselha uma certa brevidade, os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog. Não sou frequentador assíduo da internet. Consulto o Google com frequência, nada mais. Quanto a ler outros blogs, faço-a às vezes, mas não mantenho diálogo com eles. Para mim, a internet é uma fonte de informação rápida e em geral eficaz, porém não confundamos: a literatura ou é ou não é, não há meios termos. Muitas transformações teriam de dar-se (e eu não vejo como nem quais) para que a internet tomasse lugar no fazer literário.

O senhor acha que a experiência em escrever para um blog, onde teoricamente os textos são mais curtos e diretos, teve alguma influência na sua escrita?

SARAMAGO: Nenhuma. Continuo a utilizar frases longas, das que dão espaço e tempo para observações e análises quer considero necessárias. A tão louvada clareza das sínteses é, não raro, enganosa.

E como surgem os temas para o blog? A variedade é a regra? Qualquer pensamento que o senhor tenha pode motivar um post?

SARAMAGO: Não qualquer, evidentemente. Os temas surgem com naturalidade, embora uma vez ou outra haja que esforçar-se um pouco. A minha maior preocupação é não cair na monotonia nem na previsibilidade.

O senhor acompanha o fenómeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?

SARAMAGO: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.

No livro, no texto do dia 25 de Novembro de 2008, o senhor revelou que jornalistas brasileiros, numa colectiva de imprensa, ficaram interessados em fazer perguntas sobre seu blog. Nele, o senhor escreve, sobre a internet: «Será que aqui, a bem dizer, nos assemelhamos todos? É isto o mais parecido com o poder dos cidadãos?». O senhor diz, ainda: «Não tenho respostas, apenas constato perguntas». Um ano depois, a resposta apareceu? O senhor considera a internet um espaço democrático e verdadeiramente livre?

SARAMAGO: Nada há que seja verdadeiramente livre nem suficientemente democrático. Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo.

Já em 22 de Outubro de 2008, o senhor escreveu sobre o romance «Budapeste», de Chico Buarque: «Não creio enganar-me dizendo que algo novo aconteceu no Brasil com este livro». Por que a literatura de Chico seria tão renovadora? O que o senhor pensa sobre o resto de sua obra. E o senhor já leu o novo romance de Chico, «Leite derramado»?

SARAMAGO: Achei «Leite derramado» à altura do melhor que Chico Buarque tem escrito, embora, de todos os seus livros, continue a preferir «Budapeste». A meu ver, a grande renovação operada por Chico Buarque deu-se ao nível da linguagem: o vernáculo toma o seu lugar ao lado do coloquial.

Em vários textos do livro, o senhor é crítico a figuras políticas: George Bush em 18 de setembro de 2008; Berlusconi em 19 de Setembro de 2008 e em 13 de Março de 2009; José Maria Aznar em 22 de Setembro de 2008; o papa Bento XVI em 9 de Outubro de 2008; Sarkozy em 6 de Janeiro de 2009; e a própria «esquerda» é alvo de críticas em 1 de Outubro de 2008. Mas há também textos esperançosos, sobretudo em relação à eleição de Barack Obama. Só que eu não me recordo de ter lido nada específico sobre o governo do Brasil. O que o senhor acha do presidente Lula?

SARAMAGO: Acho que o presidente Lula tem feito um excelente trabalho neste segundo mandato se aceitarmos como inevitáveis certas «infidelidades» ao seu programa inicial.

No dia 16 de Novembro de 2008, o senhor escreveu, ao completar 86 anos: «Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado». O senhor acha impossível ser surpreendido por alguma entrevista hoje? O jornalismo contemporâneo teria se tornado esse mar de obviedades? Existiria alguma pergunta que o senhor espere (e gostaria que) fosse feita, mas que nunca foi feita?

SARAMAGO: Creio que me fizeram todas as perguntas possíveis. Eu próprio, se fosse jornalista, não saberia o que perguntar-me. O mal está nas inúmeras entrevistas que tenho dado. Em todo o caso, tenho o cuidado de responder seriamente ao que se me pergunta, o que me dá o direito de protestar contra a frivolidade de certos jornalistas a quem só interessa o escândalo ou a polêmica gratuita.

Mesmo após a publicação do livro, o senhor segue atualizando seu blog. O senhor tomou gosto pela coisa? Pretende seguir ocupando esse espaço indefinidamente? Podemos esperar um «O caderno II» para breve?

SARAMAGO: Haverá um «O caderno II» ainda este ano, mas não me vejo a escrever blogs indefinidamente. Tem sido uma boa experiência, chego a mais leitores com mais rapidez, mas tudo acaba por cansar.

Ainda nos textos recentes do blog, no dia 13 de julho o senhor escreveu um post muito afectuoso sobre sua alegria em ser escolhido académico correspondente da Academia Brasileira de Letras. Por que o Brasil é tão importante para o senhor? Qual sua memória mais antiga do país?

SARAMAGO: O Brasil é importante para qualquer português. Gostaria de nos ver mais unidos a trabalhar em assuntos de interesse comum, mas as políticas nacionais nem sempre se inspiram nas melhores razões. É uma pena que assim seja. As minhas memórias mais antigas são as da literatura, os nomes e as obras de Machado de Assis, Manuel Bandeira, Jorge Amado, João Cabral de Mello Neto, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos — tantos e tão grandes escritores, estes e outros, que fizeram da literatura brasileira um tesouro inesgotável.

Um documentário sobre sua relação com sua mulher, Pilar del Río, está sendo realizado, não? Em que fase está a produção? O senhor sempre me pareceu uma pessoa reservada em relação a sua intimidade, então por que aceitar que filmassem parte de sua rotina conjugal? Como foi abrir sua intimidade para uma equipe de filmagem? A proximidade com a câmara incomodou, provocou constrangimentos?

SARAMAGO: O documentário está na última fase da produção, é mesmo possível que o filme possa ser visto ainda este ano. Quanto ao resto, continuo a ser uma pessoa reservada. É certo que a abordagem escolhida aflora o delicado território dos sentimentos, mas sempre com discrição, a mesma que carateriza a nossa forma de viver. Quanto a isso da “rotina conjugal”, confesso que não sei exactamente de que se trata...

in Diário Digital

domingo, 26 de julho de 2009

Musicando - We Will Survive: Igudesman & Joo + Kremer & Kremerata

Fantástico!!!!!!!

Cinema - Paulo Branco

O produtor português Paulo Branco vai produzir a adaptação cinematográfica do romance "Cosmopolis", de Don DeLillo, realizada e escrita por David Cronenberg. Paulo Branco confirmou ao PÚBLICO a parceria, mas reservou para mais tarde mais detalhes sobre o projecto.

A produção do filme, cuja rodagem está prevista para 2010 em Toronto e Nova Iorque, ficará a cargo da produtora Alfama Films, de Paulo Branco, sediada em Paris.

"Cosmopolis" (2003), de um dos mais conceituados autores da literatura americana contemporânea, retrata 24 horas da vida de Eric Packer, um jovem milionário que, a bordo da sua limusina de luxo, se cruza com diferentes elementos da sua vida, mas também da vida autónoma e frenética da cidade de Nova Iorque.

O filme é co-produzido pelo cineasta canadiano através da sua produtora, a Toronto Antenna.

O elenco ainda não está escolhido.

in Público

terça-feira, 21 de julho de 2009

Festejando - Prêt-à-Porter


(clicar sobre a imagem para ver maior)

Musicando - Prince e Ana Moura

A fadista Ana Moura e o músico pop Prince, que esteve na segunda-feira em Lisboa, projectam trabalhar juntos, disse à Lusa fonte próxima dos artistas, sem adiantar outros pormenores.

Prince esteve na passada segunda-feira em Lisboa, acompanhado pela fadista, a quem elogiou já publicamente "a sensualidade da voz".

Em Maio passado,o músico norte-americano deslocou-se propositadamente a Paris para assistir ao espectáculo da criadora de "Búzios" na prestigiada sala La Cigale.

Prince não participará no próximo disco de Ana Moura, a sair no próximo Outono, "mas é seguro que estão os dois a trabalhar num projecto conjunto", disse a mesma fonte.

O cantor confessou recentemente em Montreux, onde participou no Festival de Jazz, "ser fã de Ana Moura".

Prince afirmou-se "impressionado" com a forma como a fadista, vencedora do Prémio Amália Rodrigues do ano passado, "cativa as plateias".

A estrela pop considera "notável" as prestações em palco de Ana Mourão "apenas acompanhada por três músicos".

Na segunda-feira, o trabalho em conjunto de Ana Moura e Prince foi conhecer a noite lisboeta, tendo os dois estado no Bairro Alto e na Avenida 24 de Julho.

Ana Moura já colaborou com a banda britânica The Rolling Stones, com a qual actuou no Estádio de Alvalade, em Julho de 2007.

Este mês foi editado o álbum "Stones world", um projecto do saxofonista Tim Ries baseado na música da banda, que conta com a participação de Ana Moura em dois temas, "No expectations" e "Brown sugar".

A próxima actuação da fadista está prevista para 30 de Julho no Parque do Império em Mirandela (Bragança), e no dia seguinte em Oliveira do Hospital (Coimbra), no Parque do Mandanelho.

Lusa

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Musicando - Festival de Músicas do Mundo de Sines

O maior festival português do género e um dos maiores do mundo, Quem estiver por aquelas bandas não perca. Aqui fica o programa:

Programa

PORTO COVO
Palco junto ao Porto de Pesca

Sexta-feira, 17 de Julho

O’Questrada (Portugal), 21h30
Rupa & The April Fishes (EUA), 23h00
Circo Abusivo (Itália), 00h30

Sábado, 18 de Julho

Victor Démé (Burkina Faso), 21h30
The Ukrainians (Reino Unido), 23h00
Dele Sosimi Afrobeat Orchestra (Nigéria/Reino Unido), 00h30

Domingo, 19 de Julho

Wyza (Angola), 21h30
Orquesta Típica Fernández Fierro (Argentina), 23h00
Daara J Family (Senegal), 00h30

SINES

Segunda-feira, 20 de Julho

Mor Karbasi (Israel/Reino Unido), 22h00, Centro de Artes de Sines
Portico Quartet (Reino Unido), 23h30, Centro de Artes de Sines

Terça-feira, 21 de Julho

Corneliu Stroe & Aromanian Ethno Band (Roménia), 22h00, Centro de Artes de Sines
Carmen Souza (Portugal/Cabo Verde), 23h30, Centro de Artes de Sines

Quarta-feira, 22 de Julho

Mamer (China), 18h30, Centro de Artes de Sines
Trilhos - Novos Caminhos da Guitarra Portuguesa (Portugal), 21h00, Castelo
Janita Salomé (Portugal), 22h15, Castelo
Uxía (Galiza), 23h30, Castelo
Acetre (Extremadura), 00h45, Castelo
L’Enfance Rouge (França/Itália/Tunísia), 02h30, Av. Vasco da Gama

Quinta-feira, 23 de Julho

Assobio (Portugal), 18h00, Centro de Artes de Sines
Alô Irmão - Narf & Manecas Costa (Galiza/Guiné-Bissau), 19h30, Av. Vasco da Gama
Hanggai (China), 21h30, Castelo
Chucho Valdés Big Band (Cuba), 23h00, Castelo
Kasaï Allstars (RD Congo), 00h30, Castelo
Damily (Madagáscar), 02h30, Av. Vasco da Gama

Sexta-feira, 24 de Julho

Paulo Sousa (Portugal), 18h00, Centro de Artes de Sines
Njava (Madagáscar), 19h30, Av. Vasco da Gama
Warsaw Village Band (Polónia), 21h30, Castelo
Debashish Bhattacharya (Índia), 23h00, Castelo
Cyro Baptista “Beat the Donkey” (Brasil/EUA), 00h30, Castelo
Chicha Libre (EUA), 02h30, Av. Vasco da Gama

Sábado, 25 de Julho

Melech Mechaya (Portugal), 18h00, Centro de Artes de Sines
Bibi Tanga & The Selenites (Rep. Centro-Africana/França), 19h30, Av. Vasco da Gama
James Blood Ulmer (EUA), 21h30, Castelo
Alamaailman Vasarat (Finlândia), 23h00, Castelo
Lee “Scratch” Perry (Jamaica), 00h30, Castelo
Speed Caravan (França/Argélia), 02h30, Av. Vasco da Gama

INICIATIVAS PARALELAS

Exposição “Caravançarai: 10 anos de FMM em fotografia”
Ciclo de cinema documental
Ateliês para crianças
Conversas com artistas
Ateliês de instrumentos
DJ’S
Encontro com os escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa
Skalabá Tuka: Animação de rua
Apresentação do livro “Música nas cidades”

Cinema - DocLisboa

Lê-se no Correio da Manhã:

O festival DocLisboa, a realizar em Outubro, prescindiu do apoio editorial e financeiro da RTP 2, no valor de vários milhares de euros. O anúncio foi feito ontem por Sérgio Tréfaut, que justificou a decisão alegando que "a RTP não é um serviço público e não dá o melhor ao público", disse na apresentação do evento.

O director do certame criticou ainda a RTP 2 por exibir programas do National Geographic enquanto documentários quando, na sua opinião, são "enlatados de baixo custo", e estendeu as acusações ao ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro, que classificou de "uma espécie de fantasma". A "relação" entre DocLisboa e RTP durou "três ou quatro anos", adiantou, defendendo que o serviço público de uma televisão deveria incluir, por lei, o apoio ao documentário.

Em resposta, Jorge Wemans, director da RTP 2, disse à Lusa que ficou "surpreendido" com a decisão, que "não valoriza o esforço inédito que a RTP tem feito". Segundo Wemans, em 2008, o canal público estreou 25 documentários nacionais.

Na sua sétima edição, o DocLisboa realiza-se de 15 a 25 de Outubro, na Culturgest e cinemas S. Jorge e Londres, exibindo cerca de 150 filmes, 80 dos quais em competição. Até Setembro, a organização terá de visionar mais de 1300 filmes, um recorde na história do festival. Da programação faz parte uma homenagem ao cineasta lituano Jonas Mekas e ainda um ciclo dedicado aos Balcãs.

Nesta edição o DocLisboa tem novo parceiro. Trata-se do Museu Rainha Sofia de Madrid. "É uma parceria que nos deixa felizes porque partilha os mesmos objectivos", afirmou Tréfaut.

Adriana Inácio

sábado, 18 de julho de 2009

Musicando - OCM

Lê-se no DN/Madeira de hoje escrito pela mão de Luís Rocha:

A Orquestra Clássica da Madeira (OCM) dá hoje, pelas 21h30, um concerto ao ar livre no Funchal, mais precisamente na 'placa central' da Avenida Arriaga, nas traseiras do Palácio de São Lourenço, perto do Club Sports Madeira. O evento destina-se, precisamente, a assinalar 50 anos de realização do Rally Vinho da Madeira, e também o centenário do Club Sports Madeira.

Do programa constam obras interessantes, nomeadamente as 'Danças Sinfónicas' de 'West Side Story', obra do famoso maestro e compositor norte-americano Leonard Bernstein; a marcha 'Pompa e Circunstância', do britânico Edward Elgar, e o conhecidíssimo 'Bolero' de Maurice Ravel.

Este concerto (para o qual haverá um número significativo de lugares sentados disponíveis para a população em geral, de acordo com Paulo Fontes, presidente do CSM) apresenta-se como um convite ao público a partilhar com esta colectividade a comemoração das já referidas efemérides. Além disso, constitui uma boa oportunidade para a divulgação da música erudita, uma celebração que decorre ao som de peças famosas. E ajuda a animar o centro da cidade. Rui Massena, maestro da OCM, promete ainda que haverá uma certa dose de imprevisto - este será um "concerto com várias surpresas", promete.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Animando

Hoje a partir das 23.45

CoolFeel Band

no Kool Klub,

e depois

a selecção musical deste vosso amigo até às tantas!!!!

Apareçam!!!!!

sábado, 11 de julho de 2009

Expondo - Sainz-Trueva

Escreve Luís Rocha no DN/Madeira de hoje:

A exposição 'A Experiência da Forma' encontra-se patente ao público, desde o passado dia 3, no Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta. A mostra reflecte uma visão assumidamente pessoal do director de serviços de Museus da DRAC, Francisco Clode de Sousa, sobre a colecção do MAC - Museu de Arte Contemporânea (Fortaleza de São Tiago), do qual, aliás, já foi director. A ideia é proporcionar uma perspectiva ampla sobre a colecção, favorecida pelos grandes espaços expositivos do Centro das Artes, já que na Fortaleza de São Tiago, as limitações físicas dificultavam essa perspectiva de conjunto. José de Sainz-Trueva, actual director do Museu de Arte Contemporânea do Funchal, considera que se trata de uma "relevante mostra", que "apresenta uma parte substancial da colecção" do Museu, embora não toda, e diz que a mesma "integra-se no vasto rol de objectivos programáticos do Museu de Arte Contemporânea do Funchal, que tem como vectores fundamentais o estudo, enriquecimento, conservação e divulgação do seu acervo", constituído por obras de arte portuguesa desde a década de 60 até à actualidade, "sem esquecer a divulgação e apoio à produção local contemporânea".

Exposição sem novas aquisições

Porém, aproveita para apontar que esta exposição não inclui novas aquisições, "que não são feitas, por restrições orçamentais, desde 2006". E diz que o conjunto de obras agora expostas na Calheta "foi já amplamente divulgado em exposições rotativas no Museu [de Arte Contemporânea], prática habitual desde a sua inauguração em 1992, já lá vão 17 anos". Trueva duvida também da eficácia de 'A Experiência da Forma' para a divulgação da arte: "Não tenho dúvidas de que os estrangeiros de passagem pela Calheta não deixarão de entrar no Centro das Artes. Já quanto ao público madeirense, com raros hábitos no que se refere à frequência de museus e exposições, e, no caso concreto, ainda com grande resistência no que diz respeito à arte contemporânea, infelizmente não farão certamente os largos quilómetros que separam a Calheta do Funchal para ver esta mostra". Não quando "têm esta colecção à mão de semear na Fortaleza de São Tiago, e não a visitam". E acrescenta: "estatisticamente, o Museu de Arte Contemporânea é o terceiro mais visitado da Região ". Só que "é o público estrangeiro quem perfaz 80% dos seus utentes". Os outros 20% são alunos das escolas "que frequentam o nosso serviço educativo".

José de Sainz-Trueva julga que, para realizar-se uma mais abrangente divulgação da arte contemporânea na Madeira, "teria sido fundamental que o Centro das Artes Casa das Mudas, desde o início da sua actividade, paralelamente a todas as acções que já realizou, tivesse, de raiz, constituído uma orientada colecção de arte contemporânea portuguesa". Em sua opinião, "ficaria mais rico o património cultural madeirense, ganharia o Museu de Arte Contemporânea, cujo acervo artístico está historicamente ligado à cidade do Funchal e aos seus prémios pioneiros de artes plásticas, realizados em 1966/67: nasceriam novas parcerias, outras valências e exposições e multiplicação de públicos".

Não deixa de enfatizar "o papel que a galeria Porta 33 poderia desempenhar neste novo triângulo dinamizador das artes contemporâneas, numa Região que devia ainda mais afirmar-se na aposta do turismo cultural".

José de Sainz-Trueva diz que o aparecimento de novas colecções públicas de arte contemporânea ou de privadas que passam a públicas é um fenómeno que se começou a generalizar. Cita a colecção António Cachola em Elvas, a Fundação António Prates em Ponte de Sor, as colecções da Caixa Geral de Depósitos, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, da Fundação PLMJ, ou, à escala internacional, as colecções Bernard Arnault, ou François Pinault, instalada no Palácio Grassi em Veneza, e onde está representada a artista Joana Vasconcelos (de quem pode agora ser vista uma "interessante escultura" da colecção do MAC na mostra 'A Experiência da Forma' no Centro das Artes a obra 'Brush Me', "obra essa que figurará na monografia dedicada à artista, a ser editada pela BIAL, prefaciada por Paulo Cunha e Silva, adido cultural de Portugal na Embaixada de Roma".

Luís Rocha

Cinema - Curta Premiada em Cannes

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Musicando - Depeche Mode

Cancelado concerto dos Depeche Mode no Porto.

A Música no Coração já confirmou o cancelamento do concerto dos Depeche Mode marcado para o Porto.

A justificação prende-se com uma lesão no músculo da perna de Dave Gahan que obriga a banda, por indicação médica dada ao vocalista, a cancelar os dois últimos concertos da digressão europeia, que incluíam o concerto de dia 11 de Julho no Super Bock Super Rock no Porto. Todos os restantes concertos mantêm-se como previsto.

Todos aqueles que compraram bilhete para amanhã podem assistir a ambas as datas do Super Bock Super Rock mediante apresentação do seu bilhete para o Porto, usar o seu bilhete de dia 11 para o Super Bock Super Rock em Lisboa no dia 18 de Julho para assistirem a The Killers, Duffy, Mando Diao, Brandi Carlile, The Walkmen e Bettershell ou reclamar o valor do mesmo a partir de segunda-feira, e durante 60 dias a partir de 11 de Julho, nos locais onde os adquiriram, sendo condição necessária para tal que apresentem o seu bilhete totalmente intacto.

Teatrando - Teatro D. Maria II

Em 2009 vão estrear na Sala Garret e na Sala Estúdio do Teatro Nacional Dona Maria II (TNDMII) nove peças de teatro, acolhendo uma pluralidade de actores, encenadores e técnicos da representação.

A Sala Garrett vai estrear em Setembro (dia 10) «O Camareiro», de Ronald Harwood («O Pianista»), com encenação de João Mota. Sobem ao palco Alexandre Lopes, Carlos Paniágua, José Neves, Maria Ana Filipe, Maria Amélia Matta, Paula Mora, Ruy de Carvalho e Virgílio Castelo, entre outros.

«Afonso Henriques», a partir de um poema épico de tradição oral, conta com recolha, dramaturgia, encenação e espaço cénico de João Brites. A estreia é no dia 14 de Outubro, trazendo ao palco Ana Brandão, Guilherme Noronha, Miguel Jesus, Nicolas Brites e Sara de Castro.

A 31 de Outubro chega «Darwin… tra le Nuvole», a partir de uma ideia de Stafano de Luca (que também encena) e de Giulio Giorello. Os actores são Andrea Germani, Adrea Luini, Clio Cipolletta, Gabriele Falseta e Silva Pernarella.

Por fim, «O Ano do Pensamento Mágico», de Joan Didion, encenada por Diogo Infante, estreia dia 12 de Novembro. O espectáculo é protagonizado por Eunice Muñoz.

Já na Sala Estúdio, chega dia 3 de Setembro «Ego», de Mick Gordon e Paul Broks, com encenação de João Pedro Vaz. Actuam Catarina Lacerda, Gonçalo Waddington e António Fonseca.

«Vincent Van Gogh», encenada por José Carlos Garcia, estreia a 14 de Outubro, com Ángel Fragua, Noelia Dominguez e Sérgio Agostinho.

Ángel Fragua é encenador de «Mamã», que estreia dia 28 de Outubro, levando ao palco Noelia Dominguez e Luís Filipe Santos.

«Limiar» estará em cena a partir de dia 12 de Novembro, com encenação e dramaturgia de João Silva. No elenco figuram Estela Augusto, Filipe Carmo, Manuel Almeida, Noé Mingos, Olga Varandas, Pascoal Barros, Sandra Santos e Vítor Correia.

Por fim, «O Vulcão» encerra as estreias em 2009 na Sala Estúdio. Da autoria de Abel Neves e com encenação de João Grosso, a peça, protagonizada por Custódia Gallego, está em cena a partir de 26 de Novembro.

in Diário Digital

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lendo - Julieta Monginho

"A Terceira Mãe", de Julieta Monginho, editado pela Campo das Letras, venceu o Grande Prémio de Romance e Novela APE/Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas, no valor de 15.000 euros.

Ao Prémio concorreram 101 obras, o maior número de sempre, de 101 escritores - 69 homens e 32 mulheres - tendo a chancela de 35 editoras, esclarece uma nota da Associação Portuguesa de Escritores (APE).

O júri, liderado pelo vice-presidente da APE, José Correia Tavares, foi constituído por Ana Marques Gastão, Annabela Rita, Armando Silva Carvalho, Cristina Robalo Cordeiro e Fernando Pinto do Amaral.

A mesma nota da APE esclarece que o júri deliberou por maioria, tendo a obra e Julieta Monginho recebido os votos de Ana Marques Gastão, Annabela Rita e Cristina Robalo, enquanto Armando Silva Carvalho e Fernando Pinto do Amaral votaram em "Myra", de Maria Velho da Costa, editado pela Assírio & Alvim.

O Grande Prémio de Romance e Novela distinguiu já 23 autores, de 16 editoras, havendo quatro autores que bisaram: Vergílio Ferreira, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol.

O volume "Bilhetes de Colares 1982-1998 "(Assírio & Alvim), de A. B. Kotter, pseudónimo de José Cutileiro, venceu por unanimidade, o Grande Prémio de Crónica Associação Portuguesa de Escritores/C. M. de Sintra. Do júri, que se reuniu na terça-feira, fizeram parte Ernesto Rodrigues, José Manuel de Vasconcelos e Maria Augusta Silva.
Lusa

Flak e Banda no Kool Klub

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cinema - Bruno

ELE VEM AÍ!!!!!!!!!!!!


Partycipando - Mudas Live

Escreve João Filipe Pestana no DN/Madeira de hoje:

O exterior do Centro das Artes - Casa das Mudas, na Calheta, será o anfitrião de uma festa ao ar livre, no dia 7 de Agosto, intitulada 'Mudas Live', que terá música ao vivo e actuações de artistas e DJs.

"Com o 'Mudas Live', pretendemos apresentar o Centro das Artes como um veículo catalisador de novos públicos, como um instrumento de lazer para a população local e madeirense em geral, mantendo e melhorando um evento nocturno, em que a componente cultural é conciliada com a componente lúdica e social, e a continuidade da marca ['Mudas Live'] da autoria do Centro das Artes", começa por explicar Marco Chaves, programador cultural daquele espaço.

"A componente cultural será realçada através dos 'live-acts' de guitarra, piano, saxofone e percussão, realizados por diversos artistas, através da música passada pelos DJs, como também pela apresentação de videoarte nas paredes do Centro", realça.

"Nas duas edições anteriores do 'Mudas Live', o Centro das Artes foi visitado por oito mil pessoas, sendo nossa intenção para a edição deste ano melhorar qualitativamente o evento tanto no que diz respeito à utilização do espaço como também na programação a apresentar. Queremos que a terceira edição do 'Mudas Live' eleve a componente cultural destes eventos, através da realização de diversas intervenções e actuações no espaço exterior do Centro, assim como na zona do restaurante", acrescentou.

Conforme salienta, este projecto nasce da necessidade da realização de eventos adaptados à realidade do meio, da altura veraneante em que é realizado e das excelentes condições que o Centro possui para a realização do mesmo: "Através deste evento, é nossa intenção elevar a qualidade dos eventos apresentados no exterior do Centro, com a realização de um produto inovador, de qualidade e com uma grande componente lúdico cultural, associada a este, indispensável para o sucesso deste tipo de eventos assim como da imagem de versatilidade do Centro".

A programação do 'Mudas Live' para a edição deste ano, que será divulgada oportunamente, "terá por base convidados bastante conhecidos do universo do universo nocturno da Região, assim como novos talentos que procuram o seu lugar no mercado e artistas consagrados a nível nacional", conclui.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Musicando - Anatomias Musicais

Um ano depois do sucesso no Baltazar Dias o GCEA apresenta...
ANATOMIAS MUSICAIS II

CENTRO DAS ARTES CASA DAS MUDAS

CALHETA


Dia 11 (Sábado) às 21h30
e
Dia 12 (Domingo) às 19h00

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Musicando - Flak e Banda

Fundador dos Rádio Macau toca no Kool.


08/07/09 - 4ªf KOOLTURA - Flak e banda
Concerto. Pop.Rock. PT. 00.00h

O Kool Klub Kafe apresenta esta quarta-feira, dia 8, o festival "Kool Fest." que visa assinalar o primeiro aniversário do clube a 20 de Agosto.
O evento contará com a actuação ao vivo de Flak e Banda. O guitarrista fundador dos Rádio Macau vem à Região apresentar o seu novo projecto no qual participam ainda Filipe Valentim (Rádio Macau e Wordsong), Pedro Ivo (Tacones Lejanos) e Bruno Vasconcelos (The Guys From the Caravan). No piso Klub, a selecção musical será de NUNO MORNA.

5ªf KOOLSET – Li-Polymer
Dj Set. Chill-out. Deep. House. PT. 00.00h
Warm-up. Dj/Vj Yubar. 22.30h

Li-POLYMER projectou-se recentemente na Europa ao editar "Sunset Poems", no passado dia 19 de Junho de 2009, selado pela label alemã Plusquam Division (www.myspace.com/plusquamdivision), trata-se de um EP com seis temas, com um sentido muito atmosférico, moderno e com componentes fortemente virado para as linhas mais progressivas. O tema está à venda na conceituada loja on-line Beatport e será apresentado já esta quinta no Kool.


6ªf KOOLNIGHTS

KOOLSOUNDS @ Piso Kafé
10/07/09 – Walking Groove de Kiko Melim
Concerto. Acústico. Jazz. PT. 00.00h



11/07/09 - Sáb. KOOLNIGHTS

Noise Riders
concerto. Rock. Grunge. PT. 00.00h

OliverM (www.myspace.com/olivermaiermusik)
Dj Set. Techno. House.Minimal PT. 02.00

Este sábado o destaque acontece no piso Kool. Os noise Riders prometem acabar com o silêncio. Reno (voz e guitarra), é o guia espiritual de um grupo de discipulos que tem no rock a sua religião, Luis Barreto (bateria), Cláudio Aguiar (baixo) e Paulo Silva (guitarra) são os discipulos que emitem os sons rock e grunge numa noite de dança suada.
Posteriormente, o jovem dj/produtor Oliver Maier, liberta o play para um set recheado de novidades.

B KOOL!!!!

Cinema - Nollywood

Escreve Luís Francisco no Público online:

Produções baratas, recursos técnicos básicos, actores muitas vezes incipientes, desenrascanço geral e aposta maciça no mercado de DVD são os ingredientes que fizeram da indústria cinematográfica nigeriana uma gigante a nível mundial. Tão grande que a chamada Nollywood já ultrapassou a original norte-americana de Hollywood e só é batida em volume de negócios pela declinação indiana Bollywood. Mas esta indústria tão especial, que praticamente não coloca filmes nas salas, está agora a ser vítima da sua estratégia - a pirataria ameaça arruinar os produtores.

Estima-se que metade dos lucros da indústria esteja a ser canalizada para os bolsos dos que se dedicam à pirataria audiovisual. Em declarações à CNN.com, Emmanuel Isikaku, produtor e presidente da Film & Vídeo Producers and Marketers Association of Nigéria, garante que a "pirataria desferiu um grande golpe na indústria" e dá como exemplo a sua mais recente fita, Plane Crash, um êxito junto do público mas que não gerou receitas capazes de pagar os custos de produção: "Muita gente viu o filme, mas infelizmente fizeram-no em cópias piratas".

Que nenhum de nós conheça o filme é bastante natural. A efervescente indústria cinematográfica da Nigéria, centrada na capital comercial, Lagos, trabalha para o mercado interno (leia-se nacional e dos países vizinhos da África Ocidental). A inexistência de salas de cinema no país nunca travou o dinamismo dos produtores locais, que descobriram a receita para o sucesso: apostam em produções baratas e na imediata comercialização dos filmes em DVD, alimentando o mercado doméstico e as exibições em locais comunitários.

Cópias feitas na China

Fazer um filme custa, em média, à volta de 18.000 euros (fazem-se perto de dois mil por ano, segundo algumas estimativas) e cada cópia é vendida a 5,50 ou 6,50 euros. O que significa que os 20.000 ou 30.000 DVD que normalmente são comercializados garantem ao produtor o retorno do seu investimento. Um êxito de vendas pode chegar a decuplicar estes números. Mas, lá está, ao apostar neste sistema directo e de consumo intensivo, a indústria do cinema da Nigéria pôs-se a jeito para ser alvo dos piratas.

A economia informal da Nigéria é fortíssima e a generalização das tecnologias de compressão em vídeo permite hoje aos contrafactores porem à venda por menos de três euros discos contendo até duas dezenas de filmes (e não só de Nollywood, porque os êxitos de Hollywood também estão no cardápio). O esquema está tão bem montado que os piratas conseguem reagir em tempo útil às preferências do público: assim que uma fita começa a ter sucesso, é imediatamente enviada para a China, onde é copiada milhares de vezes e os discos reenviados para África.

O fenómeno intensificou-se de tal forma que pode vir a ser responsável pela morte da sua razão de existir. "Os novos desenvolvimentos da pirataria têm potencial para vir a obliterar por completo a indústria", analisa, ouvido pela CNN, Sylvester Ogbechie, presidente da Fundação Nollywood, com sede em Los Angeles, EUA. A ironia de tudo isto é que esta ameaça de morte surge numa altura em que o mundo começa a olhar com alguma atenção para o cinema nigeriano.

Exemplo de sucesso

Fortemente enraizadas na tradição oral africana, as produções de Nollywood não têm efeitos especiais nem cenários elaborados, vivem de um permanente espírito de desenrascanço das equipas técnicas (há sempre alguém que falta devido ao trânsito caótico de Lagos, os cortes de corrente eléctrica são rotineiros, as filmagens na rua podem ser interrompidas por gangs exigindo dinheiro ou espontâneos mais curiosos), os actores nem sempre decoraram as suas falas e os realizadores estão fortemente pressionados para despacharem a coisa em três ou quatro dias de filmagens.

Mas, apesar de tudo isto (ou talvez por isso mesmo...), estes filmes chegam directamente ao coração das populações africanas, abordando, simultaneamente, temas recorrentes da cultura popular, como a magia e a religião, e questões tão modernas como os desafios da vida urbana, a sida ou os direitos das mulheres. Argumentos mais do que suficientes para construir uma história de sucesso, traduzida na criação de uma indústria intensiva geradora de milhares de empregos, com um volume de negócios anual superior a 200 milhões de euros, e na instituição de um star system que vai muito para além das fronteiras do país e, até, do continente.

Mas, sem um circuito de exibição em salas, onde a pirataria não chega, Nollywood está particularmente vulnerável à proliferação de cópias piratas. Visto por muitos como um excelente exemplo de como a opção por sistemas simplificados de investimento pode ser a solução para gerar empregos e garantir êxito nos mercados do terceiro mundo, o cinema made in Nigeria parece estar a ser vítima da sua receita de sucesso, às mãos de um mercado paralelo que, por sua vez, ameaça matar a sua galinha dos ovos de ouro. Relação complicada, esta. Digna de um filme.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Descansando

Este blogue vai de fim-se-semana para o norte. Na segunda cá estaremos!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Obituário - Pina Bausch

Mais uma terrível perda...

Alta e pálida, vestida de escuro, a coreógrafa alemã Philippine Bausch – que o Mundo conhecia por Pina Bausch e que morreu ontem, aos 68 anos, vítima de um cancro detectado cinco dias antes – usava o cabelo comprido e apanhado, tinha olheiras profundas e acompanhava-se de cigarros. Ajudavam a esconder a timidez e ocupavam-lhe as mãos ao ser abordada por jornalistas.

Tinha um ar distante e muitas vezes o rosto espelhava grande parte das suas coreografias, assentes em pressupostos depressivos. Não gostava de falar de si e ainda menos das suas criações. Perguntaram-lhe tantas vezes (e em tantos lugares) a razão deste ou daquele bailado que qualquer entrevista era um misto de suplício e desafio.

Nascida em 1940, começou aos 14 anos com um mestre da dança moderna alemã, Kurt Jooss, na escola de Essen, para a qual voltaria em 1962, após passar pela Juilliard School, de Nova Iorque, onde até dançou obras clássicas. Seguiria uma direcção muito diferente ao começar a coreografar no Folkwang Ballet (de Jooss), que dirige de 1969 a 1973. Um ano mais tarde funda a companhia Wuppertal Tanztheater. Desde então produziu, em média, um espectáculo por temporada. O primeiro grande êxito foi em 1975, com uma inusitada produção de ‘A Sagração da Primavera’, em que o palco estava coberto por terra molhada. A reputação não mais parou de crescer e os seus trabalhos, baseados na angústia, alienação, frustração e crueldade, questionavam ideias pré--concebidas sobre género e sexo.

Na primeira vez que veio a Lisboa, para os VIII Encontros Acarte de 1994, trouxe um conjunto notável de obras e o sucesso foi retumbante. Voltaria várias vezes, designadamente em 1998, quando criou, a convite da Expo, a belíssima peça ‘Masurca Fogo’.



Obituário - Karl Malden

O actor norte-americano Karl Malden morreu ontem, de morte natural, na sua casa em Brentwood (EUA). Tinha 97 anos e, como maior prémio de uma brilhante carreira de actor secundário, o Óscar de Melhor Actor Secundário por 'Um Eléctrico Chamado Desejo' graças ao papel de Mitch, um ingénuo pretendente de Blanche DuBois.

A estatueta dourada foi conquistada em 1952 e três anos mais tarde voltou a ser nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário pelo seu padre Corrigan em 'Há Lodo no Cais', não conseguindo desta vez a vitória.

Traços comuns aos dois filmes foram o protagonista (Marlon Brando, que venceu o Óscar de Melhor Actor no ano em que Malden foi derrotado, invertendo-se o que acontecera com 'Um Eléctrico Chamado Desejo') e o realizador, Elia Kazan, que obteve o prémio mais desejado por 'Há Lodo no Cais'.

Além destes dois papéis, Karl Malden fica para a história do 'show business' pelo sucesso da série de televisão 'Ruas de São Francisco', do início dos anos 70, onde era um detective veterano ao lado de um jovem Michael Douglas.

Karl Malden foi o presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entre 1989 e 1992, culminando uma carreira que começou no teatro.

Filho de dois imigrantes, um sérvio e uma checa, nasceu em Chicago em 1912. O seu nome de baptismo era Mladen Sekulovich e chegou a trabalhar como operário industrial.



Musicando - Funchal Jazz 09

Arranca hoje. E mais uma vez aqui fica a sacramental pergunta que ponho todos os anos:

Porque é que nomes grandes do Jazz mundial como são Maria João, Mário Laginha e Bernardo Sassetti nunca passaram pelo nosso festival? Estranho, não?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Lendo - Miguel Sousa Tavares

Extractos do próximo romance de Miguel Sousa Tavares, No Teu Deserto, a lançar pela Oficina do Livro no final da primeira semana de Julho:
«Éramos donos do que víamos: até onde o olhar alcançava, era tudo nosso. E tínhamos um deserto inteiro para olhar.»

«Ali estavas tu, então, tão nova que parecias irreal, tão feliz que era quase impossível de imaginar. Ali estavas tu, exactamente como te tinha conhecido. E o que era extraordinário é que, olhando-te, dei-me conta de que não tinhas mudado nada, nestes vinte anos: como nunca mais te vi, ficaste assim para sempre, com aquela idade, com aquela felicidade, suspensa, eterna, desde o instante em que te apontei a minha Nikon e tu ficaste exposta, sem defesa, sem segredos, sem dissimulação alguma.»

«Parecia-me que já tínhamos vivido um bocado de vida imenso e tão forte que era só nosso e nós mesmos não falávamos disso, mas sentíamo-lo em silêncio: era como se o segredo que guardávamos fosse a própria partilha dessa sensação. E que qualquer frase, qualquer palavra, se arriscaria a quebrar esse sortilégio.»

«Eu sei que ela se lembra, sei que foi feliz então, como eu fui. Mas deve achar que eu me esqueci, que me fechei no meu silêncio, que me zanguei com o seu último desaparecimento, que vivo amuado com ela, desde então. Não é verdade, Cláudia. Vê como eu me lembro, vê se não foram assim, passo por passo, aqueles quatro dias que demorámos até chegar juntos ao deserto.»

Apresentado como «Quase Romance», No Teu Deserto terá apenas 128 págs.