Baseado no livro de Joaquim Fernandes "O Cavaleiro da Ilha do Corvo. A conspiração dos Cristoforos" está a preparar-se a produção de um novo filme de Elsa Wellenkamp, ex-realizadora da RTP e actriz de «Amor de Perdição», de Manoel de Oliveira, e que conta com o meu amigo Zeca Medeiros como co-realizador.
A banda sonora da película deverá apresentar em estreia absoluta uma peça composta por Damião de Góis... exactamente: o cronista quinhentista.
O argumento do romance parte de uma descrição daquele cronista régio que assinala a existência de uma enigmática estátua equestre descoberta na ilha do Corvo e o seu transporte para Lisboa, facto que pela primeira vez em 500 anos de História, abala a tese da prioridade portuguesa nas viagens de descobrimento no Atlântico.
O cronista refere que a descoberta ocorreu no período a que classificou de «nossos dias», ou seja, no seu tempo de vida, provavelmente entre os finais do século XV e os inícios de XVI, no decurso do reinado de D. Manuel I e durante as primeiras tentativas de colonização da ilha do Corvo.
O monumento era «uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.»
«Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D'armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o Inverno passado», refere o cronista.
«Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber», acrescenta.
A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.
As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.
No romance, Joaquim Fernandes refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma um desenho, uma forma de aviso, com uma legenda em latim onde se diz: «Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules...» Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados.

1367. Franzesco Pizzigani. Biblioteca Palatina de Parma
(clicar em cima para ver imagem maior)
PS: um tal de Gavin Menzies refere, no seu livro "1421 - O Ano em que a China Descobriu o Mundo" que essa estátua teria sido lá deixada por uma armada chinesa que nesse ano teria dado a volta ao mundo. Nesta obra também surgem algumas referências à Madeira. Este investigador tem um site onde sustenta a sua teoria em: http://www.gavinmenzies.net/
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