segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Pistas Para Uma Nova Cultura (II)

Embora defenda com unhas e dentes um maior envolvimento da iniciativa privada nos assuntos culturais, nem que seja por via da responsabilidade social das empresas, de um modo geral considero que a cultura é demasiado importante para que fique ao sabor das marés das regras de mercado.

Acredito que música, livros, peças de teatro, filmes, quadros, etc., são factores de enriquecimento do ser humano e, sem eles, deparamo-nos com um mundo espiritualmente pobre e monocromático. Assim a intervenção governamental tem de ser real e minimamente reguladora para benefício de todos.

Assusta-me a cultura medida exclusivamente pelas regras do mercado. Quando isso acontecer passaremos a viver num mundo pimba onde populam os Toy’s e as Maya’s, porque será decerto isso que o mercado irá ditar pois serão as razões do dinheiro que irão imperar.

Mas, por outro lado, o mercado não deve assustar os criadores. Temos é que compreendê-lo e, com tempo e paciência, tentar mudar as suas tendências facilitistas ganhando novos públicos e vontades criadoras. E como primeiro passo devem os criadores, os fazedores de cultura, entender de uma vez por todas que o mais importante não é o esforço criativo mas sim o resultado final da criatividade. É isso que o público vê e sente decidindo se gosta ou não com base nas emoções sentidas.

A intervenção cultural começa por ser um acto individual, mas o seu culminar é um acto social e colectivo de irmandade entre criador e público. E quando maior for essa simbiose mais importante e intenso se torna o acto cultural.

A grande maioria dos agentes culturais tornam-se tal porque sentem que têm algo a dizer sobre o mundo que os rodeia. A tradição de desafiar a ordem estabelecida e as crenças mais “ortodoxas” é antiga e inerente ao acto cultural. Menosprezar a actividade cultural considerando-a menor é o que vemos constantemente acontecer por parte dos poderes instituídos. O medo do confronto e da renovação de mentalidades é real e inerente ao exercício do poder. Se as coisas como estão me servem, para quê mudá-las?

Mas a atitude subjacente aos grandes criadores é sempre de desafio e ao desafiar têm sido eles os responsáveis pelas mudanças e pela capacidade que o homem tem de revolucionar o modo de ver o mundo e de percepcionar a realidade.

E é por isso que a cultura é o acto humano mais revolucionário.

1 comentário:

MMV disse...

Porque é que o filme Memórias da minha vida não tem apoios para acabar o filme? Existe tantos subsidios!