As águas quase tudo levaram. Quase tudo… menos a dignidade e a identidade. Em Agosto de 2005 o furacão Katrina espalhou miséria no Golfo do México. Nova Orleãs, cidade multicultural e bilingue, quase desapareceu. Milhares de mortos, centenas de milhares de deslocados, prejuízos na ordem de muitos milhares de milhões de dólares.
É este o pressuposto geral de "Tremé", uma série televisiva que descobri há pouco tempo e cujas três séries devorei em pouco mais de uma semana.
A acção inicia-se cerca de três semanas depois da catástrofe e a protagonista é a própria cidade e a sua identidade multicultural. As diversas manifestações por alturas do carnaval são a marca identitária da cidade: a sátira política do "Krewe du Vieux", o impressionante "Mardi Gras", o desfile dos "Indians Chiefs" por alturas do Dia de S. José, e a música!
A música é um dos pivot de tudo isto. Do blues ao jazz, do rock ao hip-hop, do cajun ao soul. Em "Tremé" não se passam cinco minutos sem música. Kermit Ruffins, Soul Rebels Brass Band, Allen Toussaint, Spider Stacy, Dr. John, Elvis Costello, Steve Earle, Eyehategod, Justin Townes Earle, Sammie "Big Sam" Williams, Donald Harrison, Jr., Galactic, Troy "Trombone Shorty" Andrews, Deacon John Moore, The Pine Leaf Boys, Paul Sanchez, Rebirth Brass Band, Treme Brass Band, Joe Braun, Matt Perrine, Ron Carter, The Pfister Sisters, Bruce Brachman, "Uncle" Lionel Batiste, John Boutté, Coco Robicheaux, Tom McDermott, Cedric Watson, Lloyd Price e Irma Thomas são alguns dos nomes de músicos que participam nesta série, um verdadeiro must para melómanos!
Mas "Tremé" não se fica por aqui. Sem pretensões mostra-nos a importância que a identidade de um povo tem como marca unificadora. Mostra-nos a importância da cultura como eixo da identidade de um povo.
Uma série que aconselho vivamente!