terça-feira, 13 de outubro de 2009

Musicando - GCEA

Ainda pela pela de João Filipe Pestana no DN/Madeira de hoje:


A preservação e investigação do património musical em Portugal, sobretudo no que concerne aos séculos XIX e XX, lida com a dificuldade de grande parte das obras existentes estarem ainda na posse de descendentes dos compositores e, consequentemente, em muitos casos serem de difícil acesso.

Por cá, a Região Autónoma da Madeira tem dados passos significativos e pioneiros nesta área por mérito do trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos pela Divisão de Investigação e Documentação do Gabinete Coordenador de Educação Artística (GCEA).

Paulo Esteireiro, coordenador desta divisão do GCEA, revela que em quatro anos foi possível criar uma base de dados com três mil partituras históricas catalogadas, além de terem sido transcritas 150 partituras em edição moderna, de terem sido angariadas, inventariadas ou catalogadas 500 imagens com músicos, instrumentos ou situações musicais. Fruto ainda do trabalho do GCEA, foi possível gravar em estúdio 40 peças históricas da Madeira e realizar 60 biografias de músicos madeirenses.

Estes resultados positivos acabam de ser apresentados no Fórum Musicológico que decorreu no passado fim-de-semana em Oeiras, num evento de âmbito nacional que contou com a participação de alguns dos principais especialistas nacionais da área do património musical.

Conforme explica Paulo Esteireiro, "a Madeira, através da experiência do Gabinete Coordenador de Educação Artística da Madeira, revelou o trabalho feito no património musicológico: desde a recolha de fundos musicais junto de famílias e instituições, passando pela sua correcta catalogação utilizando as regras portuguesas de catalogação e os 'softwares' especializados das bibliotecas, até à realização de projectos de investigação musicológica e divulgação junto das escolas e da comunidade madeirense".

Salienta que ao longo de quatro anos foi recuperado todo o tipo de repertório da autoria de uma grande percentagem de músicos madeirenses (muitos dos quais desconhecidos): música sacra dos séc. XIX e XX; peças para orquestras de salão do séc. XIX; música doméstica para piano; peças para orquestras de bandolins do séc. XX; peças para bandas filarmónicas dos séc. XIX e XX; música de revista e operetas; e ainda canções e arias de ópera.

Paulo Esteireiro revela que grande parte do espólio tem sido encontrado junto de padres, igrejas e Seminário do Funchal, junto de músicos ou famílias (viúvas e descendentes, muito apegados à documentação pelo valor sentimental); e em associações culturais (arquivos de bandas filarmónicas, associações de bandolins, coros, etc).

O GCEA tem sido pioneiro na divulgação do trabalho musicológico nas escolas, algo que é caso único em Portugal. Ou seja, o espólio recuperado tem sido alvo de edições e tem sido utilizado na formação directa aos docentes de Educação Musical.

Apesar dos obstáculos sentidos pela Divisão de Investigação e Documentação, como a dificuldade de escoamento das edições e o sempre árduo acesso a determinados fundos musicais, o GCEA não desiste e tem três objectivos centrais para os próximos tempos: aumentar o número de documentos digitais da Biblioteca; formar os docentes para utilizar os recursos criados ao longo destes quatro anos; convencer os musicólogos portugueses a estudarem a música na Madeira.

Paulo Esteireiro

Paulo Esteireiro é coordenador da Divisão de Investigação e Documentação do GCEA, onde dirige as seguintes áreas: a Biblioteca, o Sector de Edições, o Estúdio de Gravações, os Estudos de Musicologia Histórica, o Observatório de Educação Artística, o Jornal Electrónico de Educação e Artes e a Livraria 'On-Line'. É licenciado e mestre em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa, onde actualmente prepara o doutoramento. É autor e coordenador de publicações. Tem escrito artigos para revistas e publicações. É docente convidado do Ensino Universitário.

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