domingo, 22 de março de 2009

Opinando - Manuel Maria Carrilho

O antigo ministro socialista da Cultura (1995-2000) e actual embaixador de Portugal junto da UNESCO, em Paris, Manuel Maria Carrilho criticou a política cultural do Governo, acusando-a de ser "cada vez mais invisível, ilegível e incompreensível". Na sua opinião, os anos de 2005 a 2009 podem ser "uma legislatura perdida para a Cultura".

A afirmação, divulgada pelo semanário ‘Expresso’, consta de um documento enviado por Carrilho à fundação Res Publica, no âmbito do debate interno que antecede a preparação do programa eleitoral para as próximas legislativas.

O actual titular da pasta da Cultura, Pinto Ribeiro, escusou-se, entretanto, a comentar as afirmações, alegando desconhecê-las. 'Quando ler o documento, terei muito prazer em discutir, em conversar, em analisar', disse ontem, na inauguração do novo auditório municipal de Olhão.

Em declarações ao CM, o poeta e eurodeputado Vasco Graça Moura concorda com as críticas de Carrilho. 'O Ministério da Cultura tem--se afirmado pela inexistência, a inoperacionalidade, a falta de ideias e a incapacidade de tomar medidas', disse. O político social-democrata diz que as suas relações com o antigo ministro da Cultura 'não são propriamente as melhores', mas sustenta: 'No que respeita à tese geral sobre a inexistência de uma política de cultura, estou inteiramente de acordo com aquilo que ele diz.'

No documento em questão, Carrilho defende que 'a cultura pode dar uma importante contribuição na resposta à crise que o País atravessa.' Esta tese é defendida por outras vozes no campo da cultura.

Vasco Graça Moura evoca o teor de uma conferência realizada recentemente no Parlamento Europeu, em que participou. 'O papel da Cultura em tempo de crise pode contribuir para a sua superação', afirma o eurodeputado. Na sua perspectiva, a acção a desenvolver 'terá de ser efectuada na escala de pequenas e médias empresas, com intervenção local, regional e nacional.' Argumentando 'não se poder esperar que a cultura dê emprego definitivo aos desempregados', Graça Moura afirma, no entanto, ser possível esperar 'o surgimento de muitas actividades que permitam fazer face à crise, ocupando gente e remunerando-a condignamente'.

Manuel Maria Carrilho, que se demitiu do segundo Governo de Guterres na sequência do corte imposto ao orçamento do seu Ministério, defende no documento a atribuição de um por cento do Orçamento do Estado à Cultura. Esta percentagem é superior ao dobro da que actualmente é praticada. Para o antigo ministro, que encara a política em vigor como uma ameaça real à Cultura, 'é urgente mudar.'

José Luís Feronha in Correio da Manhã

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