segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Poema (VII)


A águia


No olhar verde e vazio de pupilas raiadas
pelo sangue a escorrer do bico para as penas sujas
pardas e grisalhas de um pó excrementício
que as grossas patas cobre como lama sua
onde as unhas longas mais do que se emergem cravam,
paira a negridão de fumos na distância
tornando-a curta opaca alaranjada
cortada por relâmpagos e gritos
de não vozes humanas mas detritos
estilhaços retorcidas lâminas quebradas
em que ossos carne partes retalhadas
pendem apodrecendo no pescoço daquilo
cuja cabeça pelada verdes olhos pisca
lacrimosos purulentos e raivosos.


Jorge de Sena

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