quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Obituário - John Updike

Morreu ontem aos 76 anos, vítima de cancro pulmonar, o escritor norte-americano John Updike, que os leitores conhecem sobretudo pelo livro que deu origem ao filme ‘As Bruxas de Eastwick’ e pela tetralogia ‘Rabbit’.
Distinguido com os mais importantes prémios literários dos EUA, incluindo dois Pulitzer, o American Book e ainda o Scott Fitzgerald, Updike cruzou com mestria um feroz sentido de humor com uma ainda mais feroz consciência da obscuridade da condição humana. São disso bom exemplo as novas versões que fez de romances históricos como ‘Tristão e Isolda’ (‘Brazil’, 1994) ou ‘Hamlet’ (‘Gertrudes e Cláudio’, 2000).
Updike é visto pelos críticos como um erudito genial.
Filho de um professor de Matemática e neto de um pastor presbiteriano, era ainda criança quando lhe foi diagnosticada psoríase, uma doença de pele. Muitos anos mais tarde, revelaria na autobiografia (‘Self-consciousness’, 1989) que a descoberta da escrita lhe serviu de catarse para sobreviver à doença e à segregação que lhe sobreveio.
Updike escreveu histórias curtas e longas, novelas, romances, ensaios, poemas, críticas, um pouco de tudo. Deixa obra feita em prosa e poesia e ainda aquela que era para si a receita de sucesso de qualquer bom livro: "Sexo, arte e religião".
Desde que começou a escrever, nos anos de 1950, publicou mais de 50 obras. Era um frequente candidato aos Pulitzer, que ganhou duas vezes, com Rabit Is Rich e Rabit at Rest. De outros dos galardões que venceu destaque-se dois National Book Awards.
O seu último livro dá-se pelo título de ‘As Viúvas de Eastwick’ (2008) e é a sequela do livro de 1984.
O escritor e crítico literário Pedro Mexia salientou em Updike, a sua «capacidade rara de discutir ideias a partir de livros». Segundo Mexia, o escritor norte-americano tinha uma «preparação forte (...) em teologia e filosofia que lhe permitia, a partir do contar histórias, uma reflexão sobre o mundo».
«Como crítico literário, Updike não se limitava a uma recensão de 4.000 caracteres e analisava um livro no conjunto de uma obra. Fazia pequenos ensaios sobre livros acabados de sair», assinalou.
Dizendo «conhecer melhor» a obra ensaística e de crítica literária de Updike do que a sua ficção, Mexia referiu ter gostado de ler o seu livro de contos A Escola de Música, pondo em realce o seu «estilo poético» e a capacidade de «explorar a vertente psicológica, designadamente nas relações conjugais».

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