segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Do Copo (II) - Ginginha

"Com ou sem elas", era a pergunta sacramental quando entrávamos na Ginginha do Rossio e nos encostávamos ao balcão onde não cabiam mais do que quatro pessoas.
A ASAE, na sua sanha fiscalizadora, decidiu encerrar um dos espaços mais emblemáticos da cidade de Lisboa. Tinha a ver com tradição, com uma cultura centenária por onde passaram grandes nomes da nossa literatura e das nossas artes.

A ginginha do Rossio foi encerrada e com ela morre uma grande parte do nosso país.

As razões do encerramento têm a ver com a conversa do costume: a falta de condições higieno-sanitárias e técnico-funcionais. Para a Autoridade Sanitária o espaço tem que ser transformado num templo de alumínio perfeitamente descaracterizado.

A ASAE representa um certo tipo de mentalidade que grassa um pouco por todo o lado. Uma mentalidade que nos quer apresentar como um Portugal Novo esquecendo a tradição e descaracterizando-nos como povo.

No Portugal Novo só cabem as bananas grandes e sem manchas na casca que não têm sabor, as maçãs reinetas padronizadas que sabem a cortiça, as douradas de viveiro todas do mesmo tamanho e a saber a ração animal, os porcos que não sabem o que é comer bolota e restos de verdura, etc. Em suma neste Portugal qualquer dia nem cabem os portugueses de cepa substituidos por um cidadão formatado de acordo com as normas europeias.

Espero que o exemplo da ASAE não frutifique na Madeira porque senão vão-nos fechar as ponchas da Serra d'Água, matar o vinho seco e a espetada nos arraiais, as sandes de carne de vinho e alhos na noite do mercado, a aguardente com aniz, etc.

E esta Madeira não quero conhecer!

3 comentários:

MMV disse...

Fiz um curso de higiene e seguranca alimentar nas ferias... E pelo que se sabe a ASAE terá unidade na Madeira...

é possível manter as tradicoes com higiene e seguranca alimentar...

A Vilhena disse...

Ainda se lembram de quando, muito preocupada com o nosso bem estar e a nossa boa forma física, a Dinamarca propôs a pasteurização das massas queijeiras?
Santa ingenuidade...até faz mal!!!

Lídia disse...

De certo modo, foi também assim, que na nossa Região desapareceram muitas mercearias tradicionais, com os seus produtos específicos, clientes fiéis, um atendimento personalizado e um convívio salutar no bar (tasca) que compunha o cenário deste tipo de estabelecimentos...felizmente ainda persistem, de forma teimosa, ou melhor, orgulhosa, alguns destes testemunhos. É o caso da bonita "Mercadora" junto ao Mercado dos Lavradores, um marco na nossa cidade...