quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

A Minha Festa

Ainda me lembro de começar a comemorar a Festa com as primeiras Missas do Parto. Conforme a idade me vai aumentando o currículo, cada vez o Natal me sabe a menos, cada vez começo a senti-lo mais tarde. A minha Festa, hoje em dia, começa cada vez mais tarde e acaba cada vez mais cedo.
Mas tenho saudades, muitas saudades de um tempo irrepetível em que o consumismo não existia e não se contabilizava o sucesso desta época em termos de deve e haver. A felicidade tinha a ver com o facto de estarmos todos juntos e juntos celebrarmos uma época de solidariedade e de partilha.
Na época era pouco comum fazerem-se jantares disto e daquilo. Não precisávamos pois estávamos juntos o ano inteiro. Hoje participo em muitas jantaradas onde reencontro alguns velhos conhecidos que acabo por só ver uma vez por ano. Sintomático é o incontornável "então até pró ano" da despedida.
Como era bom que tivéssemos a capacidade de parar, olhar para trás e escolher o Natal de outrora, de um tempo que não volta. O Natal do "Tin-Tan-Tun", dos cheiros ao licor de tangerina a macerar desde Novembro, das camisolas de lá grossa que usávamos porque o frio que fazia a isso obrigava. Da vinha-e-alhos preparada em família e tornada para dentro do grande pote de barro onde ficava semanas a ganhar o gosto e o cheiro que inundava a casa no almoço do dia da Festa. O amassar dos bolos de mel e o fazer dos biscoitos, o visitar as casas dos vizinhos que eram pessoas que conhecíamos e não desconhecidos, o provar o licorzinho e a aguardente com mel ou anis. O acordar às quatro e picos da manhã para as preparações libatórias da Missa do Parto. O descer a Rua de Santa Luzia aos magotes e em grande algazarra até à Igreja onde cantávamos a "Virgem do Parto" em altos berros como mandava a tradição. A Missa do Galo, a canja, os poucos mas merecidos presentes onde havia sempre livros que me fascinavam nos meses seguintes.
Tenho saudades e muitas...

3 comentários:

SIMBIOSIS disse...

Pois é Nuno... que saudades.
Estando fora da Madeira também este ano, trabalhando no dia de Natal, e sem outro remedio que passar estes dias longe de progenitores e mano respectivos... carne de vinha de alhos...licor de tangerina e provar o anis a casa do vizinho, ver a lapinha e comer o bolinho de mel terao que ficar de momento guradados na memoria, Oxalá os meus (futuros) filhos possam ter uma infancia abençoada e tranquila como a que tivemos nós há vinte anos. Eu ainda nao perdi a esperança.
Bom Natal :)

nina

Nuno Morna disse...

Bom Natal Nina, desejando que para o ano possas passá-lo com os teus.

Nuno

Lídia disse...

Com o desenfreado consumismo, apesar da crise que se faz sentir já há algum tempo,mas que nem por isso combate o "ataque" aos estabelecimentos comerciais nesta época, só mesmo NÓS, aqueles que se preocupam, aqueles que "sentem", podemos alterar, de alguma forma, o "curso" dos preparativos e vivências do Natal, se queremos que aos nossos preciosos descendentes ainda reste algum "cheirinho" daquela que era a verdadeira "Festa"! E é precisamente no núcleo familiar, que esse "espírito natalício" tem de ser cultivado e alimentado, contrariando a "voz" mercantil. Contra tudo e todos continuarei a montar o presépio tradicional de escadinha ou rochinha, a armar a árvore de natal com a participação dos meus filhos, menos entusiastas, como é óbvio, à medida que vão crescendo, a fazer a ceia de Natal com a presença de todos os que nos são queridos e a relembrar-lhes que as trocas de presentes não são um acto comercial ou de ostentação, mas um acto de amor. E, essencialmente, que a solidariedade, o amor e a fraternidade, apesar de parecerem ter uma voz mais alta nesta época, são aquilo que nos fzem "crescer" e por isso devem ser praticados todo o ano.
Lídia