quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Musicando - Motown

Mais um fantástico artigo da Ípsilon (Público) pela mão de Mário Lopes.

Smokey Robinson ou Holland-Dozier-Holland compunham, os Funk Brothers tocavam, as Supremes ou Marvin Gaye cantavam. Berry Gordy supervisionava tudo.
Berry Gordy queria enriquecer sem perder tempo e, para tal, tornou-se pugilista. Nascido em 1928, andou pelos ringues até 1950, quando foi incorporado no exército americano que combatia na Coreia.
Certo dia, descansando no ginásio, este sétimo de oito irmãos de uma destacada família da comunidade negra de Detroit, pousou o olhar sobre os cartazes afixados na parede, alguns anunciando combates, um deles promovendo um concurso de bandas. O contraste era evidente: "Pugilistas jovens que tinham 23 anos mas aparentavam 50, esmurrados e cicatrizados... e depois os músicos que tinham 50 mas pareciam ter 23", contou em entrevista ao "Los Angeles Times" na década de 1980. Abandonou os ringues. E enriqueceu rápido, mas não como músico. Como homem que teve uma visão e a concretizou meticulosamente. Como fundador da Motown, a editora que moldou a música americana da década de 1960, a editora que definiu o presente e traçou o futuro da soul, a casa de Marvin Gaye, Stevie Wonder, Temptations, Smokey Robinson & The Miracles, Supremes, Jackson 5 ou Martha & The Vandellas. O seu slogan, "The sound of young America" (o som da América jovem), apontava a uma geração para quem a segregação racial era violência sem sentido.
Retrospectivamente, é classificada como a editora que levou a música negra ao público branco, mas essa é apenas parte de uma história iniciada em Janeiro de 1959, quando Berry Gordy contrai junto de familiares um empréstimo de 800 dólares.
Nos anos anteriores, trabalhara como compositor e tinha conseguido algum sucesso. Em 1957 "Reet petite", co-composta com a irmã Gwen e cantada por Jackie Wilson, tornou-se um êxito local. Em 1958, Wilson passou de estrela local a nacional ao ver "Lonely Teardrops", outra co-composição de Gordy, ascender ao topo da tabela de vendas r&b e, mais importante, escalar ao Top 10 da de pop. A Gordy, contudo, faltava enriquecer.
Uma discussão sobre a divisão dos direitos autorais leva-o a abandonar a colaboração com Jackie Wilson. Um conselho de Smokey Robinson fê-lo dar o passo seguinte. Aquele que era o seu braço direito aconselhou-o a queimar etapas. Ou seja, compor, gravar, produzir e editar. Em resumo, criar uma editora -essa que nomeou primeiro Tamla, que rebaptizou Motown pouco depois e cujos 50 anos de existência, que se cumprem em Janeiro, começaram já a ser celebrados com a edição de um CD triplo composto pelas melhores 50 canções da sua história, segundo votação do público ("Motown 50"), e "best ofs", igualmente triplos, de Marvin Gaye ou Michael Jackson.

A linha de montagem

Nos anos 1920 e 1930, Detroit ultrapassou Chicago como o destino das famílias negras que, vindas do sul rural e conservador, procuravam melhores condições de vida a norte. Detroit, grande centro industrial desde que Henry Ford ali instalara, em 1913, a primeira linha de montagem de automóveis, oferecia possibilidade de ascensão social. Tal contexto é indissociável da Motown. A ideia de Gordy passava pelo reunir de uma equipa coesa de músicos, compositores, cantores e produtores. A estética, como recordou Smokey Robinson ao diário "Guardian" em Novembro, ficou definida à primeira reunião: "Não vamos fazer música negra, vamos fazer música do mundo, vamos fazer música para toda a gente. Vamos fazer óptima música, vamos ter óptimas histórias, fazer grandes batidas". Ou seja, ambicionava-se aplicar o esquema de Henry Ford à produção musical. Criar uma linha de montagem de êxitos.
O primeiro, que chegou em Junho de 1959 pela voz de Barrett Strong, revelava sem pudor a motivação principal de Berry Gordy: "Give me money, that's what I want".
Não foi porém o sucesso comercial que transformou a Motown numa editora fulcral na história da música urbana. Gordy queria dinheiro, mas acreditava que ele só chegaria através de trabalho árduo e de uma excelência a todos os níveis.
Aos lendários Funk Brothers, a banda residente formada por nomes como o guitarrista Danny Coffey, o baixista James Jamerson, o teclista Earl Van Dyke, o percussionista Eddie "Bongo" Brown ou o baterista Richard "Pistol" Steve, era imposto um intenso regime de gravação. Nas manhãs, passadas nos estúdios da editora, que um painel à entrada nomeava "Hitsville, USA", havia que aprender, ensaiar e gravar novas canções, à cadência de uma por hora. As tardes eram ocupadas a trabalhar em novos sons e a ajudar os compositores a dar corpo às suas ideias.
Exercia-se um férreo "controlo de qualidade", com futuros clássicos como "I heard it through the grapevine", de Marvin Gaye, a serem recusados e devolvidos à sala de ensaios. Para passar esse crivo, tinham de ser cumpridos dois requisitos. A canção teria que ser comparada com o top 5 da semana anterior e passar o teste.
Igualmente importante, teria que se enquadrar numa estética aprimorada, aquilo que ainda hoje conhecemos como "o som Motown". Começava no que os produtores chamavam "o princípio Kiss" ("keep it simple, stupid") e acabava nisto: um concentrado de batida soul e melodias pop, de gospel e balanço r&b, engrandecidos por uma produção majestosa onde se conjugavam orquestra e metais, onde se ouviam coros cuidadosamente elaborados e, em sintonia com a "wall of sound" de Phil Spector, a sobreposição de instrumentos (duas baterias, diversas guitarras).
Durante a década de 1960, nenhuma outra editora concentrou em si tamanha dose de talento e popularidade (110 entradas no top 10 de singles entre 1961 e 1971).
Smokey Robinson ou Holland-Dozier-Holland, a mítica tripla formada por Lamont Dozier e pelos irmãos Brian e Edward Holland, alimentavam a linha de montagem com canções como "Reach out (I'll be there)" ou "Stop! In the name of love". Os Funk Brothers transformavam-nas em realidade sónica e os Temptations, os Four Tops, Tami Terrel ou Kim Weston levavamnas para as ruas.
Nos bastidores, Berry Gordy actuava como orquestrador supremo. Foi o primeiro a reunir vários nomes de uma mesma editora para digressões conjuntas, forma de aumentar a popularidade da Motown e permitir aos novos talentos ganhar traquejo. A todos eles, por considerar que representavam a comunidade negra perante a América e que, como tal, deviam ser alvo de orgulho, exigia que se comportassem como uma nova forma de realeza: por isso, jovens como Stevie Wonder ou mais jovens ainda como Michael Jackson, a voz precoce dos Jackson 5, eram acompanhados por equipas de estilistas ou aconselhados quanto à etiqueta a cumprir nos diversos contextos.
or outro lado, em tempos de marchas pelos direitos civis e de violentos motins, como o que se viveu em Detroit, às portas da Motown, em 1967, era recusado qualquer tipo de comprometimento político que pudesse prejudicar financeiramente a empresa.

A emancipação criativa

Gerida com mão rígida, com a liberdade artística subjugada ao bom funcionamento da linha de montagem, a Motown era ainda assim uma "meritocracia". Por isso mesmo, duas antigas secretárias da editora transformaram-se em estrelas maiores -falamos de Diana Ross, a cara das Supremes, e de Martha Reeves, cantora de "Dancing in the street" e líder das Vandellas. O mesmo percurso ascendente protagonizou Marvin Gaye, que entrou para a editora como baterista (era o quarto na hierarquia do estúdio) e que se ergueria, a par de Diana Ross, a nome maior da Motown. Curiosamente, seria também, no início da década de 1970, um dos responsáveis pelo desmantelamento da "fábrica" enquanto unidade coesa.
Os primeiros sinais de mudança surgiram quando Berry Gordy entrou numa reunião empunhando um álbum de Sly & The Family Stone, banda que causava furor com uma inaudita fusão de funk, soul, rock'n'roll e psicadelismo. "Isto é o que está a acontecer", terá exclamado. A Motown, "o som da América jovem", teria que o acompanhar.
Com Lamont-Dozier-Holland fora de cena desde 1968, ano em que não viram satisfeitas as pretensões a uma maior fatia de royalties, Norman Whitfield, génio instintivo, tornou-se a figura fulcral na definição do novo som Motown. Fã dos Funkadelic, percebia o psicadelismo e guiou até ele o Edwin Starr de "War", manifesto em plena Guerra do Vietname, e os Temptations de "Cloud Nine" ou "Psychedelic Shack", obras-primas definidoras de uma nova soul.
A Motown mudava e transformarse-ia definitivamente quando, em 1971, Marvin Gaye quebra o rígido controlo imposto por Gordy. Em total liberdade criativa gravou "What's Going On", álbum maior na história da música popular e um imenso sucesso de vendas.
A brecha estava aberta. Nos anos seguintes, Stevie Wonder atinge a maioridade e pede também a emancipação -inicia uma memorável sequência de álbuns ("Talking Book", "Innervisions", "Fulfillingness' First Finale"). Os Temptations tornam-se cada vez mais políticos, adoptando o "sing it loud/ I'm black and I'm proud" de James Brown e dos Black Panthers, e Michael Jackson começa o seu processo de amadurecimento.
A Motown continuou a coleccionar êxitos, mas deixou de ser maior que os artistas que albergava. Tudo mudara. Em 1972, Berry Gordy, ambicionando expandir a editora ao cinema, transfere-lhe a sede para Los Angeles. Dividida entre a produção de séries de televisão, filmes como "Lady Sings The Blues" (biopic de Billie Holiday com Diana Ross) ou "The Wiz" (adaptação d'"O Feiticeiro de Oz") e a edição musical (na segunda metada da década de 1970, os Commodores de Lionel Richie emergiram com grande sucesso), vai perdendo influência e liquidez. Em 1988, a acumulação de prejuízos leva Berry Gordy a vende-la à MCA.
Actualmente, a Motown pertence à Universal Music e tem no seu catálogo nomes como Erykah Badhu ou Q-Tip. À beira de cumprir 50 anos, temo-la novamente a ditar o presente -ouvir Amy Winehouse e Duffy é rever a história do período áureo da Motown. À beira de cumprir 50 anos, temos por certo que, sem ela, a história da música popular urbana não seria a mesma e conjecturamos que, provavelmente, a desta América que elegeu Barack Obama também não.
Feito notável. Afinal, falamos de uma empresa fundado com um propósito demasiado básico para aquilo que atingiu: Enriquecer rapidamente.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Premiando - Vânia Fernandes

Escreve Paula Henriques no nosso DN:

Vânia vence prémio relativo ao Eurovisão

Vânia Fernandes e o tema 'Senhora do Mar' venceram três dos prémios lançados pelo sítio do Festival Eurovisão da Canção, o www.esctoday.com. Além de 'Melhor Intérprete' e 'Melhor Canção' da edição de 2008, trouxeram para casa ainda o de 'Melhor Música'. Apesar de não ter conseguido uma boa classificação na final do concurso realizado em Belgrado, no dia 24 de Maio, a madeirense tem reunido o apoio do público que elegeu a sua voz e seu tema como os melhores da 53ª edição. Andrej Babic o compositor da música, foi também considerado o melhor na sua categoria, juntado assim um terceiro prémio para a equipa que representou o país.
Este foi o terceiro ano que a esctoday.com lançou estes prémios, tendo atingido os 16 mil votos. Os resultados foram divulgados na véspera de Natal e deram à cantora a vitória por muitos aguardada e tida como justa.
Carlos Coelho foi o autor da letra que Vânia interpretou na companhia de outros ex-concorrentes da 'Operação Triunfo', o concurso que lançou a jovem madeirense a nível nacional e que lhe abriu as portas a esta participação.
Segundo a página oficial, 'Senhora do Mar' partiu na corrida já nos lugares cimeiros, sendo desde a partida uma das favoritas ao título. Na segunda semifinal do concurso, foi a última a ser interpretada e terminou em segundo lugar, com 120 pontos, tendo conseguido para o país o melhor resultado de sempre nesta competição internacional desde que foram criadas as semifinais. Mas o desfecho seria negro.
Na final, contra as expectativas, a canção acabaria por ser deixada para 13º lugar. É que o tema 'Senhora do Mar' chegou a estar em primeiro lugar no top dos cerca de três mil jornalistas que acompanharam o evento e nos lugares cimeiros nas várias previsões lançadas em várias páginas na Internet.
Nos prémios http://www.esctoday.com/ para o melhor tema, ficou em segundo lugar 'Hold on be Strong' por Maria Haukaas Storeng, da Noruega e em terceiro 'Hero', por Charlotte Perrelli, da Suécia.
A canção russa 'Believe', vencedora do Festival, só viria em oitavo lugar nesta votação com 7,2 % dos votos, sendo a primeira vez que a vencedora fica tão mal classificada neste ranking.
Quanto à vencedora, a portuguesa 'Senhora do Mar', arrecadou 21,3% das votações do sítio e foi a primeira canção que não se classificou no top cinco dos vencedores do Eurovisão a conseguir o feito.
O tema norueguês, segundo classificado, ficou com 17,4% dos votos electrónicos.
Houve ainda prémios para melhor intérprete masculino, melhor vídeo, melhor letra, melhor grupo, para o mais bem vestido e para o mais mal vestido.
O Festival Eurovisão da Canção chega em 2009, agora em Moscovo, na Rússia.

Paula Henriques

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Premiando - Sofia Escobar

A portuguesa Sofia Escobar é candidata ao título de Melhor Actriz de Teatro Musical em Inglaterra pela representação de 'Maria', em West Side Story, refere hoje o portal de espectáculos britânico Whatsonstage.
«Tenho consciência de que, em Portugal, era impossível fazer o trabalho que faço», disse hoje à Lusa Sofia Escobar, actriz que representa a personagem 'Maria' no musical West Side Story, no Her Majesty's Theatre, em Londres, peça no quinquagésimo ano de representações.
Sofia Escobar está nomeada para o prémio de Melhor Actriz de Teatro Musical na eleição organizada pelo portal de espectáculos britânico Whatsonstage. As nomeações, feitas por um conjunto de críticos musicais, elegeram-na para votação, lado a lado, com Sofia Escobar, Connie Fisher, Elena Roger, Leila Benn Harris e Ruthie Henshall.
Na votação, feita on-line, a actriz portuguesa encontra-se em segundo lugar, um pouco atrás de Connie Fisher, uma actriz de musicais muitos popular em Inglaterra.
«Fiquei muito contente e surpreendida com a nomeação. Foi mesmo uma surpresa«, referiu Sofia Escolar.
Natural de Guimarães onde estudou música e interpretação, Sofia, de 28 anos, decidiu há três anos ir estudar canto e representação para a Guildhall, a mais conhecida escola de artes londrina.
«Entre ir estudar para Lisboa ou para Londres, tentei a que me pareceu ser a melhor escola», disse.
Oriunda de uma família de «classe média, sem possibilidades de ter uma filha a estudar no estrangeiro», Sofia Escobar recorreu a um empréstimo bancário para suportar as despesas londrinas.
«No fim das aulas na Guildhall, trabalhava como empregada de mesa num restaurante para ganhar algum dinheiro«, recordou Sofia.
A qualidade das provas realizadas para ser admitida na escola, permitiu-lhe ficar isenta de pagar propinas durante todo o curso. Um anúncio num jornal para encontrar uma actriz que desempenhasse o papel de Christine Daae, a personagem principal do musical O Fantasma da Ópera levou-a a oito meses de provas e audições.
«Quando me telefonaram a dizer que tinha sido escolhida, estava numa paragem de autocarro e fiquei lá mais de meia hora a digerir a notícia», salientou Sofia Escobar.
Após O Fantasma da Opera, Sofia é agora a terna, mas enérgica, Maria no West Side Story.
«Passei de uma personagem onde não podia ter qualquer pronúncia portuguesa para uma em que tenho que ter um ligeiro sotaque porto-riquenho, salientou a actriz-cantora que continua a ter aulas de canto e a ajuda de um professor de inglês, disponibilizado pela produção do musical.
«Em Londres existe uma enorme tradição em musicais que estão em cena anos e anos. Os actores entram e saem mas o musical continua em exibição», frisou.
O Fantasma da Ópera estreou-se em Londres em 1986, quando Sofia Escobar tinha cinco anos, vivia em Guimarães e não sabia da existência de Andrew Lloyd Webber, o autor do musical.
Agora, com a interpretação de Maria, a actriz teve que aprender a fazer uma das coisas mais difíceis de toda a sua carreira: «Tive que aprender a gritar e a berrar», afirmou, entre risos.
«Parece fácil, mas em termos vocais, é dos exercícios mais difíceis de realizar», admitiu.
As votações podem ser feitas em www.whatonstage.com/surveys/fillsurvey.php?sid=24.
in Lusa


Obituário - Lars Hollmer

Nas minhas "andanças" sonoras ando muito por aquilo que se costuma chamar de "world music", as músicas do mundo. O nome do sueco Lars Hollmer tem-se cruzado com as trilhas sonoras da minha vida por diversas vezes. Morreu no sábado passado e a música ficou mais pobre.
Compositor, acordeonista e teclista, Hollmer começou a tocar em 1956 e em 1969 criou o seu próprio estúdio de gravação,'The Chickenhouse', nos arredores de Uppsala, onde daria forma ao seu primeiro projecto musical, o grupo Samla Mammas Manna, que em 1977 ganhou novo nome, Zamla Mammaz Manna, e mais tarde Von Zamla.
No total, Hollmer gravou dezenas de álbuns, a solo ou dirigindo projectos como os atrás citados. Integrou os Looping Home Orchestra e os Accordeon Tribe, tendo ainda acompanhando músicos tão diferentes como Fred Frith ou os Miriodor.
Compôs também música para filmes e para produções teatrais e de bailado.
Deixo aqui um pequeno clip do Youtube. A qualidade não é grande coisa mas foi o que consegui arranjar.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Musicando - Dancehall

Muito interessante este artigo saído na Ípsilon (Público) da autoria de Vítor Belanciano:

Viajar actualmente para as Caraíbas com o objectivo de casar é uma banalidade. Mas nenhuma dessas cerimónias se desenrola nas traseiras de um bairro árido, tendo por mestre de cerimónias o cantor Sugar Minott, um ruidoso "sistema de som" e uma assistência de produtores e músicos. Mas foi isso que a fotógrafa e jornalista americana Beth Lesser e o marido, o canadiano David Kingston, escolheram para as núpcias.
Pode não ter sido o casamento que ambos imaginaram na adolescência, mas parece apropriado para quem passou mais de uma década a retratar a emergência de um fenómeno cultural conhecido como dancehall.
Na Jamaica, a música está em todo o lado. Não é só nos casamentos. Faz parte da vida quotidiana. O país tem uma indústria musical desproporcionada para o território pequeno e para a população reduzida que tem. As unidades sonoras móveis conhecidas como "sistemas de som" fazem parte da vida das zonas urbanas, estão presentes em qualquer artéria, providenciado música dançante às muitas camadas da população.
Por isso, conceber um livro de fotos que retrate a actividade da ilha requer trabalho de campo, estar lá, viver com os protagonistas. "Rapidamente nos misturámos no meio das pessoas" escreve Beth Lesser em "Dancehall - The Rise Of Jamaican Dancehall Culture." "Assistíamos a sessões de estúdio, almoçávamos, dançávamos, partilhámos tudo com aquela gente."
A proximidade de Lesser levou-a a captar o emergir de um som e de uma cultura diversa daquela que tinha sido predominante na Jamaica até então. Como ela aponta, em nenhum momento da história o reggae deixou de ser música dançável." Mas no emaranhado de tipologias que constitui o mapa musical da ilha - reggae, ska, dub, rocksteady -, o dancehall é o género menos preocupado com princípios místicos ou ideológicos e mais com o hedonismo. Como acontece sempre com os géneros nascidos no local, as histórias sobre a sua génese cruzam-se de forma confusa.

Combustível dos 80

As suas origens remontam aos anos 50, quando promotores jamaicanos conceberam "sistemas de som" móveis para os DJs passarem música em público, mas foi na década de 80 que o fenómeno alcançou expressão. É o espírito dessa época que é captado no livro e no CD do mesmo nome da editora Soul Jazz.
A designação era utilizada, nos anos 50, para nomear os espaços onde se ia dançar e, ao mesmo tempo, contactar com as novidades da música, da moda e dos comportamentos. Mas o termo só começou a ser empregue para nomear uma das ramificações da música jamaicana já no final dos anos 70. Aconteceu quando um dos produtores mais conhecidos da ilha, King Jammy, concebeu um tema com uma estrutura totalmente sintetizada no contexto de um "soundclash" (um "duelo" musical entre "sistemas de som").
Extraído de um teclado Casio, o tema era uma base rítmica instrumental enérgica, muito diferente do que se tinha feito até então. O impacto foi tal que rapidamente outros produtores começaram a fazer temas com características semelhantes. A identificação com o gosto popular foi tão vincada que o novo estilo haveria de ficar conhecido como dancehall, adoptando o nome das festas de dança onde emergiu. Se o combustível dos bailes nos anos 60 tinha sido o ska e o rocksteady, nos anos 70 haveria de ser o reggae de raiz clássica e nos 80 o dancehall.
O facto de o grande símbolo da música reggae e do movimento religioso rastafari, Bob Marley, ter morrido em 1981 pode ter contribuído para que as alternativas ao reggae clássico surgissem, abrindo espaço para que o dancehall - mais dançável, enérgico e apelando às gerações mais novas - acabasse por se impor.
Musicalmente, a estrutura do estilo é semelhante à do reggae, mas o som é mais sintético, acelerado, balanceado. A tipologia pode ser descrita como uma variação digitalizada do reggae. A estrutura é construída com equipamentos electrónicos e computadores e é centrado na batida baixo-bateria. Na sua construção, o produtor é uma peça chave. É ele quem comanda e dita as regras da criação, embora os cantores tenham que ter um estilo próprio, ao nível da performance e do visual.
As letras tanto podem ser as habituais mensagens positivas do reggae (alusões de amor, paz, união) como menções directas à performance sexual de quem canta ou exaltações à sensualidade e beleza femininas.
Quando Lesser e o marido viajaram para a Jamaica nos anos 80 fizeram-no na expectativa de falar com figuras clássicas do reggae e do dub como Augustus Pablo, mas rapidamente perceberam que havia qualquer coisa de novo a germinar que acabaria por se implantar definitivamente, em 1985, quando Wayne Smith lançou o tema "Under mi sleng teng". Produzido por Prince Jammy, e composto a partir de frases electrónicas, transformou-se no primeiro grande êxito do tipo, revolucionando a indústria local.

E as mulheres?

A primeira mudança aconteceu quando os músicos, no sentido mais clássico, começaram a ser menos utilizados, substituídos por adolescentes com apetência para a tecnologia. São essas transformações que o texto - e principalmente as fotos de Lesser - captam, mostrando-nos os "sistemas de som", os estúdios, os produtores, os cantores, os DJs e um pouco da população local, em fotografias que parecem ter sido tiradas num outro tempo. Lá vemos o cantor Gregory Isaacs posando no exterior da mítica loja de discos Museu Africano em Kingston; o cantor Horace Andy - hoje conhecido pelas colaborações com os Massive Attack - em frente aos estúdios Channel One; ou o produtor Henry "Junjo"' Lawes, que mais tarde haveria de ser assassinado em Londres, partilhando um camião com uma série de soldados, enquanto um dos seus colaboradores empunha uma metralhadora.
Mulheres é que não se vislumbram muitas. Explicação: "o dancehall é patriarcal, quase não existe espaço para as mulheres nele", diz Lesser. "Não existe nada de mal no facto de não irem a estúdio, mas participarem numa festa dancehall implica estarem em viaturas e dormirem em cima das mesmas. É um estilo de vida que a conservadora sociedade jamaicana não aceita bem."
Nos anos 80, e parte dos 90, produtores como a dupla Sly & Robbie e Bobby "Digital" Dixon, cantores como Sugar Minott e DJs-cantores como Shabba Ranks, Chaka Demus ou Buju banton dominaram o panorama, conquistando não só adeptos do reggae, mas também do hip hop ou do R&B, diversificando os públicos.
Como a esmagadora maioria das músicas populares hoje instituídas - do rock ao fado, dos blues ao hip hop - o dancehall era, na sua génese, uma música desqualificada, praticada por músicos amadores sem veleidades artísticas, provenientes das periferias dos grandes centros.
Eram muitas vezes associados à marginalidade ou a questões de afirmação identitárias, antes de terem adquirido autonomia e afirmarem a sua música no globo.
As novas gerações que têm impulsionado o género nos últimos anos, de Sean Paul a Bennie Man, já pouco têm a ver com esse contexto. Hoje encontramos elementos de dancehall um pouco por todo o lado - seja na música dos top's com Rihanna ou na música que reflecte o pulsar urbano de M.I.A., Santogold ou Lady Sovereign. Mas foi na década de 80 que a sonoridade emergiu nas ruas de Kingston, síntese simples e directa de frustrações e desejos, de um grupo de músicos que também soube fazer a festa num tempo de incertezas políticas e sociais. É quase sempre assim. A esta hora, numa qualquer outra parte do mundo, haverá alguém a imaginar uma nova música por motivos idênticos.

Lançamento - Crónicas de Um Velejador

(clicar sobre a imagem para ver maior)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Do Meu Ipod (VII)

Bauhaus - The Passion Of Lovers
Nine Inch Nails - Closer
Depeche Mode - Enjoy The Silence
The Mission - Like a Child Again
Joy Division - Love Will Tear Us Apart
Foo Fighters - Big Me
The Motors - Forget About You
Creed - With Arms Wide Open
Free - Alright Now
Sigue Sigue Sputnik - Love Missile F1-11

Cozinhando - Chefe Benoît Sinthon

Há cerca de 15 dias passou pelo Lado a Lado da RTP/Madeira o Chefe Benoît Sinthon, o responsável pela equipe do Gallo D'Ouro, restaurante do Hotel Cliff Bay que pela primeira vez trouxe para a Madeira uma estrela do Guia Michelin.
A pedido de muita gente aqui ficam as receitas que o Chefe Benoît confeccionou nesse dia:









SALADA DE LAVAGANTE COM CARPACCIO DE MANGO

INGREDIENTES

150gr cauda de lavagante cozido
80 gr manga fresca laminada
25 gr bolas de melão
15 gr peito de pato fumado
20 gr bouquet alface mista

VINAGRETE DE CITRINOS

10ml azeite
20 gr gumes de laranja
20 gr gumes de toranja
5 ml sumo de laranja
3 ml
Vinagre balsâmico
4 gr basilico em juliana
5 gr zestos de laranja e limão



MÉTODO

• Cozer o lavagante durante 8 minutos, arrefecer colocando-se dentro de água com muito gelo e descascar
• Branquear os zestos (raspas da casca) de limão e laranja em 3 águas diferentes
• Preparar o vinagrete juntando todos os ingredientes
• Cortar o lavagante aos medalhões
• Cortar o pato fumado em losangos
• Fazer bolas de melão e servir


RISOTTO DE COGUMELOS SELVAGENS


INGREDIENTES E MÉTODO

• Saltear cebola pequena em azeite até ficar transparente
• Juntar arroz “risotto arborio” e deixar glacear um pouco
• Acrescentar vinho, deixar ferver e juntar caldo de galinha
• Cozer durante cerca de 18 minutos – lentamente ir juntando o caldo
• Tirar do lume e na hora de servir juntar mistura de cogumelos frescos salteados em azeite
• Acrescentar um pouco de natas batidas, pimenta e queijo parmesão
• Guarnecer o prato com shiso mix

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Musicando - O Melhor de 2008... ou não! (Parte II - Portugal)

E Agora O Best Of De 2008 Do Que Por Cá Se Faz

Kumpania Algazarra - Kumpania Algazarra
Os Pontos Negros - Magnífico Material Inútil
Buraka Som Sistema - Black Diamond
Bunnyranch - Teach Us Lord
Camané - Sempre de Mim
Fadomorse - Folklore Hardcore
Tim - Braço de Prata
Dead Combo - Lusitânia Playboys
Dama Bete - De Igual para Igual
Mafalda Arnauth - Flor de Fado
Deolinda - Canção ao Lado
Mandrágora - Escarpa
Mariza – Terra
Rita Redshoes - The Golden Era
A Naifa - Uma Inocente Inclinação para o Mal

Musicando - O Melhor de 2008... ou não! (Parte I - Internacional)

Estas coisas valem o que valem... mas aqui fica, de entre o que andei a ouvir em 2008, aquilo que melhor me soou:

O Meu Best Of Musical de 2008

Metallica – Death Magnetic
of Montreal - Skeletal Lamping
Vampire Weekend - Vampire Weekend
Amadou & Mariam – Welcome to Mali
Nick Cave And The Bad Seeds - Dig!!! Lazarus Dig!!!
Portishead – Third
Kasai Allstars - 20 In The 7th Moon…
B.B. King – One Kind Favour
Fall Out Boy - Folie A Deux
Beck – Modern Guilt
El Guincho – Alegranza
Sigur Rós - Med Sud I Eyrum Vid Spilum Endalaust
Ry Coder - I, Flatland
Coldplay – Viva La Vida
Muse – Haarp
Flight of the Conchords - Flight of the Conchords
Toumani Diabaté - The Mandé Variations
Fennesz - Black Sea
The Young Gods - Knock on Wood
Thomas Newman - WALL•E

Obituário - Harold Pinter

De ascendência portuguesa morreu o britânico Harold Pinter.
Recordado como um dos grandes dramaturgos do século XX, Harold Pinter era ainda conhecido pelo seu polémico activismo político, conotado com a esquerda britânica.
Foi um dos mais destacados opositores à invasão do Iraque, lutou contra o bombardeamento da Sérvia e declarou o seu apoio ao líder sérvio Slobodan Milosevic, para quem pediu um julgamento justo, após a sua detenção em 2001.
Pinter foi autor de inúmeras peças do chamado 'teatro do absurdo' e também de guiões para o cinema, como A Mulher do Tenente Francês.
A Academia Sueca, que lhe atribuiu o Nobel da Literatura de 2005, declarou que a obra de Pinter «força a abertura das divisões fechadas da opressão» e que o autor devolveu ao teatro os seus elementos básicos, como o espaço fechado e a imprevisibilidade dos diálogos.
«Ele trouxe realismo ao teatro», reforça o crítico Tim Walker, do Sunday Telegraph.
«Foi a maior figura do teatro desde os anos 50», comentou o director creativo da BBC, Alan Yentob.
A relevância de Pinter é, de resto, sublinhada pelo adjectivo «pinteresco», usado frequentemente para descrever certo tipo de atmosfera em palco.
Pinter tinha ascendência portuguesa. Segundo o próprio, o seu nome era uma adaptação de 'Pinto', testemunho de antepassados sefarditas lusos.
O autor sofria de cancro no esófago desde o ano 2002, mas terá sucumbido ao cancro do fígado, segundo noticia a BBC.
Faleceu na noite de Consoada, de acordo com a mulher, Antonia Fraser, que declarou que «foi um privilégio viver com ele mais de 33 anos».


Nuno Morna/Sol/Lusa

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Musicando - Milladoiro

Vivi quase um ano na Galiza e apaixonei-me por uma cultura muito parecida com a portuguesa ou não fossem os galegos uma parte de nós. Chegou-me a notícia de que os Milladoiro acabam de lançar um novo disco. Se poderem deitem-lhe a unha pois se bem que desconhecidissímos entre nós são uma verdadeira instituição musical entre os exigentíssimos galegos.
«A Quinta das Lágrimas», não é mais do que a «banda sonora» da euroregião Norte de Portugal/Galiza, numa iniciativa inédita na Europa que pretende usar a música como veículo de transmissão da cultura.
Os Milladoiro formaram-se há mais de 20 anos e são os protagonistas desta iniciativa pioneira que pretende criar uma obra emblemática, que permita divulgar a história e a cooperação entre a Galiza e o Norte de Portugal.
Nesse sentido, «A Quinta das Lágrimas» surge como um relato musical centrado nesta região, a antiga Gallaecia dos romanos. A obra, que tem como base os eixos principais que articulam as duas regiões fronteiriças, o mar, a língua e a cultura, recorda os grandes momentos que, através dos tempos, construíram a história do Noroeste Peninsular.
A história da galega Inês de Castro, que veio a ser Rainha de Portugal depois de morta, está na origem do título desta obra, que conta com a colaboração da fadista Mafalda Arnauth.
O disco inclui temas próprios dos Milladoiro, assim como versões de temas galegos e portugueses, entre os quais uma canção de Zeca Afonso e a musicalização de um poema de Fernando Pessoa. Os Caminhos de Santiago, a independência de Portugal, os Descobrimentos, as ditaduras ibéricas e a chegada da democracia são alguns dos muitos episódios históricos referidos neste disco.

Nuno Morna/Lusa





domingo, 21 de dezembro de 2008

Lendo - Associação Portuguesa de Editores e Livreiros

A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) prepara um conjunto de iniciativas para o próximo ano visando "unir e fortalecer o movimento associativo", disse o seu presidente, Rui Beja.
Salientando que "a APEL não é apenas a feira do livro", cujo novo projecto foi entregue no final do mês passado à Câmara de Lisboa, Rui Beja sublinhou o facto de ser a única associação empresarial "que representou os editores portugueses na última de Feira de Frankfurt". "Realizada em Outubro, a APEL foi a única a representar o sector naquele que é o maior certame mundial do livro, o que aliás é já uma tradição", enfatizou.
Referindo-se ao novo plano das feiras do livro de Lisboa e Porto, Rui Beja adiantou que este "colheu a aprovação e um profundo entusiasmo junto da esmagadora maioria dos associados". Refira-se que a APEL representa 75% do sector editorial português, o que para Rui Beja "fortalece expectativas para que Lisboa e Porto tenham as melhores feiras do livro de sempre, em 2009".
"Trabalho interno feito, a APEL está pronta para agora abrir-se à sociedade", disse. "Temos estado internamente a preparar-nos para a necessária abertura à sociedade, tornar a APEL mais presente, e a prestação de um serviço que acresça valor aos sócios", disse.
"Tendo em mente a união dos editores e livreiros, valorização do movimento associativo e captação de sócios", Rui Beja projecta um departamento de apoio ao associado, "reactivar a formação profissional", e a realização de tertúlias. As "tertúlias para troca de conhecimentos, impressões e debate cultural" realizar-se-ão já a partir do próximo ano na sede da APEL.
Quanto à "reorganização" passou por estruturar a Associação em diferentes departamentos: Centro de documentação bibliográfica; Feiras e eventos; Serviços administrativos; e o de Relações institucionais e comunicação. "Mais comunicação, informação e melhoria do apoio aos sócios", são outras metas apontadas por Rui Beja.
Estas medidas traduzem-se por um reforço do site da APEL, envio regular de uma "newsletter" aos associados, criação de um gabinete próprio de comunicação, e um outro para os sócios. Rui Beja sublinhou que se tem "concentrado muito no relacionamento com entidades ligadas ao livro e à leitura, procurando "um fortalecimento dessas relações", quer com organismos nacionais quer internacionais.
Em termos internacionais, "houve que reforçar os laços e indicar quais os directores que representam a APEL". Entretanto, "um sinal de confiança e reconhecimento do trabalho feito" foi a decisão da Agência do ISBN (International Standard Book Number) em realizar em Lisboa, organizado pela APEL o seu congresso internacional, em 2010.

Lusa

sábado, 20 de dezembro de 2008

Obituário - Jorge Silva

Escreve Tolentino de Nóbrega no “Público”, edição online:

Jorge Bettencourt da Silva, de 95 anos, faleceu ontem em Lisboa. Pai do primeiro director e fundador do PÚBLICO, Vicente Jorge Silva, nasceu no Funchal em 1913, sendo uma referência da fotografia madeirense.
Foi o último membro de uma família de fotógrafos que dirigiu o antigo estúdio de Vicente Jorge Gomes da Silva (1827 - 1906), hoje Photographia - Museu Vicentes, com o acervo reunido desde 1853 por quatro gerações que transmitiram "a arte de fotografar".
Bettencourt da Silva exerceu a sua actividade comercial de 1933 até 1978, ano em que o Governo Regional da Madeira adquiriu todo o recheio do estúdio, adaptando o espaço para aí instalar uma unidade museológica, para acolher antigas fotografias da Madeira, do século XIX e XX, pertencentes a várias colecções, processo em que esteve envolvido.
Adepto da prática desportiva, Jorge Bettencourt da Silva era o sócio número um do Clube Sport Marítimo.

Tolentino de Nóbrega

Nomeando - Diogo Infante Novo Director do D. Maria

O actor e encenador Diogo Infante é o novo director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, anunciou o conselho de administração da instituição.
"Oficializada a nomeação de Diogo Infante como director artístico do TNDM II e assinado o contrato-programa que regula os compromissos do conselho de administração e das tutelas - Cultura e Finanças - na gestão do teatro, está para breve o anúncio da programação para 2009", lê-se num comunicado divulgado ao início da noite.
A nomeadação do actor e encenador era uma das hipóteses apontadas para dirigir o Teatro Nacional, depois de ter abandonado as funções de director artístico do Teatro Municipal Maria Matos, cargo que ocupava desde 2006.
A administração do teatro adianta ainda que "começaram, entretanto, os ensaios da peça 'Esta noite improvisa-se' de Luigi Pirandello, com encenação de Jorge Silva Melo".

Lusa

Cozinhando - Coelho à Lavrador

Ingredientes (para 4 pessoas):
1 coelho
1 cebola grande
1 tomate grande
1 nabo grande
azeite
sal
pimenta preta
1 malagueta pequena
1L de vinho branco

Preparação:
Fazer uma marinada com o vinho, a cebola, o tomate e o nabo cortados em quartos, sal e pimenta a gosto. Colocar o coelho cortado em pedaços na marinada durante duas horas.
Numa panela deitar o azeite e alourar os bocados de coelho. Adicionar a malagueta cortada e parte da marinada com todos os pedaços de cebola, tomate e nabo. Deixar cozer em lume brando.
Acompanha com puré de batata.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Musicando - Koko Von Napoo

Imagine-se... Imagine-se uma viagem à profundezas dos anos 80. Muito mais novo saboreei intensamente cada malha sonora que me caiu no goto. Entre muitas, houve duas bandas que muito me marcaram: Depeche Mode e B'52.

Imagine-se uma fusão entre o baixo e as guitarras dos B'2 com os sintetizadores dos Depeche Mode. Imagine-se? Não é preciso!

Porque foi isso mesmo que os Koko Von Napoo ofereceram ontem à noite no Kool Klub naquele que foi, para mim, o melhor concerto que tive a oportunidade de ver este ano.

Não é por acaso que esta banda acaba de assinar contrato, e sem ter ainda qualquer album gravado, com a Voyez Mon Producteur, agência responsável pela gestão da carreira de artistas como Air, Goldfrapp e Carla Bruni (cuja agente partilham e que esteve presente no evento e que tive a oportunidade de conhecer).

Acreditem que acho que para os Koko Von Napoo deve ter sido um concerto muito difícil pois tocavam para um público que desconhecia quase por completo o seu trabalho. E deram tudo em palco, sem hesitações, com uma presença sóbria e muito segura. No final, depois de terem posto a sala a dançar, via-se a satisfação nos olhos de Toupie, Kiddo, Renarde e Kokoboy.

Pena é que apesar da muita divulgação a sala não estivesse a abarrotar, embora cheia. Os que por lá passaram de certeza que não deram o seu tempo por mal empregue.

Opinando - Zink, Cardoso e Serrão

Não é que goste particularmente destas três personagens, mas a entrevista que deram à Única, revista do semanário Expresso, coloca o dedo na ferida do estado a que chegámos como país, como nação. Concordo plenamente com muito do que aqui se diz!

Cáustico como sempre, o "sexo fraco" da "Noite da Má Língua" reuniu-se à mesa numa conversa divertida sobre Portugal, que comparam a um talho, onde tudo está pendurado. A actualidade foi passada a pente fino, de José Sócrates a Manuela Ferreira Leite, de Vítor Constâncio ao BPN, da educação à comunicação social. O pretexto foi o seu novo livro "Os Senhores da Má Língua", que transcreve uma conversa de três dias em Setembro, no Algarve.
Como surgiu a ideia de escrever este livro, 13 anos depois do fim do programa?
Miguel Esteves Cardoso: Foi a Bertrand que veio ter connosco. Temos feito sessões de má-língua informais, porque ficámos muito amigos, mas fazíamo-lo por graça e de graça. Assim, foi uma maneira de falar uns com os outros, o que, ao princípio, parecia agradável e depois revelou-se um inferno...
Hoje, era possível haver uma "Noite da Má Língua"?
Rui Zink: Não. Isso implicaria uma televisão que estivesse disposta a correr riscos. E agora parece que não dá.
Como assim?
M.E.C.: Quando o Balsemão fundou o "Expresso", foi uma revolução total nos "media". Na altura, era estonteante a liberdade que se tinha para dizer tudo. Depois, com a SIC aconteceu a mesma coisa, a liberdade permitida era uma loucura. Quando o Rangel veio ter connosco, disse-nos que podíamos falar de tudo, inclusive do próprio Balsemão. Tínhamos liberdade absoluta, o que vai muito além da simples liberdade de imprensa. Foi fantástico. Mas isso hoje não é possível. Hoje há os blogues, mudou tudo muito...
Manuel Serrão: Mais grave do que isso. Há uma ligação enorme entre o poder económico e o poder político, que não existia naquele tempo. Não há lugar para crítica aberta. A teia de interesses é muito poderosa. E não se pode fazer um programa destes com uma cartilha a dizer: não se pode dizer mal da empresa x ou do político y...
R.Z.: Há 14 anos encontrei no metro um homem que me reconheceu da televisão e disse: "Eu sou angolano, no meu país havia uns rapazes que faziam na rádio o mesmo que vocês - foram todos mortos! Quando vejo que na semana seguinte vocês não foram presos, fico mesmo encantado, porque de facto isto é um país livre..."
Como vêem o ambiente político hoje?
M.E.C.: As pessoas têm medo de perder o emprego. Têm medo de falar e ser castigados por isso. Quem trabalha nas empresas tem medo, os jornalistas têm medo, há um ambiente como se fosse censura, sem haver censura. Até os blogues já começam a ser perseguidos...
R.Z.: A boa ditadura é aquela que consegue pôr um polícia dentro da cabeça de todos. E, na cabeça dos portugueses já havia um pide, que só foi expulso no princípio dos anos 90 - esse período foi mesmo um oásis. Houve ali um momento de euforia em que os portugueses começaram a sentir a cabeça mais leve...
...E agora o PIDE voltou?
M.S.: Sim. E, antigamente, as prepotências vinham só do governo. Agora vêm da oposição, o que é uma coisa fantástica! Agora é a própria oposição que quer suspender o governo durante seis meses, e ser mais autoritária que o próprio governo.
No livro defendiam que uma das características de Portugal é não conseguir mudar. Mas afinal agora dizem que mudou, e para pior...
R.Z.: O pide sentiu saudades.
M.E.C.: E nós devíamos era ter formado um banco e não ter feito um programa...
R.Z.: Um banco da má-língua seria uma coisa maravilhosa. Agradava à direita porque era um banco e agradava à esquerda porque era ML.
M.S.: Fiquei muito triste porque, quando começámos a Má Língua, podia gozar com a esquerda. Mas ela desapareceu nos anos 80. Agora, que voltou a haver nacionalizações, e despedimentos, e manifestações na rua, e militares a dizer que vão fazer um movimento, infelizmente não há Má Língua...
R.Z.: Como temos o pio cortado, decidimos pôr tudo em papel. Ainda me lembro de pôr a mão no ombro do Francisco Louçã e dizer: "Ó rapaz, não cries essa coisa do Bloco de Esquerda, não vás para deputado, vais aburguesar-te." Mas ele não me deu ouvidos...
O BE foi uma desilusão para si?
R.Z.: Não, foi uma desilusão para o Miguel Portas, para o Louçã...
M.E.C.: Foi uma desilusão para o próprio Bloco de Esquerda!
"We cannot change" - é um 'slogan' melhor para um partido de direita, como diziam, ou para uma campanha de turismo de Portugal?
R.Z.: Era uma campanha muito melhor do que encher Portugal de cartazes com o Cristiano Ronaldo e o Mourinho... Era muito melhor meter na "Time": "Portugal: We cannot Change".
M.E.C.: Ou então, em bom português, "Portugal: é sempre a mesma merda..." E depois, mostrávamos fotos do Iraque - e dizíamos: "Mas podia ser uma merda pior..."
R.Z.: Mostrávamos fotos do Iraque antes, com a estátua do Saddam, e depois, destruído. E depois Portugal. 1452. Tudo igual. "Sempre a mesma merda..." E um grande prato de bacalhau.
M.S.: Isto tudo para promover os seis meses sem democracia...
M.E.C.: Imagina, a avalanche de turismo de gajos de direita, de "skinheads"... Olha, o Rui chegou recentemente da Venezuela...
Tem lá amigos?
R.Z.: Fui lá vender Magalhães... E o Manel, voltou há uns dias da China, onde foi comprar Magalhães...
No livro, chegam à conclusão que em Portugal está tudo pendurado. "Isto não parece um país, parece um talho!", lê-se. Esta ideia foi, aliás, aproveitada para a capa, onde aparece um bife com a forma do país. Quais são os dossiês pendurados e quem são os maiores talhantes?
M.S.: São tantos! A Casa Pia, a educação, a Operação Furacão, a reforma da saúde, da justiça... Nunca se leva nada até ao fim.
M.E.C.: Há permanentes manobras de diversão e despiste da Justiça com conluio político. Dizem: "Agora vamos apanhar os gajos do futebol - são todos uns vendidos! Agora vamos aos pedófilos - são todos pedófilos! Agora vamos aos bancos - são todos uns ladrões!" Isto nunca vai dar em nada, arrastam-se os processos durante anos, perseguem as pessoas e desfazem-lhes as vidas... O Oliveira e Costa pode estar inocentíssimo, mas já ninguém acredita.
M.S.: As pessoas, mesmo quando são absolvidas, já foram condenadas na praça pública...
R.Z.: O pior é que a comunicação social passou do quarto poder, para o quarto do poder. Agora dormimos todos com o primeiro-ministro.
M.S.: Fala por ti...
Fale por si...
M.E.C.: E depois há uma coisa pior que contribui para a falta de crítica. É que este governo, ainda por cima, é um bom governo... Até nem é mau, de facto! É uma coisa muito estranha de engolir.
É uma terrível ironia... consegue nalguns aspectos ser mais liberal que a própria direita.
M.S.: O governo de um partido supostamente de esquerda consegue ser melhor a ser de direita do que uma opção supostamente de direita que faz oposição de esquerda - estilo marxista-leninista, que até diz: "Vamos lá instalar a ditadura durante seis meses." A Manuela Ferreira Leite parece-me o Lenine de saias.
R.Z.: Pior. A Manuela Ferreira Leite parece uma Zita Seabra de direita.
M.E.C.: É terrível. É que ainda por cima não há vontade nenhuma de substituir o governo...
Quando escreveram o livro, Manuela Ferreira Leite estava em silêncio. Entretanto, falou.
M.E.C.: Nós tínhamos razão. Quando ela falasse é que ia ser... foi o que se viu. Ela devia ter continuado calada...
R.Z.: Pensávamos que tínhamos uma Margaret Thatcher de direita e afinal sai uma Sarah Palin.
M.E.C.: Toda a gente concorda que aquela ideia de suspender a democracia por seis meses até não é má ideia... Não é ironia, até não era uma má ideia... Se não fosse uma boa ideia, não havia aquela reacção tão veemente!
M.S.: O problema é que podia não chegar...
R.Z.: O Pedro Santana Lopes pode ficar mais 50 anos sem saber se ela votou PSD ou não, mas já sabemos em quem é que ela votou para os Grandes Portugueses no ano passado...
Foi uma ironia... No entanto, mesmo quando fala em matéria económica, que domina, parece que não quer ganhar votos.
M.E.C.: Ela tem é um sentido de humor muito apurado, britânico, toda a gente sabe isso. E aquelas palestras no Clube Americano são um inferno, para acordar aquela gente é preciso dizer alguma coisa, tipo "matei a minha mãe!". E ela está-se totalmente nas tintas para a imagem, o que contrasta com uma preocupação e sensibilidade exacerbada deste governo.
R.Z.: Ela foi vítima de a frase ter sido descontextualizada, como é evidente. Ponham um português a dizer uma piada e dá naquilo...
Mas acreditam que vamos ter um "take 2" do "Nem que o Cristo desça à terra" com uma candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à liderança do PSD?
M.E.C.: Os "timings" estão todos a encurtar. O tempo de pedir perdão está a encurtar, o tempo de estado de graça está a encurtar. Se agora o Marcelo for para líder do PSD, temos de ficar acordados para apanhar o seu estado de graça. Se adormecermos ou isso, pode passar e não damos por isso...
R.Z.: Não sei. Eu acho que o Pedro Passos Coelho pode ser o Obama do PSD. Só temos uma palavra para ele: solário! Antigamente um político precisava de ser branqueado, agora precisa de ser queimado. Uma empresa de solários que preste os seus serviços aos políticos ganha dinheiro com fartura. Nós por acaso temos uma empresa que acabámos de abrir e procuramos investidores...
E que vos parece Santana Lopes como candidato à Câmara de Lisboa?
R.Z.: É óptimo! O Manuel parece-lhe muito bem porque não gosta de Lisboa, o Miguel é de Cascais e eu sou masoquista...
M.S.: Eu digo o mesmo que disse no livro: que ele é o único que aceita perder várias vezes e vai sempre à luta.
R.Z.: Repara, o Santana Lopes tem de ir à luta porque não tem emprego mesmo em mais lado nenhum. Os outros, toda a gente aceita. Até o Jorge Coelho arranjou emprego.
E no braço de ferro entre professores e a ministra da Educação, quem tem razão?
M.S.: A ministra.
R.Z.: Os professores. É muito simples: Ou se demite a ministra, ou se demitem todos os professores. É uma questão de divórcio. É mentira que os professores não fossem avaliados, os meus pais penaram durante anos a saltitar pelo país sem terem vínculo de efectivos. E os professores têm de ser avaliados por profissionais da mesma área: um professor de ginástica não pode estar a avaliar um professor de matemática. Isto faz parte da burocracia do nosso governo...
M.E.C.: Tocaram no nervo! Esqueci-me de telefonar a avisar que este assunto era proibido...
M.S.: Há aqui uma questão política importante. Pegando numa profissão que nos diz mais agora: imaginem que os talhantes todos de Portugal se reuniam e diziam: "Vamos passar a vender carne podre - porque gostamos". "Não, mas é proibido". "Não, mas se todos querem vender carne podre, temos de aceitar". Isto é a mesma coisa. O governo não pode ceder. Porque senão, voltámos ao corporativismo. "Seis meses sem democracia", o MFA não sei quê... Estamos outra vez nos anos 70... Os professores com a mania que são vanguardistas, estão a fazer o papel de putos dos anos 70. Isto é o Maio de 68 para os professores. E o Sócrates, que é um gajo moderno, tem reagido bem a isto. Gosto dele, ele havia de ser de direita...
R.Z.: O Sócrates nunca deu aulas, ele nem sequer teve aulas, portanto não tem autoridade para falar.
M.E.C.: Eu acho que é mais uma cortina de fumo... O que é que nos interessa se os professores são avaliados? É uma questão de cacaracá, completamente "boring", não tem qualquer impacto na nossa vida... A julgar pelos miúdos que saem das escolas, são muito bem comportados, são limpinhos - comparando com os ingleses ou franceses... Escrevem mais, lêem mais, têm mais jeito para línguas... Portanto, os professores estão a fazer um bom trabalho. Porque é que nos havemos de preocupar como uma questão interna de uma profissão?
M.S.: Concordo, os jovens estão muito mais educados. Na altura da Geração Rasca, o que é que eles faziam? Mostravam o rabo. Agora, atiram ovos. É muito mais decente.
R.Z.: Eu lembro-me que, quando ia à escola, tínhamos aulas metade do dia e depois íamos à nossa vida. Hoje, a escola transformou-se numa espécie de galinheiro. Os alunos estão ali como pintos num galinheiro de má qualidade, que têm que estar nas salas de aula.
M.S.: Mas tu tens de te calar neste assunto, que és parte interessada. Eu não sou professor, só tenho aulas de golfe, e o meu professor de golfe não está nada de acordo com os professores...
Mas Sócrates pode ter perdido a maioria absoluta por causa deste episódio?
M.S.: Não. Depende de quando for a história dos seis meses sem democracia, porque acho que ele vai aproveitar para prolongar esta maioria absoluta... E depois quando se for a ver... Ah, as eleições são daqui a seis meses...
R.Z.: O Sócrates podia ter um golpe de génio e criar um bloco central com a Manela e suspender a democracia não durante seis meses, mas durante sete anos... Aliás, eles foram feitos um para o outro...
M.S.: Desde que haja um bloco, estás satisfeito...
Se Portugal é um talho, como dizem no livro, a que corresponde o "filet-mignon"? A vazia? Os pezinhos de coentrada? Ou os miúdos?
R.Z.: Os miúdos é o mais fácil, é a Casa Pia. Ou a Madeira. O "filet-mignon" seria o BCP, o BPN... O coração, que está a falhar, é a selecção nacional. A fraldinha seria o Santana Lopes. Os rins, que filtram, e são importantes para o corpo, e são dois - poderia ser o Marcelo. O Marcelo é o segundo rim, apoiou a Manela e agora está disposto a substitui-la, no caso dela falhar.
M.E.C.: E o nispo [parte da vitela entre a pá e o antebraço] - que pouca gente sabe o que é e nós não vamos dizer, porque tem de haver um mínimo de pesquisa da vossa parte -, é o Rui Rio.
Se a Má Língua existisse hoje, José Sócrates seria poupado ou trucidado?
M.S.: Eu acho que seria obrigatório que ele fosse trucidado.
R.Z.: Calma aí, que isto está a ser gravado... Seria poupado.
M.E.C.: O Sócrates tem uma coisa boa, que é ser muito sensível à crítica. É irascível. Isso é muito bom, porque qualquer coisa que se diga, ele amua... Portanto, seria uma óptima vítima.
Rui, como é que um homem de esquerda vê estas nacionalizações na banca?
R.Z.: Responde tu, Manel... (Risos). Eu via melhor se tivesse comprado acções suficientes nos bancos nacionalizados... O que tenho pena é de não ter tido visão para isso. Senão, não tinha que estar aqui a participar com estes dois palhaços... Esta coisa de ser de esquerda... A única pessoa em Portugal que era de esquerda era o Álvaro Cunhal, que tinha uma visão, um programa. Fora isso, andamos, bem à portuguesa, a apanhar um bocadinho daqui e dali.
Ainda há pouco tempo a ex-deputada Odete Santos disse, a propósito das nacionalizações, que afinal quem tinha razão era a esquerda...
R.Z.: Eu sou de esquerda e nunca achei que isso tivesse alguma coisa que ver com nacionalizações, mas sim com regras mínimas de distribuição de um certo bem-estar. Aliás, ando a tentar fundar um partido com o Manuel Monteiro...
M.S.: Essa declaração da Odete Santos, que é uma senhora encantadora, mostra como a esquerda parou no tempo. E como se move por dogmas. Para a esquerda, a nacionalização é sempre boa. Na altura do 25 de Abril, nacionalizar bancos cheios de dinheiro fazia sentido, mas nacionalizar bancos falidos? Mas isso é bom para quem? Para os capitalistas, não para o povo!
R.Z.: As nacionalizações agora são para proteger os investimentos dos ricos...
E que nota dão a Vítor Constâncio, que devia supervisionar a banca?
R.Z.: Ele já tem tantas, por que é que eu lhe hei-de dar mais notas?
M.E.C.: O Constâncio é aquele tipo banana, de quem toda a gente gosta. É como uma peça de artesanato velha portuguesa. Representa um certo tempo. Coitado, ele não está à espera que os bancos vigarizem...
R.Z.: O Constâncio é uma relíquia do tempo do machismo. Representa a ideia que um homem, desde que seja feio, mirrado e tenha óculos grossos, é inteligente... Ele é a prova disso. O tipo tem óculos, tem uma testa grande, tem um ar sisudo e zangado, parece o Woody Allen português, está calado... logo, deve ser extremamente inteligente.
M.S.: O Constâncio é uma antiguidade. Parece aquela cómoda que herdámos dos avós, e que está ali arrumada a um canto. Arranja-se sempre qualquer sítio para pôr...
M.E.C.: Ou um naperon...
Mudando para assuntos mais triviais. No livro falam bastante do silicone, como prova máxima da independência das mulheres. Eles não acham graça nenhuma mas elas põem na mesma...
M.E.C.: Daqui a 30 anos, quando se olhar para a nossa época, o silicone vai ser como os bigodes nos filmes dos anos 70. E o Botox.. Vai ser só rir...
R.Z.: Já há empresas automóveis que fazem preços mais baratos consoante os sexos, porque se for mulher, não é preciso "airbag"...
M.E.C.: Mas as mulheres enganam-se, porque já há muita geração nova que não olha para as mamas...
M.S.: Agora são as orelhas, aquela parte atrás dos joelhos, o mindinho...
M.E.C.: O nispo!
Mas se as mulheres estão cada vez mais entre elas, como é que Portugal vai resolver o problema da falta de natalidade?
M.S.: Eu não tinha pensado nisso, mas talvez a adopção possa ser uma hipótese. Podemos fazer como com o resto: os têxteis - fazíamos cá, passámos a fazer na China. Os sapatos - fazíamos cá, passámos a fazer na Rússia. As couves - fazíamos cá, passámos a fazer em Bruxelas. Porque não os meninos - fazíamos cá, e agora passávamos a fazer na China ou na Índia?
M.E.C.: Correndo o risco de parecer tosco: a baixa natalidade portuguesa não tem a ver com a fraca produção de espermatozóides. Tem a ver com o desperdício dos espermatozóides emitidos e a pouca receptividade que lhes dão. São aos biliões por freguesia desperdiçados, quando bastaria fazer uma recolha, que não dói nada, e fazer uma reserva de portugueses, que iam nascendo, lindos, quando as pessoas se arrependessem de não terem tido filhos, aos 60.
Mas os grandes bastiões dos homens estão a cair. Que papel é que vos resta?
M.E.C.: O problema é as mulheres gostarem tanto de nós... As mulheres adoram homens, esse é o grande segredo. Têm pena, acham graça... Não vão prescindir de nós nunca...
Além de facilitar o divórcio, sugerem também que se dificulte o casamento. Mas assim é menos um papel para o homem, ou não?
M.S.: Nós defendemos que se deve dificultar sobretudo o primeiro casamento... O casamento por amor, o casamento imediato...
R.Z.: Casar por amor é a coisa mais estúpida que há.
Diz um homem casado...
R.Z.: Por isso, sei do que falo. Tomar uma decisão muito séria por meras razões afectivas é a coisa mais estúpida que há. Um casamento é como criar uma empresa. Tem de ser feito racionalmente. Não pode ser por razões de afecto... Eu não tenho que gostar dela...! Agora, o amor... O amor é uma coisa que uma pessoa faz numa sexta-feira à noite...
Queríamos desafiar-vos para umas previsões para 2009... Começamos por uma pergunta fácil. Quem vai ganhar as legislativas?
M.E.C.: Mas a sério ou a brincar...? A sério? O PS. Com maioria. Há um Bloco de Esquerda submerso, e quem está a fazer a hélice andar, muito depressa, é a Manuela Ferreira Leite. Na parte de cima do submarino está o PS e o Sócrates, às cavalitas, e por baixo está o PSD, a fazer "terratatá, terratatá"... E o Santana Lopes está na casa das máquinas...
R.Z.: O Zé Sá Fernandes vai sair do Bloco de Esquerda, portanto isso já dificulta bastante as coisas.
Ferreira Leite vai cansar-se de tanto falar?
M.S.: Acho que lhe vão tirar a tosse rapidamente.
José Sócrates irá passar férias à Venezuela?
R.Z.: Ele já lá passa... Agora, para variar, é capaz de escolher a Birmânia...
M.S.: Eu acho que o Chávez, ao contrário do que parece, não gosta que lhe ponham creme nas costas...
Qual será a próxima proibição da ASAE?
R.Z.: Vai proibir-se a ela própria... E para compensar o desastre da Casa Pia, vai proibir que se comam miúdos...
Sabemos que têm outros interesses - o Rui pela literatura, o Miguel pela gastronomia, o Manuel pela moda -, e queríamos que recomendassem a algumas figuras públicas livros para ler e pratos para degustar. Começamos por Cavaco Silva. Um livro?
R.Z.: "Dinossauro Excelentíssimo" (Cardoso Pires)
E um prato?
M.S.: Bolo-rei mal passado...
M.E.C.: Ou um prato de lentilhas.
E para José Sócrates?
R.Z.: "A Viagem do Elefante" (José Saramago)
M.E.C.: Uma tigela de sonhos. Com calda.
Para Manuela Ferreira Leite?
R.Z.: Qualquer livro dos Cinco, ou dos Sete. Não, "O Capitão Promessa". Não, "O Arquipélago da Insónia" (António Lobo Antunes).
M.E.C.: Língua estufada.
Belmiro de Azevedo?
R.Z.: Um livro de auto-ajuda, tipo "Quem Mexeu no Meu Queijo"... Ou "A Cartilha", do João de Deus.
M.S.: Túbaros à transmontana.
M.E.C.: Não, jardineira. (Isto é para chatear as pessoas que lêem, não é? 'Jardineira, por que é que escolheram jardineira...?')
Um prato e um livro para a Carla Bruni?
M.E.C.: Uma empada de pastilhas Valda, para aprender a cantar...
R.Z.: Solteiros Elegíveis 2009.
Obama?
M.E.C.: Sei lá, um bacalhau com couves - algo que transmita amor...
R.Z.: Eu voto em bacalhau espiritual.
M.E.C.: O Obama é tão bom que está a pensar contratar a Mónica Lewinsky. Ela é a única daquela Administração que ainda não foi contratada. É só Clintonianos... É estranho, ganhar à Clinton e depois ir buscar os adversários. É tipo União Nacional...
Para a Nereida, ex-namorada de Cristiano Ronaldo, uma personagem recorrente no vosso livro?
R.Z.: "A Sombra do Vento que Passa"
M.E.C.: Dobrada à portuguesa.
E, afinal, a má-língua é um direito ou um dever?
M.E.C.: A má-língua é uma coisa que todos os portugueses fazem. É parte da nossa natureza. É um direito natural.
M.S.: Para quem quiser, é um direito. Para quem puder, é um dever. Mas nem toda a gente pode...

Texto publicado na edição do Expresso de 7 de Dezembro de 2008
Entrevista de Katya Delimbeuf e Mafalda Anjos, fotografia de Ana Baião

Lendo - Viale Moutinho

Narrativas sobre a Guerra Civil espanhola dão corpo a «Negra sombra, negra sombra e outros contos», obra de José Viale Moutinho que será publicada no princípio do próximo ano na Galiza.
O título do livro, com chancela da editora A Nosa Terra, de Vigo, é um verso do poeta galego Luís Pimentel.
Para esta obra, Viale Moutinho seleccionou narrativas publicadas anteriormente nos seus livros «Cenas da vida de um minotauro», Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco/APE, e «Já os galos pretos cantam», Prémio do Conto Edmundo Bettencourt.
Também nos primeiros meses de 2009 será lançado em Itália, com tradução de Luciano Mallozzi, «Los Moros», romance do autor agora reeditado pela Afrontamento, com um ensaio crítico de Luís Adriano Carlos.
A primeira edição portuguesa do romance saiu em 2000. A versão italiana terá chancela da editora NonSoloParole.
Nascido no Funchal em 1945, José Viale Moutinho é poeta e ficcionista, autor de uma já vasta obra que inclui títulos como «Natureza morta iluminada», «No país das lágrimas», «Histórias do Tempo da Outra Senhora», «Romanceiro da Terra Morta» e «Hotel Graben».
É também autor de livros para crianças - «O Cavaleiro de Tortalata»,«O Menino Gordo» e «Os Dois Fradinhos», entre outros - e de colectâneas sobre música popular e de resistência como «O Nosso Amargo Cancioneiro», «Memória do Canto Livre em Portugal» e «Cancioneiro de Abril».
Algumas das suas obras estão traduzidas em russo, búlgaro, castelhano, catalão, galego, alemão e italiano.

Lusa

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Musicando - Koko Von Napoo

Koko Von Napoo - a nova onda da pop alternativa europeia.
Hoje à noite, a partir das 23.45 no Kool Klub. A não perder!!!!

Acredito piamente que dentro de um ano o som dos Koko Von Napoo andará por aí a estourar!
Ontem já por aqui lancei informação sobre a banda que pode ser encontrada mais abaixo.

Cinema - Across The Universe

Desde o primeiro momento, quando um sonhador sentado numa praia se vira para a câmara e canta, “Across the Universe” revela a intenção de usar as músicas dos Fab Four para contar duas histórias, uma pessoal e a outra geracional. Quem canta é Jude, um trabalhador das docas de Liverpool que tem aquele “brilhozinho nos olhos”, assim como se fosse uma espécie de mistura entre John Lennon e Paul McCartney.
A partir daqui o filme vai ficando cada vez melhor. Mais ou menos a meio agarrou-me bem cá dentro e é já um dos meus favoritos. Apaixonar-se por um filme é quase o mesmo que nos apaixonarmos por outra pessoa. As imperfeições, se é que existem, deixam de ter qualquer importância.
De um lado uma estória de amor, entre Jude e Lucy, que nos enleva, do outro a análise crítica ao envolvimento americano na guerra do Vietname. São estas as duas premissas do enredo.
Depois uma muito imponderável relação entre um certo tipo de Janis Joplin e um tipificado Jimmy Hendrix. São eles Sadie e Jo-Jo. Engraçado que todas as personagens têm nomes extraídos de canções dos Beatles.
Ah,… e a fantástica presença de Joe Cooker, de Bono e de Eddie Izzard só vem enriquecer todo este bolo cinematográfico.
A película é de 2007 e passou-me, na altura, completamente ao lado. Nem sei se por cá passou. Mas anda aí em DVD.

ps: o filme tem cenas brilhantes, mas gostava de destacar aquela em que Max se apresenta num centro de recrutamento. A coreografia é do melhor que tenho visto. Acreditem, é que eu até nem gosto muito de musicais!


Cinema - Cinema Paraíso

Para os que viram e gostaram do filme aqui fica esta cena para recordar...



Musicando - Victor Costa

(clicar sobre a imagem para ver maior)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Musicando - Koko Von Napoo Amanhã no Kool

É comum hoje em dia contarem-se muitas estórias sem sentido, como se fossem um tema primordial num final de noite necessariamente demasiado vivida.
Koko Von Napoo é uma absurda estória de amizade indestrutível que liga quatro jovens. Amores – claramente no plural – como aqueles que conduzem à desordem, à incoerência, a um bom copo de vinho, aos bares underground de Paris, às mélangés musicais, ao pachorento ladrar de um cão e à nouvelle vague (aos diversos movimentos e não à banda).
Koko Von Napoo é talvez uma das mais refrescantes bandas europeias da actualidade. E por tal são já a mais recente aposta da agência Voyez Mon Producteur, responsável pela gestão da carreira de artistas como Air, Goldfrapp e Carla Bruni (cujo agente partilham e que também estará presente no evento).
É esta a aposta do Kool Klub para amanhã, dia 17 de Dezembro.
O concerto decorrerá no andar de entrada do Kool, prevendo-se a possibilidade de reservar o espaço lounge do terceiro andar para convidados especiais. Depois a festa “derramará” pelos restantes espaços do Kool.
Os Koko Von Napoo são constituídos por quatro elementos, três raparigas e um rapaz. Vivem em Paris por mero acaso. O nascimento da banda desenhou-se à beira-mar, mais concretamente em Brighton na Inglaterra.
Pela mão de Toupie, dissimulada por detrás de uma mecha de cabelo morena, tudo começa a tomar forma. Era ela que de início dava forma aos temas da banda usando uma caixa de ritmos, que apelida de asmática, e alguns instrumentos que domina q.b.
Daqui até ao convite a alguns amigos para que se lhe juntem vai um pequeno mas muito importante passo. Kiddo é a primeira a juntar-se-lhe. Orgulhosa das suas raízes polacas considera-se cidadã do mundo. Sonha muito com Kurt Cobain. Por vezes mal se distingue por detrás da sua bateria.
Renarde impõe-se nos teclados, sopra uma melódica e acaricia percussões. Morena de grandes olhos castanhos é de uma serenidade absoluta com um sorriso que encanta. François Truffaut é a sua referência.
Kokoboy poderia ser o alter-ego de Nicolas Pimprenelle se fosse filmado por Éric Rohmer. Brinca com o baixo e navega, por vezes, até à guitarra. Fuma como um bombeiro e declara-se punk a tempo parcial. E trabalha como um louco.


Ambição, muito trabalho, concertos e uma ideia precisa de onde partiram e para onde querem ir. A sua música pode definir-se como moderna e ao mesmo tempo desestruturada. Podemos quase imaginar as suas canções a chegar aos nossos ouvidos como verdadeiros OVNIS melódicos cheios de assombrados ritmos rigorosos.
Acabam de ganhar o prestigioso CQFD, prémio atribuído pela revista francesa “Inrockuptibles”. À curiosidade inicial junta-se agora uma imprensa rendida a um cenário musical que permanece ainda por inventar. Um desafio que Toupie, Kiddo, Renarde e Kokoboy aceitam de braços abertos cheios de grandes ilusões e uma determinação implacável.
Mais informação em: http://www.myspace.com/kokovonnapoo

Musicando - Buraka Som Sistema

O tema "Sound of kuduro", dos portugueses Buraka Som Sistema e retirado do álbum "Black Diamond", foi considerado um dos melhores do ano pelo jornal britânico “The Observer”.
De acordo com a edição de domingo do jornal, "Sound of kuduro", que faz parte do álbum "Black Diamond", foi eleita a terceira melhor música de 2008, ficando atrás de "Machine gun", dos Portishead, e "L.E.S. Artistes", de Santogold.
Para a redacção do Observer, "Sound of kuduro" ficou à frente de MIA (cantora que participa nesse tema), Kanye West e Leone Lewis.
Os Buraka Som Sistema não têm passado despercebidos no Reino Unido, onde actuam com regularidade, apresentando a mestiçagem de sons, com kuduro, electrónica, funk, tecno, dancehall.
"Black Diamond", editado em Novembro no mercado internacional, foi ainda considerado o quarto melhor álbum de 2008 pela revista de música Uncut.
Os Buraka Som Sistema, premiados em Novembro pela MTV Portugal como a melhor banda de 2008, são formados por Lil´John, DJ Riot, Kalaf e Conductor, surgiram há dois anos e editaram o EP "From Buraca to the world" e o álbum "Black Diamond". Para o início de 2009 têm agendada uma digressão pela Austrália.

Lusa

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Funchal 500 Anos Passa a Fundação

Lê-se, pela pena de Paula Henriques, no DN/Madeira de ontem:

Fundação substitui 500 anos
A Câmara do Funchal vai deter 100% do capital da Funchal XXI, criada para racionalizar meios humanos e financeiros

A Funchal XXI, uma fundação para a ciência e para a cultura foi o caminho encontrado para não deixar morrer parte das iniciativas que se realizaram ao longo deste ano e dos anos anteriores integrados nas comemorações dos 500 anos do Funchal, mas sobretudo de a Câmara do Funchal assegurar novas formas de angariar fundos, de gerir meios humanos e técnicos e de celebrar parcerias, adiantou ao DIÁRIO Pedro Calado. "A fundação é feita com um objectivo que é a racionalização de meios, quer técnicos, quer financeiros quer humanos", resumiu.
Segundo o vereador e presidente da Funchal 500 anos, empresa municipal que cessa funções no primeiro trimestre de 2009, a Fundação legalmente ainda não está constituída. Os estatutos estão prontos, ficando para os primeiros meses do próximo ano a constituição da Funchal XXI, projecto que será formalmente apresentado no dia 30 de Dezembro, pelo presidente da câmara, Miguel Albuquerque. A Fundação terá como património o Teatro Municipal Baltazar Dias e a Estação de Biologia Marinha. O capital será detido a 100% pela autarquia e a direcção e administração será sempre da presidência da câmara Municipal do Funchal, através do presidente da Câmara ou de outra pessoa nomeada por este, adiantou o vereador.
"Se vai haver um director executivo, se vai haver um administrador, não sabemos ainda". E acrescentou: "A única coisa que está definida nos estatutos da Fundação é que tem um corpo de administradores que vai ser sempre administrada pela presidência da Câmara. As únicas entidades que têm assento no conselho de administração é a presidência da CMF", a quem cabe também definir as linhas estratégicas, os objectivos, as parcerias e o programa cultural. Além deste órgão de gestão, a fundação vai ter um corpo consultivo, que será tido em conta e onde vão entrar os mecenas da Fundação. Na administração vão sentar-se ainda os vereadores com os pelouros da cultura e ciência.
Câmara assegura 1º ano Quanto ao financiamento, Pedro Calado disse que ainda não está definido, mas que neste 'ano zero', como lhe chama, deverá recair quase em exclusivo pela autarquia, que reservou entre 300 a 400 mil euros para o projecto. "O financiamento neste primeiro ano de actividade terá forçosamente de ser quase todo ele coberto pela Câmara, porque é um ano de início, estamos a dar um primeiro passo. Por isso neste ano, no ano de 2009, teremos de ser muito comedidos na realização de eventos. Teremos de ter uma actividade ainda reduzida. Nem de perto nem de longe as pessoas podem estar à espera que vamos agora fazer com a Fundação aquilo que se fez com os 500 anos".
O orçamento é o que já existia antes para a cultura é o que será agora direccionado para a Funchal XXI, explicou Pedro Calado. Incógnita mantém-se Faria Paulino é actualmente o comissário executivo da Funchal 500 anos e como a empresa, o seu cargo está também na recta final. Se vai integrar o novo projecto, mantém-se uma incógnita. É que apesar de questionado sobre a passagem do rosto mais visível das comemorações para a Funchal XXI, Pedro Calado foi peremptório: "Não vale a pena especular com nomes. Isto não está feito para pessoa A, B ou C. O Faria Paulino ainda nem existia e já a Câmara estava a tentar fazer uma fundação". Apesar da insistência, Calado assegurou: "Não está ninguém definido. Será uma coisa que vai decidir-se no primeiro trimestre de 2009".

Mecenas precisam-se

A possibilidade de fazer parcerias com mecenas a nível internacional de forma mais prática e ágil, apresentar candidaturas a fundos e a parcerias com outras instituições estrangeiras, são algumas das mais valias de criar uma fundação, explicou. Consciente de que os mecenas não são muitos, Pedro Calado acredita que vai também depender do trabalho que conseguirem fazer : "Todos sabemos que a altura não é a mais propícia, mas não é a mais propícia para nada. De braços cruzados também não podemos ficar e não podemos ficar aqui a chorar isto está tudo em crise e está tudo mau... Neste momento ficar parado é a pior coisa que se pode fazer". Os próximos passos passam por tentar sensibilizar mecenas, canalizar verbas a nível nacional e a nível internacional para a Fundação. O trabalho que vem sendo feito na área da ciência também deverá ganhar mais visibilidade com a Funchal XXI. Actualmente as vitórias ficam quase para 'consumo interno', "para meia dúzia de pessoas que trabalham naquela área", não chegando ao público em geral.

800 mil euros para contas

A actividade da Funchal 500 anos acaba a 31 de Dezembro, mas contabilisticamente só termina em Maio de 2009, altura em que serão saldadas todas as contas com os 800 mil euros contemplados no orçamento da Câmara para 2009.
Segundo Pedro Calado, não se trata de derrapagem, mas de um valor previsto no orçamento. O vereador com o pelourto das finanças acrecentou ainda que do orçamento inicial de 4,4 milhões de euros previstos para as comemorações foi possível realizar todos os eventos e ainda poupar cerca de 700 mil euros. O valor final é de 3,7 milhões.

Câmara destaca pessoal para novo organismo

A racionalização de meios humanos passa pela colocação de alguns dos funcionários na Funchal XXI e pela adopção, entre outras coisas, de novos horários, mais adequados às funções que exercem no sector cultural. Até agora, um dos problemas com que a autarquia vem se debatendo é precisamente com a questão dos horários de função pública, desadequados aos eventos culturais, que se realizam sobretudo à noite e aos fins-de-semana e que implicam o pagamento de horas extra.
A transferência poderá não agradar a muitos dos visados, sobretudo porque implica mudanças que nem sempre são bem acolhidas. No entanto, segundo o responsável, as pessoas em questão não serão prejudicadas: "Para além desta racionalização, há uma outra preocupação nossa que é fazer com que todos os direitos e regalias que os nossos funcionários da Câmara têm continuem a tê-los na Fundação e isso já está salvaguardado, ou seja: as pessoas que possam eventualmente passar da Câmara para a Fundação, a Fundação como é detida a 100% pelo Município (...) os funcionários não perdem qualquer direito nem qualquer regalia.", assegurou. Ao passar para a Funchal XXI, acrescentou, haverá flexibilidade de horários e nesse aspecto, defendeu, "é melhor para os funcionários para nós". Neste momento, disse, a Câmara está impedida de pagar horas extra. Quanto ao número de funcionários que serão abrangidos por esta mudança não acrescentou muito: "Ainda não sei ao certo. Temos um número estimando, mas como é uma Fundação que se vai dedicar à ciência e à cultura, há pessoas que podem ser aproveitadas". Segundo Pedro Calado, é possível que sejam contratadas outras pessoas de fora, pessoas mais habilitadas a trabalhar nas duas áreas.

Fim da festa reduz eventos em 2009

Nem de perto nem de longe o ano cultural de 2009 será intenso como 2008 e provavelmente nenhum outro, nos próximos 500 anos do Funchal, voltará a reunir tantas actividades em tão curto espaço de tempo, afirmou o vereador Pedro Calado, acrescentando que à partida, as pessoas também já sabiam e têm de encarar este ano como um ano de excepção, justificou o presidente da Funchal 500 anos.
Embora com uma produção bastante inferior a este, algumas das iniciativas que se integraram o calendário comemorativo vão continuar, em 2009 quer na alçada nova Fundação, quer na alçada da CMF, pois o destino de cada um dos eventos ainda não está delineado. Apesar de a maior parte da actividade cultural e científica ser gerida pela Funchal XXI, os Departamentos de Cultura e de Ciência da Câmara não vão desaparecer, mantendo-se em funcionamento e assegurando parte das activades. "Há muitas coisas, que tiveram muito impacto, muito sucesso essas vamos dar continuidade", disse o responsável. Na lista destes 'indispensáveis', encontram-se o Funchal Jazz, a Feira do Livro, as edições literárias (embora em menor número), um bom espectáculo por ano, o Dia da Cidade, transformado em dia de festa para toda a gente e um seminário anual para debater um tema de relevo, exemplificou.
A esta lista, de responsabilidade própria, acrescenta a possibilidade de realizar outras mais, projectos de eventos que podem ser feitos através da Fundação, em parcerias com teatros nacionais e com outras instituições internacionais, acrescentou.
Em 2010 espera poder oferecer mais aos madeirenses.

Paula Henriques

domingo, 14 de dezembro de 2008