quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Opinando - Zink, Cardoso e Serrão

Não é que goste particularmente destas três personagens, mas a entrevista que deram à Única, revista do semanário Expresso, coloca o dedo na ferida do estado a que chegámos como país, como nação. Concordo plenamente com muito do que aqui se diz!

Cáustico como sempre, o "sexo fraco" da "Noite da Má Língua" reuniu-se à mesa numa conversa divertida sobre Portugal, que comparam a um talho, onde tudo está pendurado. A actualidade foi passada a pente fino, de José Sócrates a Manuela Ferreira Leite, de Vítor Constâncio ao BPN, da educação à comunicação social. O pretexto foi o seu novo livro "Os Senhores da Má Língua", que transcreve uma conversa de três dias em Setembro, no Algarve.
Como surgiu a ideia de escrever este livro, 13 anos depois do fim do programa?
Miguel Esteves Cardoso: Foi a Bertrand que veio ter connosco. Temos feito sessões de má-língua informais, porque ficámos muito amigos, mas fazíamo-lo por graça e de graça. Assim, foi uma maneira de falar uns com os outros, o que, ao princípio, parecia agradável e depois revelou-se um inferno...
Hoje, era possível haver uma "Noite da Má Língua"?
Rui Zink: Não. Isso implicaria uma televisão que estivesse disposta a correr riscos. E agora parece que não dá.
Como assim?
M.E.C.: Quando o Balsemão fundou o "Expresso", foi uma revolução total nos "media". Na altura, era estonteante a liberdade que se tinha para dizer tudo. Depois, com a SIC aconteceu a mesma coisa, a liberdade permitida era uma loucura. Quando o Rangel veio ter connosco, disse-nos que podíamos falar de tudo, inclusive do próprio Balsemão. Tínhamos liberdade absoluta, o que vai muito além da simples liberdade de imprensa. Foi fantástico. Mas isso hoje não é possível. Hoje há os blogues, mudou tudo muito...
Manuel Serrão: Mais grave do que isso. Há uma ligação enorme entre o poder económico e o poder político, que não existia naquele tempo. Não há lugar para crítica aberta. A teia de interesses é muito poderosa. E não se pode fazer um programa destes com uma cartilha a dizer: não se pode dizer mal da empresa x ou do político y...
R.Z.: Há 14 anos encontrei no metro um homem que me reconheceu da televisão e disse: "Eu sou angolano, no meu país havia uns rapazes que faziam na rádio o mesmo que vocês - foram todos mortos! Quando vejo que na semana seguinte vocês não foram presos, fico mesmo encantado, porque de facto isto é um país livre..."
Como vêem o ambiente político hoje?
M.E.C.: As pessoas têm medo de perder o emprego. Têm medo de falar e ser castigados por isso. Quem trabalha nas empresas tem medo, os jornalistas têm medo, há um ambiente como se fosse censura, sem haver censura. Até os blogues já começam a ser perseguidos...
R.Z.: A boa ditadura é aquela que consegue pôr um polícia dentro da cabeça de todos. E, na cabeça dos portugueses já havia um pide, que só foi expulso no princípio dos anos 90 - esse período foi mesmo um oásis. Houve ali um momento de euforia em que os portugueses começaram a sentir a cabeça mais leve...
...E agora o PIDE voltou?
M.S.: Sim. E, antigamente, as prepotências vinham só do governo. Agora vêm da oposição, o que é uma coisa fantástica! Agora é a própria oposição que quer suspender o governo durante seis meses, e ser mais autoritária que o próprio governo.
No livro defendiam que uma das características de Portugal é não conseguir mudar. Mas afinal agora dizem que mudou, e para pior...
R.Z.: O pide sentiu saudades.
M.E.C.: E nós devíamos era ter formado um banco e não ter feito um programa...
R.Z.: Um banco da má-língua seria uma coisa maravilhosa. Agradava à direita porque era um banco e agradava à esquerda porque era ML.
M.S.: Fiquei muito triste porque, quando começámos a Má Língua, podia gozar com a esquerda. Mas ela desapareceu nos anos 80. Agora, que voltou a haver nacionalizações, e despedimentos, e manifestações na rua, e militares a dizer que vão fazer um movimento, infelizmente não há Má Língua...
R.Z.: Como temos o pio cortado, decidimos pôr tudo em papel. Ainda me lembro de pôr a mão no ombro do Francisco Louçã e dizer: "Ó rapaz, não cries essa coisa do Bloco de Esquerda, não vás para deputado, vais aburguesar-te." Mas ele não me deu ouvidos...
O BE foi uma desilusão para si?
R.Z.: Não, foi uma desilusão para o Miguel Portas, para o Louçã...
M.E.C.: Foi uma desilusão para o próprio Bloco de Esquerda!
"We cannot change" - é um 'slogan' melhor para um partido de direita, como diziam, ou para uma campanha de turismo de Portugal?
R.Z.: Era uma campanha muito melhor do que encher Portugal de cartazes com o Cristiano Ronaldo e o Mourinho... Era muito melhor meter na "Time": "Portugal: We cannot Change".
M.E.C.: Ou então, em bom português, "Portugal: é sempre a mesma merda..." E depois, mostrávamos fotos do Iraque - e dizíamos: "Mas podia ser uma merda pior..."
R.Z.: Mostrávamos fotos do Iraque antes, com a estátua do Saddam, e depois, destruído. E depois Portugal. 1452. Tudo igual. "Sempre a mesma merda..." E um grande prato de bacalhau.
M.S.: Isto tudo para promover os seis meses sem democracia...
M.E.C.: Imagina, a avalanche de turismo de gajos de direita, de "skinheads"... Olha, o Rui chegou recentemente da Venezuela...
Tem lá amigos?
R.Z.: Fui lá vender Magalhães... E o Manel, voltou há uns dias da China, onde foi comprar Magalhães...
No livro, chegam à conclusão que em Portugal está tudo pendurado. "Isto não parece um país, parece um talho!", lê-se. Esta ideia foi, aliás, aproveitada para a capa, onde aparece um bife com a forma do país. Quais são os dossiês pendurados e quem são os maiores talhantes?
M.S.: São tantos! A Casa Pia, a educação, a Operação Furacão, a reforma da saúde, da justiça... Nunca se leva nada até ao fim.
M.E.C.: Há permanentes manobras de diversão e despiste da Justiça com conluio político. Dizem: "Agora vamos apanhar os gajos do futebol - são todos uns vendidos! Agora vamos aos pedófilos - são todos pedófilos! Agora vamos aos bancos - são todos uns ladrões!" Isto nunca vai dar em nada, arrastam-se os processos durante anos, perseguem as pessoas e desfazem-lhes as vidas... O Oliveira e Costa pode estar inocentíssimo, mas já ninguém acredita.
M.S.: As pessoas, mesmo quando são absolvidas, já foram condenadas na praça pública...
R.Z.: O pior é que a comunicação social passou do quarto poder, para o quarto do poder. Agora dormimos todos com o primeiro-ministro.
M.S.: Fala por ti...
Fale por si...
M.E.C.: E depois há uma coisa pior que contribui para a falta de crítica. É que este governo, ainda por cima, é um bom governo... Até nem é mau, de facto! É uma coisa muito estranha de engolir.
É uma terrível ironia... consegue nalguns aspectos ser mais liberal que a própria direita.
M.S.: O governo de um partido supostamente de esquerda consegue ser melhor a ser de direita do que uma opção supostamente de direita que faz oposição de esquerda - estilo marxista-leninista, que até diz: "Vamos lá instalar a ditadura durante seis meses." A Manuela Ferreira Leite parece-me o Lenine de saias.
R.Z.: Pior. A Manuela Ferreira Leite parece uma Zita Seabra de direita.
M.E.C.: É terrível. É que ainda por cima não há vontade nenhuma de substituir o governo...
Quando escreveram o livro, Manuela Ferreira Leite estava em silêncio. Entretanto, falou.
M.E.C.: Nós tínhamos razão. Quando ela falasse é que ia ser... foi o que se viu. Ela devia ter continuado calada...
R.Z.: Pensávamos que tínhamos uma Margaret Thatcher de direita e afinal sai uma Sarah Palin.
M.E.C.: Toda a gente concorda que aquela ideia de suspender a democracia por seis meses até não é má ideia... Não é ironia, até não era uma má ideia... Se não fosse uma boa ideia, não havia aquela reacção tão veemente!
M.S.: O problema é que podia não chegar...
R.Z.: O Pedro Santana Lopes pode ficar mais 50 anos sem saber se ela votou PSD ou não, mas já sabemos em quem é que ela votou para os Grandes Portugueses no ano passado...
Foi uma ironia... No entanto, mesmo quando fala em matéria económica, que domina, parece que não quer ganhar votos.
M.E.C.: Ela tem é um sentido de humor muito apurado, britânico, toda a gente sabe isso. E aquelas palestras no Clube Americano são um inferno, para acordar aquela gente é preciso dizer alguma coisa, tipo "matei a minha mãe!". E ela está-se totalmente nas tintas para a imagem, o que contrasta com uma preocupação e sensibilidade exacerbada deste governo.
R.Z.: Ela foi vítima de a frase ter sido descontextualizada, como é evidente. Ponham um português a dizer uma piada e dá naquilo...
Mas acreditam que vamos ter um "take 2" do "Nem que o Cristo desça à terra" com uma candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à liderança do PSD?
M.E.C.: Os "timings" estão todos a encurtar. O tempo de pedir perdão está a encurtar, o tempo de estado de graça está a encurtar. Se agora o Marcelo for para líder do PSD, temos de ficar acordados para apanhar o seu estado de graça. Se adormecermos ou isso, pode passar e não damos por isso...
R.Z.: Não sei. Eu acho que o Pedro Passos Coelho pode ser o Obama do PSD. Só temos uma palavra para ele: solário! Antigamente um político precisava de ser branqueado, agora precisa de ser queimado. Uma empresa de solários que preste os seus serviços aos políticos ganha dinheiro com fartura. Nós por acaso temos uma empresa que acabámos de abrir e procuramos investidores...
E que vos parece Santana Lopes como candidato à Câmara de Lisboa?
R.Z.: É óptimo! O Manuel parece-lhe muito bem porque não gosta de Lisboa, o Miguel é de Cascais e eu sou masoquista...
M.S.: Eu digo o mesmo que disse no livro: que ele é o único que aceita perder várias vezes e vai sempre à luta.
R.Z.: Repara, o Santana Lopes tem de ir à luta porque não tem emprego mesmo em mais lado nenhum. Os outros, toda a gente aceita. Até o Jorge Coelho arranjou emprego.
E no braço de ferro entre professores e a ministra da Educação, quem tem razão?
M.S.: A ministra.
R.Z.: Os professores. É muito simples: Ou se demite a ministra, ou se demitem todos os professores. É uma questão de divórcio. É mentira que os professores não fossem avaliados, os meus pais penaram durante anos a saltitar pelo país sem terem vínculo de efectivos. E os professores têm de ser avaliados por profissionais da mesma área: um professor de ginástica não pode estar a avaliar um professor de matemática. Isto faz parte da burocracia do nosso governo...
M.E.C.: Tocaram no nervo! Esqueci-me de telefonar a avisar que este assunto era proibido...
M.S.: Há aqui uma questão política importante. Pegando numa profissão que nos diz mais agora: imaginem que os talhantes todos de Portugal se reuniam e diziam: "Vamos passar a vender carne podre - porque gostamos". "Não, mas é proibido". "Não, mas se todos querem vender carne podre, temos de aceitar". Isto é a mesma coisa. O governo não pode ceder. Porque senão, voltámos ao corporativismo. "Seis meses sem democracia", o MFA não sei quê... Estamos outra vez nos anos 70... Os professores com a mania que são vanguardistas, estão a fazer o papel de putos dos anos 70. Isto é o Maio de 68 para os professores. E o Sócrates, que é um gajo moderno, tem reagido bem a isto. Gosto dele, ele havia de ser de direita...
R.Z.: O Sócrates nunca deu aulas, ele nem sequer teve aulas, portanto não tem autoridade para falar.
M.E.C.: Eu acho que é mais uma cortina de fumo... O que é que nos interessa se os professores são avaliados? É uma questão de cacaracá, completamente "boring", não tem qualquer impacto na nossa vida... A julgar pelos miúdos que saem das escolas, são muito bem comportados, são limpinhos - comparando com os ingleses ou franceses... Escrevem mais, lêem mais, têm mais jeito para línguas... Portanto, os professores estão a fazer um bom trabalho. Porque é que nos havemos de preocupar como uma questão interna de uma profissão?
M.S.: Concordo, os jovens estão muito mais educados. Na altura da Geração Rasca, o que é que eles faziam? Mostravam o rabo. Agora, atiram ovos. É muito mais decente.
R.Z.: Eu lembro-me que, quando ia à escola, tínhamos aulas metade do dia e depois íamos à nossa vida. Hoje, a escola transformou-se numa espécie de galinheiro. Os alunos estão ali como pintos num galinheiro de má qualidade, que têm que estar nas salas de aula.
M.S.: Mas tu tens de te calar neste assunto, que és parte interessada. Eu não sou professor, só tenho aulas de golfe, e o meu professor de golfe não está nada de acordo com os professores...
Mas Sócrates pode ter perdido a maioria absoluta por causa deste episódio?
M.S.: Não. Depende de quando for a história dos seis meses sem democracia, porque acho que ele vai aproveitar para prolongar esta maioria absoluta... E depois quando se for a ver... Ah, as eleições são daqui a seis meses...
R.Z.: O Sócrates podia ter um golpe de génio e criar um bloco central com a Manela e suspender a democracia não durante seis meses, mas durante sete anos... Aliás, eles foram feitos um para o outro...
M.S.: Desde que haja um bloco, estás satisfeito...
Se Portugal é um talho, como dizem no livro, a que corresponde o "filet-mignon"? A vazia? Os pezinhos de coentrada? Ou os miúdos?
R.Z.: Os miúdos é o mais fácil, é a Casa Pia. Ou a Madeira. O "filet-mignon" seria o BCP, o BPN... O coração, que está a falhar, é a selecção nacional. A fraldinha seria o Santana Lopes. Os rins, que filtram, e são importantes para o corpo, e são dois - poderia ser o Marcelo. O Marcelo é o segundo rim, apoiou a Manela e agora está disposto a substitui-la, no caso dela falhar.
M.E.C.: E o nispo [parte da vitela entre a pá e o antebraço] - que pouca gente sabe o que é e nós não vamos dizer, porque tem de haver um mínimo de pesquisa da vossa parte -, é o Rui Rio.
Se a Má Língua existisse hoje, José Sócrates seria poupado ou trucidado?
M.S.: Eu acho que seria obrigatório que ele fosse trucidado.
R.Z.: Calma aí, que isto está a ser gravado... Seria poupado.
M.E.C.: O Sócrates tem uma coisa boa, que é ser muito sensível à crítica. É irascível. Isso é muito bom, porque qualquer coisa que se diga, ele amua... Portanto, seria uma óptima vítima.
Rui, como é que um homem de esquerda vê estas nacionalizações na banca?
R.Z.: Responde tu, Manel... (Risos). Eu via melhor se tivesse comprado acções suficientes nos bancos nacionalizados... O que tenho pena é de não ter tido visão para isso. Senão, não tinha que estar aqui a participar com estes dois palhaços... Esta coisa de ser de esquerda... A única pessoa em Portugal que era de esquerda era o Álvaro Cunhal, que tinha uma visão, um programa. Fora isso, andamos, bem à portuguesa, a apanhar um bocadinho daqui e dali.
Ainda há pouco tempo a ex-deputada Odete Santos disse, a propósito das nacionalizações, que afinal quem tinha razão era a esquerda...
R.Z.: Eu sou de esquerda e nunca achei que isso tivesse alguma coisa que ver com nacionalizações, mas sim com regras mínimas de distribuição de um certo bem-estar. Aliás, ando a tentar fundar um partido com o Manuel Monteiro...
M.S.: Essa declaração da Odete Santos, que é uma senhora encantadora, mostra como a esquerda parou no tempo. E como se move por dogmas. Para a esquerda, a nacionalização é sempre boa. Na altura do 25 de Abril, nacionalizar bancos cheios de dinheiro fazia sentido, mas nacionalizar bancos falidos? Mas isso é bom para quem? Para os capitalistas, não para o povo!
R.Z.: As nacionalizações agora são para proteger os investimentos dos ricos...
E que nota dão a Vítor Constâncio, que devia supervisionar a banca?
R.Z.: Ele já tem tantas, por que é que eu lhe hei-de dar mais notas?
M.E.C.: O Constâncio é aquele tipo banana, de quem toda a gente gosta. É como uma peça de artesanato velha portuguesa. Representa um certo tempo. Coitado, ele não está à espera que os bancos vigarizem...
R.Z.: O Constâncio é uma relíquia do tempo do machismo. Representa a ideia que um homem, desde que seja feio, mirrado e tenha óculos grossos, é inteligente... Ele é a prova disso. O tipo tem óculos, tem uma testa grande, tem um ar sisudo e zangado, parece o Woody Allen português, está calado... logo, deve ser extremamente inteligente.
M.S.: O Constâncio é uma antiguidade. Parece aquela cómoda que herdámos dos avós, e que está ali arrumada a um canto. Arranja-se sempre qualquer sítio para pôr...
M.E.C.: Ou um naperon...
Mudando para assuntos mais triviais. No livro falam bastante do silicone, como prova máxima da independência das mulheres. Eles não acham graça nenhuma mas elas põem na mesma...
M.E.C.: Daqui a 30 anos, quando se olhar para a nossa época, o silicone vai ser como os bigodes nos filmes dos anos 70. E o Botox.. Vai ser só rir...
R.Z.: Já há empresas automóveis que fazem preços mais baratos consoante os sexos, porque se for mulher, não é preciso "airbag"...
M.E.C.: Mas as mulheres enganam-se, porque já há muita geração nova que não olha para as mamas...
M.S.: Agora são as orelhas, aquela parte atrás dos joelhos, o mindinho...
M.E.C.: O nispo!
Mas se as mulheres estão cada vez mais entre elas, como é que Portugal vai resolver o problema da falta de natalidade?
M.S.: Eu não tinha pensado nisso, mas talvez a adopção possa ser uma hipótese. Podemos fazer como com o resto: os têxteis - fazíamos cá, passámos a fazer na China. Os sapatos - fazíamos cá, passámos a fazer na Rússia. As couves - fazíamos cá, passámos a fazer em Bruxelas. Porque não os meninos - fazíamos cá, e agora passávamos a fazer na China ou na Índia?
M.E.C.: Correndo o risco de parecer tosco: a baixa natalidade portuguesa não tem a ver com a fraca produção de espermatozóides. Tem a ver com o desperdício dos espermatozóides emitidos e a pouca receptividade que lhes dão. São aos biliões por freguesia desperdiçados, quando bastaria fazer uma recolha, que não dói nada, e fazer uma reserva de portugueses, que iam nascendo, lindos, quando as pessoas se arrependessem de não terem tido filhos, aos 60.
Mas os grandes bastiões dos homens estão a cair. Que papel é que vos resta?
M.E.C.: O problema é as mulheres gostarem tanto de nós... As mulheres adoram homens, esse é o grande segredo. Têm pena, acham graça... Não vão prescindir de nós nunca...
Além de facilitar o divórcio, sugerem também que se dificulte o casamento. Mas assim é menos um papel para o homem, ou não?
M.S.: Nós defendemos que se deve dificultar sobretudo o primeiro casamento... O casamento por amor, o casamento imediato...
R.Z.: Casar por amor é a coisa mais estúpida que há.
Diz um homem casado...
R.Z.: Por isso, sei do que falo. Tomar uma decisão muito séria por meras razões afectivas é a coisa mais estúpida que há. Um casamento é como criar uma empresa. Tem de ser feito racionalmente. Não pode ser por razões de afecto... Eu não tenho que gostar dela...! Agora, o amor... O amor é uma coisa que uma pessoa faz numa sexta-feira à noite...
Queríamos desafiar-vos para umas previsões para 2009... Começamos por uma pergunta fácil. Quem vai ganhar as legislativas?
M.E.C.: Mas a sério ou a brincar...? A sério? O PS. Com maioria. Há um Bloco de Esquerda submerso, e quem está a fazer a hélice andar, muito depressa, é a Manuela Ferreira Leite. Na parte de cima do submarino está o PS e o Sócrates, às cavalitas, e por baixo está o PSD, a fazer "terratatá, terratatá"... E o Santana Lopes está na casa das máquinas...
R.Z.: O Zé Sá Fernandes vai sair do Bloco de Esquerda, portanto isso já dificulta bastante as coisas.
Ferreira Leite vai cansar-se de tanto falar?
M.S.: Acho que lhe vão tirar a tosse rapidamente.
José Sócrates irá passar férias à Venezuela?
R.Z.: Ele já lá passa... Agora, para variar, é capaz de escolher a Birmânia...
M.S.: Eu acho que o Chávez, ao contrário do que parece, não gosta que lhe ponham creme nas costas...
Qual será a próxima proibição da ASAE?
R.Z.: Vai proibir-se a ela própria... E para compensar o desastre da Casa Pia, vai proibir que se comam miúdos...
Sabemos que têm outros interesses - o Rui pela literatura, o Miguel pela gastronomia, o Manuel pela moda -, e queríamos que recomendassem a algumas figuras públicas livros para ler e pratos para degustar. Começamos por Cavaco Silva. Um livro?
R.Z.: "Dinossauro Excelentíssimo" (Cardoso Pires)
E um prato?
M.S.: Bolo-rei mal passado...
M.E.C.: Ou um prato de lentilhas.
E para José Sócrates?
R.Z.: "A Viagem do Elefante" (José Saramago)
M.E.C.: Uma tigela de sonhos. Com calda.
Para Manuela Ferreira Leite?
R.Z.: Qualquer livro dos Cinco, ou dos Sete. Não, "O Capitão Promessa". Não, "O Arquipélago da Insónia" (António Lobo Antunes).
M.E.C.: Língua estufada.
Belmiro de Azevedo?
R.Z.: Um livro de auto-ajuda, tipo "Quem Mexeu no Meu Queijo"... Ou "A Cartilha", do João de Deus.
M.S.: Túbaros à transmontana.
M.E.C.: Não, jardineira. (Isto é para chatear as pessoas que lêem, não é? 'Jardineira, por que é que escolheram jardineira...?')
Um prato e um livro para a Carla Bruni?
M.E.C.: Uma empada de pastilhas Valda, para aprender a cantar...
R.Z.: Solteiros Elegíveis 2009.
Obama?
M.E.C.: Sei lá, um bacalhau com couves - algo que transmita amor...
R.Z.: Eu voto em bacalhau espiritual.
M.E.C.: O Obama é tão bom que está a pensar contratar a Mónica Lewinsky. Ela é a única daquela Administração que ainda não foi contratada. É só Clintonianos... É estranho, ganhar à Clinton e depois ir buscar os adversários. É tipo União Nacional...
Para a Nereida, ex-namorada de Cristiano Ronaldo, uma personagem recorrente no vosso livro?
R.Z.: "A Sombra do Vento que Passa"
M.E.C.: Dobrada à portuguesa.
E, afinal, a má-língua é um direito ou um dever?
M.E.C.: A má-língua é uma coisa que todos os portugueses fazem. É parte da nossa natureza. É um direito natural.
M.S.: Para quem quiser, é um direito. Para quem puder, é um dever. Mas nem toda a gente pode...

Texto publicado na edição do Expresso de 7 de Dezembro de 2008
Entrevista de Katya Delimbeuf e Mafalda Anjos, fotografia de Ana Baião

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