segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema (XXII)


Em tua honra preparei um fogo que fumega,
em tua honra consumei o sacrifício.
Oh, aquece-me os pés,
aquece-me o corpo, os membros, o espírito, a voz.

Afasta o encantamento, aquece-me, favorece-me, afasta o encantamento.
Arrancaste-o de mim, levaste-o para longe, para longe de mim.
E agora curo-me, recupero a força, recupero a frescura,
a frescura sobe-me à cabeça, a força.

Movo-me com movimentos novos, ouço com ouvidos novos, olho com olhos novos.
Caminho, livre do tormento caminho, com uma luz no coração caminho, felizmente caminho.
Quero abundância de nuvens sombrias,
quero abundância de erva,
abundância de pólen,
abundância de orvalho.

Que venha contigo até aos confins da terra o belo fermento branco,
que venham até aos confins da terra o belo fermento amarelo, o belo fermento azul,
o belo fermento de todas as espécies,
as plantas de todas as espécies,
os bens de todas as espécies,
as jóias de todas as espécies,
que venham contigo até aos confins da terra.

Que venham contigo à frente, atrás, por baixo, por cima, à volta, que venham contigo até
aos confins da terra.
Que se consume a obra.
Avanço dentro da beleza,
com a beleza à minha frente, sim, eu avanço,
com a beleza por trás das minhas costas, sim, eu avanço,
com a beleza por cima de mim e à minha volta, sim, eu avanço.
Em plena beleza tudo se consuma, sim, tudo se consuma, sim, eu avanço.


Poema da tradição oral dos indíos Navajos.
Versão de Herberto Helder.
In "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o futuro, edição Assírio & Alvim

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