terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Musicando - O Novo U2

Lê-se no Ípsilon:

Eclético, correndo alguns riscos mas de impacto certeiro, com cada canção a funcionar como síntese de três décadas de carreira. É assim "No Line On The Horizon", o novo álbum do grupo rock mais conhecido do momento, os U2, com data de edição europeia para 2 de Março.

Aparentemente, nada de novo. Ouvimos cada uma das canções e reconhecemos todos os elementos que as constituem. Mas existe algo de novo: precisamente o facto desses elementos serem combinados no espaço de uma só canção.

A fogosidade dos primeiros anos - "Boy" (1980) e "October" (1981) - foi recuperada quando o grupo voltou aos fundamentos básicos do rock nos dois últimos álbuns - "All That You Can't Leave Behind" (2000) e "How To Dismantle an Atomic Bomb" (2004).

Agora canalizam essa energia e precisão para temas mais abstractos, recuperando o rock panorâmico de "Unforgettable fire (1984) e "The Joshua Tree" (1987) e o risco sónico de "Achtung Baby" (1991) ou "Pop" (1997).

O novo disco é a ambiciosa síntese de tudo isso, combinando o gosto pela definição ambiental do produtor Brian Eno, a electricidade da guitarra de The Edge e a densidade da organização sonora rítmica, com Adam Clayton no baixo e Larry Mullen na bateria.

Outra novidade é o facto de, por vezes, Bono prescindir de letras na primeira pessoa, adoptando personagens ficcionais, como um corresponde de guerra em "Cedars of lebanon."

O álbum começou a ser preparado a seguir ao término da digressão "Vertigo" em Setembro de 2006. Seguiram-se sessões em Fez, Marrocos, no Verão de 2007, e períodos de estúdio em Dublin, Nova Iorque e Londres, com o quarteto a fazer-se acompanhar pelos produtores Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite.

O álbum faixa-a-faixa

1. "No line on the horizon"

Canção característica dos U2, de sentido épico, em crescendo, com modelações, guitarras ora tranquilas, ora estridentes, com Bono a cantar "i know a girl who's like the sea / I watch her changing everyday for me / Oh yeah." Inicialmente tinha um tratamento muito ambiental, por via da produção de Brian Eno, mas no final ficou uma canção rock abrasiva.

2 . "Magnificent"

Um dos temas que promete adesão imediata. "Only love can reset your mind" canta Bono, por entre ambientes que remetem para os U2 do álbum "Unforgettable Fire", em combinação com a via rock mais directa dos últimos álbuns. Há efeitos electrónicos, arranjos orquestrais que evocam o período "The Joshua Tree" e um balanço característico de canção de amor - "I was born to sing for you / I didn't have a choice but to lift you up / And sing whatever song you wanted me to / I give you back my voice."

3 . "Moment of surrender"

Promete ser um clássico em muitos concertos na linha do que acontece com baladas como "One". Canção melódica de sete minutos, começa lenta, lânguida, com letra sobre "estrelas sombrias" e a voz um pouco rouca de Bono evocando crises existenciais - "I tied myself with wire / To let the horses free / Playing with the fire until the fire played with me." O ritmo é sincopado, a guitarra blues de The Edge delicada e a linha de baixo envolvente, criando um efeito geral hipnótico.

4. "Unknown caller"

É um dos temas onde Bono assume um papel ficcional, alguém num estado alterado que se confronta com um telefone que fala. Em termos sonoros podia pertencer a "All That You Can't leave Behind", ritmo a meio tempo, insinuante, com órgão luminoso e The Edge a deixar a sua marca num intrincado solo de guitarra.

5. "I'll go crazy if i don't go crazy tonight"

Como o título indicia, é um dos temas mais diurnos, festivos e marcadamente pop, na linha de clássicos como "Beautiful day", com alguns ecos, reverberações,  refrão eficaz (I'll go crazy if i don't go crazy tonight"), guitarras soltas e o falsete de Bono a proclamar "every generation gets a chance to change the world."

6. "Get on your boots"

É o single de avanço, o tema mais virulento de todo o disco e um dos mais poderosos e rápidos de sempre do quarteto, misto de guitarras estridentes rock & roll, elementos sintéticos e um Bono que grita: "Get on your boots / Sexy boots / You don't know how beautiful you are."

7. "Stand up comedy"

Outra das mais roqueiras, barulhentas e poderosas. Bono puxa pela voz, mas é a guitarra que domina.  O facto de The Edge ter participado num documentário ao lado de Jimmy Page (Led Zeppelin) parece ter deixado marcas, de tal forma a sua guitarra evoca os Zeppelin de outros tempos. Ao título inicial - "Stand up", alusão ao movimento humanista The Stand Up And Take Action Against Poverty - foi adicionado "comedy" e ouvindo a letra percebe-se porquê, naquele que parece ser um momento de auto-ironia de Bono: "On a voyage of discovery stand up to rock stars, Napolean is in high heels / Josephine, be careful of small men with big ideas."

8. "Fez - Being born"

Da experiência africana - gravaram em Fez, Marrocos - fica este tema, um dos melhores e mais aventureiros. "Six o' clock on the autoroute / Burning rubber, burning chrome / Boy of Cadiz and ferry home / Atlantic sea cut glass / African Sun at last" lança Bono, por entre uma arquitectura sonora compacta. É talvez a que melhor resume o álbum, combinando o  espírito rock directo dos últimos tempos e a costela aventureira dos anos 90.

9. "White as snow"

Balada acústica atmosférica, sobre um soldado perdido na neve do Afeganistão. "Where i came from there were no hills at all / The land was flat, the highway straight and wider / My brother and i would drive for hours" evoca Bono, viagem pela mente de um soldado perdido nas suas recordações, numa faixa épica.

10. "Breathe"

Início lento com alusões orientais ao nível dos arranjos, mas depois existe um crescendo contínuo de intensidade, naquela que é a canção preferida do produtor Brian Eno. É reveladora de um disco mais trabalhado e complexo - cada canção integra diversas dinâmicas - que os seus dois antecessores, de digestão mais imediata.

11. "Cedars of lebanon"

Bono veste o papel de correspondente de guerra numa evocação atmosférica não muito distante de canções como "With or without you". O tom de voz é confessional, os versos finais reflexivos: "choose your enemies carefully 'cos they will define you / Make them interesting 'cos in some ways they will mind you / They're not there in the beginning but when your story ends / Gonna last with you longer than your friend."

Vítor Belanciano

2 comentários:

Giovanni Giorgetti disse...

tens aqui um excelente blog;)
com muita informação porreira.

Parabéns

Nuno Morna disse...

Acabo de passar pelo teu e também gostei bastante!
Força

Nuno