sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Teatrando - TEF

Escreve Paula Henriques no DN/Madeira de hoje:

O Teatro Experimental do Funchal (TEF) está preparado para receber as más notícias. A companhia profissional de teatro, que vem sendo apoiada pelo Governo Regional através da Direcção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC), já estudou a lição e prepara estratégias para combater a anunciada falta de verbas que este ano vai atingir as entidades culturais madeirenses.
A ser verdade, a solução para viabilizar o projecto do TEF passa, adiantou Élvio Camacho, por menos produções anuais, por peças com menos actores em palco, pela aposta em clássicos, textos isentos de direitos de autor, e ainda pela contenção ao nível de cenários. Anualmente o grupo vem apresentando quatro espectáculos, dois deles para a infância e dois para o público adulto, mas aceita que o futuro tenha de passar por reduzir este volume, sem prejudicar a qualidade do trabalho apresentado. Uma das medidas mais duras é a redução do elenco, uma forma eficaz de cortar nas despesas que não é bem recebida nem pelos próprios responsáveis que ao longo dos últimos anos têm procurado fazer do teatro uma profissão viável na Região.
Quanto à opção de representar peças clássicas, é uma solução que não pode ser tornada regra, explicou o actor e encenador, actualmente a desempenhar o papel de Padre Miguel na telenovela 'Flor do Mar'.
Segundo o também director artístico, o TEF está disponível para fazer sacrifícios numa altura em que esta é a palavra de ordem na Cultura, mas não aceita no entanto a regressão do Teatro Experimental do Funchal para o nível amador: "Estamos há anos a tentar profissionalizar, não vamos prescindir do que conseguimos até agora".
Segundo Élvio Camacho, os valores ainda não foram anunciados. De qualquer forma, estão preparados para cortes drásticos e avisou: "Não se podem fazer milagres".
Desde 2006 que o TEF vem sendo apoiado anualmente em 150 mil euros. Se as despesas de investimentos da DRAC se reflectirem proporcionalmente nos valores transferidos para a companhia de teatro, serão menos 75 mil euros a entrar.
Em 2005, a companhia não recebeu qualquer apoio do Governo Regional e teve de recorrer à banca para poder trabalhar, um caminho que não está entre as soluções apontadas pelo TEF, que fechou 2008 sem quaisquer dívidas, anunciou o director artístico: "Não nos queremos meter nisso".

Bilheteira não é solução

Fazer produções à espera da bilheteira é sempre um risco. A próxima produção, por exemplo (ver notícia do lado) vai custar à companhia 20 mil euros, mas as vendas, mesmo que com salas cheias, atingirá, no melhor dos casos, 10 mil, pois nem todas as sessões esgotam e muitos lugares são vendidos com desconto de 50% aos estudantes e idosos. Aumentar o preço dos bilhetes, actualmente fixado em 10 euros para as produções apresentadas no Baltazar Dias, não é solução, dado o aperto em que as famílias vivem, desabafou. O encenador teme que as pessoas se afastem do espectáculo se praticarem outros preços.
Uma solução fácil passaria por recorrer a espectáculos mais comerciais ou polémicos, com algum nu, por exemplo pelo meio, um caminho que a companhia prefere não percorrer, apostando antes em "dar valor ao que tem valor", afirmou.
O director artístico acredita que se os cortes vierem não serão motivados pela falta de qualidade do trabalho que vêm desenvolvendo, a que se junta o rigor financeiro e a credibilidade: "Todos os anos entregamos um calhamaço de todo o tamanho que até ficam zonzos". Neste relatório anual, contam os projectos, os objectos, os números e as contas.

Comédia embalada em guerra e sexo

Aristófanes escreveu em 411 a.c. a comédia anti-guerra que o Teatro Experimental do Funchal estreia no dia 20 de Março no Baltazar Dias.
'A Greve de Sexo' foi encenado a partir de 'Lisístrata ou a Greve do Sexo', um clássico estudado e interpretado em todo o mundo, com temas sempre actuais, como a paz e a democracia, o amor à pátria e o preço da guerra. "Oriunda de uma época em que as mulheres não subiam ao palco, assim como não eram autorizadas entre o público do teatro, Lisístrata é um retrato de seu tempo e da civilização ocidental", refere o sítio na Internet da Livraria da Travessa.
Esta comédia grega conta a história de Lisístrata, uma ateniense que juntou as mulheres de Atenas e de Esparta e recorrendo à abstinência sexual obrigam os homens das duas facções rivais a acabar com a guerra que vinha há 20 anos vinha debilitado a Grécia, a economia do país e levando os filhos.
Lisístrata reúne as mulheres na Acrópole, onde estava depositado o tesouro ateniense que sustentava o conflito e é a partir dali, apostando no jogo de sedução, com avanços e recuos, tentam derrubar a resistência do 'inimigo'.
Os ensaios para a nova peça ainda não começaram, a equipa está a terminar a encenação de 'Aventura no Funchal', em cartaz no Cine Teatro de Santo António até ao dia 1 de Fevereiro.
Lisístrata, Calonice, Mirrina, três mulheres atenienses, Lampito, uma mulher de Esparta, o comissário, Prítane, que é representante da Assembleia Ateniense, Cinésias, o marido de Mirrina, o filho de Cinésias e Arauto Lacedemônio são as personagens principais, a que se juntam os coros Velhos de Atenas e o de Velhas de Atenas.
O número de elementos em palco pode variar muito, podendo mesmo ir as várias dezenas com a presença dos exércitos, o que certamente não vai acontecer nesta encenação do TEF. A quantidade e a atribuição dos papéis pelos actores ainda não está feita. Élvio Camacho, que vai encenar a peça, adianta apenas que deverá contar com Paula Erra, Patrícia Perneta e Dina de Vasconcelos.
A peça vai estar em cena até ao dia 29 de Março, com bilhetes a dez euros para o público em geral e a metade deste valor para os estudantes e idosos.

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