terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cinema - Remakes 2009-2010

Escreve Joana Amaral Cardoso no Ípsilon do Público:

Hollywood prepara uma série de "remakes", de filmes de culto, de filmes esquecíveis, de filmes recentes. 2009 e 2010 vão ser assim.
Numa altura em que há pelo menos um par de "remakes" em cartaz - "Mulheres" e "O Dia em Que a Terra Parou", este último já com 153. 332 espectadores em Portugal e 120 milhões de euros em todo o mundo -, os próximos tempos já cheiram a títulos requentados.
Em 2009 e 2010 devem entrar em produção ou estrear-se mais de duas dezenas de reinterpretações de filmes mais ou menos clássicos, mais ou menos bem sucedidos, mais ou menos de culto. Eis uns quantos: "Porky's". "Robocop". "Fame". "Pesadelo em Elm Street". "Os Goonies". "Os Pássaros". "Footloose". "Sexta-Feira 13". "39 Degraus". "Conan, o Bárbaro". "Em Busca da Esmeralda Perdida". "Hellraiser". "Poltergeist".
Hollywood tem a tendência de baralhar e voltar a dar e em tempos em que a principal receita de sucesso são os filmes sazonais (as comédias no-brainer de Verão e os filmes de Natal), a animação ou os "blockbusters" com base em adaptações de banda-desenhada, já só faltava uma vaga de "remakes".
Da comédia sexual "Porky's" ao conto de Daphne du Maurier que originou um dos mais icónicos filmes de Hitchcock, a indústria americana quer voltar a ver, talvez com um novo olhar, velhos filmes. O novo "Os Pássaros" devia estrear-se este ano, de acordo com o "Hollywood Reporter", mas entretanto já se fala em 2010 ou mesmo 2011 para o lançamento. Diz-se que será protagonizado por Naomi Watts e realizado por Martin Campbell ("Casino Royale", outro "remake") e tem como produtores Michael Bay, Andrew Form e Brad Fuller. Os últimos rumores dão conta da associação de George Clooney ao projecto.
Estão em preparação nos EUA produtos tão díspares como um novo "Corvo", com Stephen Norrington ("Blade", "Liga dos Cavalheiros Extraordinários") a tratar do argumento e da realização da história que matou Brandon Lee e que foi realizada por Alex Proyas, ou como uma reinvenção de "Eles Vivem!", pela Universal, e que terá John Carpenter... como produtor executivo.
Entre negociações para adquirir os direitos ou fases de pré-produção, há vários títulos que já estão muito adiantados, como é o caso de "Sexta-Feira 13", realizado por Marcus Nispel, cujo "trailer" já está "online". Outro título, como "Poltergeist", está entregue à MGM e a ser escrito por Stiles White e Juliet Snowden ("Boogeyman"). Quanto a "Em Busca da Esmeralda Perdida", a Twentieth Century Fox está a desenvolver a nova versão e já tem o argumentista Daniel McDermott ("Eagle Eye") a bordo, apesar de ainda não haver realizador nem elenco para tomar o lugar de Kathleen Turner e Michael Douglas. Wesley Strick vai escrever "Pesadelo em Elm Street" e Wes Anderson ("Rushmore", "Os Tenenbaums") está a rever "10 Dias Para Encontrar um Melhor Amigo", de Patrice Leconte (2006) para fazer um "My Best Friend". Martin Scorsese, por seu turno, vai sentar-se na cadeira de produtor para revisitar "High and Low" (1963), de Akira Kurosawa, e Darren Aronofsky ("Pi") vai realizar o "Robocop" do século XXI. Ah, e Robert Rodriguez já convidou Rose McGowan para o "remake" de "Red Sonja", originalmente protagonizado pelos pneumáticos Arnold Schwarzenegger e Brigitte Nielsen, e que vai ser realizado por Douglas Aarniokoski.
E como não há cinema sem rumores (o que seria do site Ain't It Cool News sem eles), fala-se ainda de que Steven Spielberg e Will Smith estão em conversações muito prévias para o "remake" de "Velho Amigo", de Chan Wook-Park. Também Russel Brand, o comediante britânico que entrou em "Um Belo Par de...Patins" e apresentou os MTV Awards deste ano, lançou uma declaração de intenções: está a trabalhar num "remake" de "Arthur, O Alegre Conquistador" (1981), o veículo americano do actor britânico Dudley Moore.
Outra notícia, desta feita confirmada, é que o "franchise" "Halloween", revisto por Rob Zombie, vai ter uma espécie de sequela do "remake", uma re-sequela, com "H2" e com o mesmo músico tornado realizador ao leme.
Nos últimos anos não têm faltado "remakes". De "Massacre no Texas" ao "Psico" de Gus van Sant, passando por um "Solaris" com George Clooney ou por "Você Tem uma Mensagem", a (re)visão na era da Internet do filme de 1940 de Ernst Lubitsch "Shop Around the Corner", alguns foram mais bem sucedidos do que outros em prestar tributo ou mesmo apagar as imagens dos seus originais. Alejandro Amenábar fez "Abre os Olhos" e depois veio "Vanilla Sky" para apagar o primeiro (e melhor) filme da memória dos espectadores mundiais mais distraídos.
Há vários factores que levam os estúdios a embarcar numa vaga de "remakes". Os pequenos grandes filmes "indie" estão em minoria, os estúdios independentes e o filão de Sundance já não é tão profícuo quanto era, pelo que é preciso criar uma segunda linha, nem "blockbuster", nem filme de prestígio, para alimentar o mercado.
É de facto mais rápido aprovar o refazer de um filme já conhecido, porque a ideia geral do produto já foi "testada". E, em alguns casos, os direitos sobre alguns dos títulos podem ser acessíveis. Noutros, há quem tente mesmo fazer-nos esquecer que existe um original - seria difícil com "Psico", mas o caso "Abre os Olhos"/"Vanilla Sky" mostra o que pode acontecer no sentido contrário.
Thomas Leitch, em "A Retórica do Remake", citado pelo "El Pais", defende que há quatro grandes tipos de "remake" (conforme a distância entre o produto original e o "remake", o factor data e se há ou não intenção de fazer um tributo) e cinco grandes estilos de espectador de um "remake", que variam consoante terem ou não visto o original e terem ou não gostado dele.
Mas quem determina, em última análise, o que é o "remake" são os realizadores e produtores, que normalmente desenham nos jornais aquilo que querem que se pense sobre os seus "novos" filmes. "Uma revisitação, uma reinvenção do original", dizia Zack Snyder, realizador do suspenso "Watchmen" sobre a sua incursão pelo mundo dos "zombies" com "O Renascer dos Mortos" (remake do filme de George Romero); "Não é um ‘remake', é um gémeo esquizofrénico do original", argumentava Van Sant sobre "Psico".

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