
De qualquer modo são, sem qualquer dúvida, dois dos maiores vultos da língua portuguesa e já ganharam o seu lugar no panteão dos nossos maiores escritores.
O livro começa como um relatório de polícia, descrevendo a vida de um gang numa zona a que se chama simplesmente Bairro e que nos pode fazer evocar um qualquer bairro periférico de uma grande cidade.
A legião que é referida no título reporta-se a uma citação do Evangelho de São Lucas, mais precisamente ao seguinte excerto: "(...) Quando desceu para terra veio-lhes ao encontro um homem da cidade, possesso de vários demónios, que desde há muito não se vestia nem vivia em casa mas nos túmulos. Ao ver Jesus prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: 'Que tens que ver comigo Jesus, filho de Deus altíssimo? Peço-te que não me atormentes!» (...) Jesus perguntou-lhe: 'Qual é o teu nome?' 'O meu nome é Legião'— respondeu.
Porque muitos demónios tinham entrado nele e suplicavam-lhe que os não mandasse para o abismo."
Com "O Meu Nome é Legião" percorremos, como se fosse a nossa vida, a vida de pessoas que vivem na pior parte do pior sítio do mundo – pessoas que são muitos, sendo o mesmo, e sendo esse «mesmo» uma parte oculta, desesperada e silenciosa de nós, que se esforça por acreditar que há uma salvação.
Cruzam-se histórias, tendo quase sempre como pano de fundo o bairro; os conflitos homem/mulher, ricos/probres, brancos/pretos; as histórias não acabam, e é normal - o autor mostra-nos que aquilo que existe de mais parecido com a salvação é esquecer tudo o que aconteceu e pensar:«Não tenho medo de vocês, não tenho medo de nada».
Ficamos aqui com uma entrevista dada por Lobo Antunes a Mário Crespo:
E com o press release da D. Quixote (a editora):
2 comentários:
Caro Nuno
Apreciei o comentário sobre o livro do ALA, que ainda não li. Também gosto igualmente do Saramago mas são efectivamente bem diferentes. Na minha opinião as suas diferenças são muito fruto das suas origens. Independentemente do estilo ao escrever, em que confesso prefiro o ALA, este prima por ter um sensibilidade comovedora, enquanto o Saramago tem uma imaginação incrível. Pena não ser possível juntá-los. Uma entrevista conjunta seria fantástica.
Um abraço.
Pedro França Ferreira
Caríssimo Pedro
É exactamente isso que penso. Sem tirar nem pôr, recusando-me a entrar nas "guerras" dos que lêem e preferem um ao outro. Adoro os dois por motivos diferentes e que são também os seus: o rendilhado enternecedor de Lobo Antunes e as dores de cabeça que Saramago me dá com a sua inesgotável imaginação febril.
Um grande abraço
Nuno
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