terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Lendo – Fernando Pessoa

Os sobrinhos de Fernando Pessoa, Manuela Nogueira e Miguel Rosa, acusam de difamação os três investigadores que digitalizaram documentos do poeta ainda em seu poder, numa carta posta a circular pelos emails de amigos e conhecidos.
Na carta, a que a Lusa teve acesso, intitulada 'Esclarecimento sobre as calúnias à família de Fernando Pessoa' e assinada por ambos, classificam como «arrivistas» os investigadores Jerónimo Pizarro, Patrício Ferrari e Stephan Dix, a quem deram acesso aos papéis do poeta e que depois os acusaram de não ter revelado toda a documentação na sua posse.
Afirmando expor «factos que podem ser documentados», Manuela Nogueira e Miguel Rosa defendem que foi «a ânsia de notoriedade» destes investigadores que os fez «dar a jornalistas notícias constantes do que faziam e veicularem a ideia de que, afinal, a família do poeta sonegara bastante material no passado».
«Sem conhecimento dos dois contratos firmados entre a família, o Estado e a Câmara Municipal de Lisboa (CML), propalaram, com má-fé, uma história difamatória», sustentam.
E apresentam, em seguida, um resumo dos factos: «em finais de 1978, os herdeiros de Fernando Pessoa (...) venderam ao Estado o conteúdo da arca onde Fernando Pessoa deixara, em grandes envelopes, a obra que arrumara».
Nesse espólio se incluíam «os originais da obra de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos», vendidos ao Estado «por um preço exíguo (esses originais têm hoje um valor incalculável)» e depositados na Biblioteca Nacional.
«Do espólio saiu praticamente a totalidade da obra do poeta - alvo de traduções em 35 idiomas - e inúmeros trabalhos de estudiosos, tudo para benefício do público, de autores, editores e livreiros» , sublinham.
Por sua vez, a CML (à qual pertence a Casa Fernando Pessoa, CFP) comprou à família, em finais de 1988, «dois lotes de livros que o poeta deixara em duas estantes».
«No contrato, que a família conserva, diz: uma estante com 327 livros encadernados e outra com 777 livros. Não existe no contrato a palavra Biblioteca, nem qualquer referência a revistas», referem.
«A família vendeu o que foi objecto de um contrato e não tudo o que, na altura, a irmã do poeta (Henriqueta Madalena, mãe de Manuela Nogueira e Miguel Rosa) pudesse possuir relativo ao irmão», frisam, para se defender da acusação dos investigadores, a quem chamam «os abusadores da confiança da família», de terem conservado património que já não deviam possuir. Quanto à capa rasgada de um livro pertencente à CFP com palavras escritas pelo poeta, que acusaram a família de levar a leilão e que originou uma providência cautelar para impedir que o leilão se realizasse, Manuela Nogueira e Miguel Rosa afirmam que «teria bastado um contacto telefónico feito pela Câmara ou Directora da Casa Fernando Pessoa (a escritora Inês Pedrosa), que estava bem informada do assunto, para que a dita capa fosse imediatamente retirada».
«Quiseram fazer chicana, sabotar o leilão e colocar mal a família», declaram, argumentando que embora a providência cautelar não tivesse sido validada pelo tribunal e o leilão tenha continuado, «prejudicou fortemente a família e a leiloeira».
«O que provavelmente aconteceu, na altura da embalagem dos livros em casa da irmã do poeta, foi que, talvez por negligência ou ignorância, os embaladores deixassem a capa rasgada. A irmã do poeta, com o cuidado que sempre teve com o espólio, guardou essa peça meia destruída junto a outros documentos do irmão», explicam.
«Mais tarde - acrescentam - quando recebemos esse espólio residual, a 'capinha' foi a leilão sem podermos saber que pertencia a um livro vendido à Câmara há 20 anos!!! Assim, foi a família acusada de estar a vender documentos por uma segunda vez» .
No texto, os sobrinhos de Pessoa afirmam que «parece que a Câmara perdeu os contratos e actuou baseada apenas na informação veiculada pelos 'estudiosos' e confirmada pela directora da Casa Fernando Pessoa».
E terminam, dizendo, em maiúsculas, que «não se deve admitir o uso de calúnias por falta de informação».
Lusa

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