Alta e pálida, vestida de escuro, a coreógrafa alemã Philippine Bausch – que o Mundo conhecia por Pina Bausch e que morreu ontem, aos 68 anos, vítima de um cancro detectado cinco dias antes – usava o cabelo comprido e apanhado, tinha olheiras profundas e acompanhava-se de cigarros. Ajudavam a esconder a timidez e ocupavam-lhe as mãos ao ser abordada por jornalistas.
Tinha um ar distante e muitas vezes o rosto espelhava grande parte das suas coreografias, assentes em pressupostos depressivos. Não gostava de falar de si e ainda menos das suas criações. Perguntaram-lhe tantas vezes (e em tantos lugares) a razão deste ou daquele bailado que qualquer entrevista era um misto de suplício e desafio.
Nascida em 1940, começou aos 14 anos com um mestre da dança moderna alemã, Kurt Jooss, na escola de Essen, para a qual voltaria em 1962, após passar pela Juilliard School, de Nova Iorque, onde até dançou obras clássicas. Seguiria uma direcção muito diferente ao começar a coreografar no Folkwang Ballet (de Jooss), que dirige de 1969 a 1973. Um ano mais tarde funda a companhia Wuppertal Tanztheater. Desde então produziu, em média, um espectáculo por temporada. O primeiro grande êxito foi em 1975, com uma inusitada produção de ‘A Sagração da Primavera’, em que o palco estava coberto por terra molhada. A reputação não mais parou de crescer e os seus trabalhos, baseados na angústia, alienação, frustração e crueldade, questionavam ideias pré--concebidas sobre género e sexo.
Na primeira vez que veio a Lisboa, para os VIII Encontros Acarte de 1994, trouxe um conjunto notável de obras e o sucesso foi retumbante. Voltaria várias vezes, designadamente em 1998, quando criou, a convite da Expo, a belíssima peça ‘Masurca Fogo’.
Sem comentários:
Enviar um comentário